Sol Miranda é protagonista de “Regra 34”, filme que explora liberdade e desejo
Foto: Elias Mast
Estreia nesta quinta-feira (19.01) nos cinemas o longa “Regra 34”, dirigido pela carioca Júlia Muratu, um novo drama que retrata a história de uma jovem advogada, interpretada pela atriz e também carioca Sol Miranda, que se divide, durante o dia, na atuação em prol das mulheres vítimas de violência doméstica e, à noite, fatura com a exposição de práticas sadomasoquistas na internet.
“Regra 34” ganhou, em 2022, o Leopardo de Ouro, prêmio máximo do Festival de Locarno, na Suíça; o prêmio de Melhor Direção de Ficção da Première Brasil, no Festival do Rio, e o Prêmio Especial do Júri na 43ª edição do Festival do Novo Cinema Latino-Americano de Havana.
O longa ainda recebeu, no Panorama Coisa de Cinema, a Menção Honrosa Longa e Prêmio Especial do Júri APC, e no Festival de Cinema Iberoamericano Huelva, na Espanha, o Prêmio AAMMA. A protagonista Sol levou o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema Iberoamericano Huelva, na Espanha, o prêmio de Melhor Interpretação no Festival Mix Brasil, além de uma menção especial no Festival des 3 Continents, realizado na França.
Para ela, o que mais importa é que o filme chegue no máximo de pessoas pretas e periféricas. “Eu quero que meninas que sonham, assim como eu sonhei muito, se vejam e tenham a certeza de que é, sim, possível. Morei em república, dividi quartos com rapazes… Tudo pelo sonho em me tornar atriz, aos 17 anos, quando saí de casa. Na época a condução para Brás de Pina (Zona Norte do Rio), o horário e o custo para deslocamento eram inviáveis para voltar para casa”, conta.
Nascida em 25 de julho, data em que se comemora o Dia Internacional da Mulher Negra Latina-Americana e Caribenha, Sol é cria da Favela Cinco Bocas, em Brás de Pina. Já viajou pelo Brasil e por cinco cidades da China com o espetáculo “Salinas (A Última Vértebra)”, que recebeu grandes premiações. É cofundadora da Cia Emú de Teatro. Em 2016, lançou o selo Emú, uma iniciativa que se desdobra na produtora Emú Produções Artísticas e Culturais e no Núcleo de Estudos Geracionais Sobre Raça, Artes, História e Religião – NEGRAHR (IFCS-UFRJ).
Sol também idealizadora do “Segunda Black”, projeto criado para articular artistas, pensadores e fazedores de artes negras, ao lado de Rodrigo França, Paulo Mattos, Reinaldo Júnior e Lucínio Januário. É nesse contexto que Sol vem se debruçando em projetos em torno de produção de artistas independentes e se colocando à disposição para colaborar, a partir da própria experiência e prática, para que outros artistas possam tornar suas ideias em projetos reais.
Mãe solo de Elton, de nove anos, músico e ator mirim, ela, que está com 32 anos, tem agora a chance de fazer seu primeiro filme, e que deve gerar polêmica. “‘Regra 34’ é sobre liberdade e desejo. É um filme sobre uma mulher que para pagar o cursinho e se tornar defensora pública, faz performances sexuais na internet. E após passar no concurso ela descobre que tem um desejo pela violência, e vai testando seus limites, até onde consegue ir, mas é sobretudo um filme para falar sobre essa liberdade e o desejo dessa mulher, sobre esse desejo do corpo, essa liberdade relacionada à sexualidade”, reflete.
Leia a seguir o papo que RG teve com Sol via Zoom.
Foto: Elias Mast
Como foi sua infância e adolescência na Favela Cinco Bocas?
Eu morei lá até meus 17 anos, depois retornei quando engravidei, e fiquei lá até os três anos do meu filho. Minha infância foi de muitas brincadeiras, cresci em um quintal com familiares, tias, primos, e como meus pais trabalhavam eu ficava com minha tia ou minha avó, que morava a algumas quadras de casa. Minha infância foi muito bonita, minha mãe sempre investiu muito nos meus estudos, ao mesmo tempo em que ela me dava liberdade para ser criança ela me dava um responsabilidade para com o futuro, ou seja, fui uma criança que sabia que tinha que estudar para ter um bom emprego, mas ela sempre incentivou o meu lado artístico, fiz aula de desenho, de balé, teatro, dança, música. A adolescência foi um pouco mais complicada porque é nesse período que eu começo a entender o que é uma favela de fato, eu fui estudar na Zona Sul e começo a ter uma visão mais real do território onde nasço, as dificuldades dali, e passo a entender as realidades que acontecem naquele local, sobretudo o poder paralelo com o estado, e começo a me entender como uma pessoa favelada. Essa coisa de crescer em um quintal era também um espaço de proteção, eu pouco brincava na rua. Minha mãe me criou muito dentro de casa, dentro desse âmbito familiar. Era muito difícil para a minha mãe, que é de outra geração, criar uma identidade racial, o entendimento da favela como potência.
Sua experiência em morar na comunidade te inspirou a ser atriz?
Então, a minha irmã era dançarina de funk, e eu cresci dentro de uma perspectiva artística favelada, onde a potência da favela era uma construção artística por si só. Eu cresci em um meio com muitos MCs, cantores de pagode, e foi muito por conta dessa minha irmã por parte de pai que eu me inspirei no processo artístico. O espaço da música e da dança eram muito presentes para mim, eu não era muito consciente, mas a favela é meu grande espaço de potência, onde crio minha construção artística, olho para a musicalidade, para os corpos, era o meu espaço cultural mais efetivo.
Você chegou a estudar teatro?
Eu saí de casa com 17 anos, antes disso fazia teatro na Igreja Católica, mas depois eu fiz Tablado, Martins Pena, fiz parte de uma companhia de teatro, a Casa do Amok, depois fiz alguns trabalhos com a companhia Favela Força, que é dirigida pelo Dadado.
Quando se torna atriz efetivamente?
Eu tenho certeza que foi com um projeto chamado “A Febre do Samba”, que era do Manoel Santos e tinha a coordenação artística da Wilma Melo, direção musica do Gabriel Moura. Ali é meu primeiro projeto artístico como atriz, onde começo a ganharvisibilidade foi com um espetáculo chamado “Salina ( A Última Vértebra)”, do Amok, e com esse espetáculo a gente roda o Brasil e vai para diversos lugares do mundo. Aí eu passo a construir uma narrativa artística minha com o grupo Emú, com o espetáculo “Mercedes”, que era sobre a primeira bailarina negra do Theatro Municipal do Rio. Ali de fato é onde eu começo a ter autonomia nas minhas construções. Mas eu acho que esses três projetos foram cruciais, “A Febre do Samba” me coloca no mercado, eu conheço as pessoas, o “Salina” me visibiliza como atriz e o “Mercedes” me permite criar a minha própria narrativa.
Sol Miranda em cena de “Regra 34” – Foto: Divulgação
Como você vai parar em “Regra 34”?
O “Regra”eu fui convidada pelo Gabriel Bortolini, que fez o casting e é diretor-assistente do filme. Em princípio eles me dizem que ele não fui aprovada, mas diziam isso por conta do medo de colocar um protagonista preta em uma história que aborda o desejo pela violência, o projeto de construção que a gente tem, as dificuldades, ser brasileira, esse tema eles tinham medo. Foram feitos testes com outras atrizes, mas a Simone, minha personagem, era para ser da Sol, e Sol da Simone.
Do que se trata o filme?
“Regra 34” é sobre liberdade e desejo. É um filme sobre uma mulher que para pagar o cursinho e se tornar defensora pública, faz performances sexuais na internet. E após passar no concurso ela descobre que tem um desejo pela violência, e vai testando seus limites, até onde consegue ir, mas é sobretudo um filme para falar sobre essa liberdade e o desejo dessa mulher, sobre esse desejo do corpo, essa liberdade relacionada à sexualidade.
Qual sua expectativa com o lançamento no Brasil?
Eu espero que o filme traga reflexões, que seja bem aceito e que as pessoas curtam.
Que reflexões?
Reflexões sobre conservadorismo, sobretudo no momento em que nós estamos vivendo, que limitam nossas ações. É um filme para falar sobre politivismo e antipolitivismo em uma sociedade onde o sistema penal é extremamente violento, onde tem um processo carcerário que todos os dias prende meninos pretos e favelados, é para também questionar esse sistema e ver até onde ele consegue cumprir um papel de ressocialização desses corpos que estão sendo colocados nesse sistema de carceragem. É um filme também muito importante para falar dos corpos que não são padrão, acho que o “Regra” fez eu me apaixonar por mim mesma, em uma sociedade onde ser mulher você tem que seguir determinados parâmetros, ele me faz pensar que eu posso ser amada por mim e por outras pessoas, mas, sobretudo, é um filme para se desejar. Espero que ela bata em outras mulheres e que possamos ampliar o amor por nós mesmas.
Acha que há mais chances atualmente para atores pretos periféricos?
Sim, sobretudo porque existe um movimento grande tanto negro como social para que pessoas pretas estejam em papéis de protagonismo ou de liderança. Também é muito importante ressaltar que a última pesquisa da Ancine (Agência Nacional do Cinema) mostra que o número de mulheres diretoras ou pretas com papéis de protagonismo era muito pequeno ao quantitativo de artistas negros que a gente tem. Mas também tem um projeto muito importante do Ministério do Trabalho com seu grupo de trabalho racial com uma política nas emissoras para que elas contratassem pessoas negras nos espaços de decisão, direção, roteiro etc. Acho que isso tudo é um grande acúmulo e debates de inclusão de política pública, de reparação histórica, isso tudo vem como um grande debate. A tecnologia tem ajudado muito nisso, o fato de a gente estar questionando, porque se a arte é uma reflexão da vida, é importante a gente refletir sobre essa construção racial que também está penetrada nos processos artísticos. O racismo é estrutural no Brasil, ele está em todas as camadas. Acho que a gente precisa de um processo que dê sequência, independentemente de determinados governantes, que a gente continue progredindo sempre. A gente precisa de projetos que sejam progressivos, que não estejam à mercê de desejos pessoais, mas que estejam sendo construídos com a sociedade.
Você acha que se houvesse um processo de preparação de pessoas negras no audiovisual essa representatividade seria mais presente?
Eu acho que o que falta muito para a gente é oportunidade. Tem muitos artistas que falam sobre as diferenças técnicas entre artistas pretos e artistas brancos… Quando você tem a possibilidade de estar sempre atuando, trabalhando, a possibilidade do erro, do risco, você tem possibilidade de ir se aprimorando tecnicamente. Então, se a gente tem oportunidade há a possibilidade desse processo de construção ser mais efetivo. Eu gostaria inclusive de falar de novo, eu não seria a protagonista desse filme. O Gabriel, que é um homem negro e o diretor-assistente pensa: “P or que não ter uma mulher negra no papel de protagonista? Por que não ter outros artistas negros compondo esse elenco?ö Acho que o “Regra” abre um pouco mais os nossos olhares para essas oportunidades.
Foto: Elias Mast
E a que você atribui a falta de oportunidade a pessoas pretas nesse mercado?
Primeiramente o racismo estrutural, e também os medos. O racismo coloca na gente diversas situações, então não pensam em colocar uma protagonista negra porque não é esse o imaginário que está socialmente falando, o medo porque nós temos nos colocado em um lugar de crítica mais constante, traz também para um ponto reflexivo sobre as narrativas desses corpos negros no audiovisual. Se hoje eu estou fazendo o meu primeiro filme… Eu tenho 17 anos de estrada como atriz, mas esse é meu primeiro projeto no audiovisual. Essa não é uma realidade para muitas amigas brancas minhas que vêm da mesma realidade que eu e estão no seu vigésimo, trigésimo filme. A gente precisa furar nossas bolhas, conhecer outros artistas, outras pessoas em outras funções.
Você está de retirada para uma inserção religiosa, do que se trata?
Eu vou me iniciar no candomblé, vou de fato assumir uma responsabilidade com o meu orixá, com a minha casa. E nesse momento em que as religiões de matrizes negras vêm sendo tão atacadas assumir esse compromisso e essa responsabilidade tem sido muito bonito, eu vou chorar agora… Logo depois do início das gravações do “Regra” eu adoeço, e a gente tem quase cinco meses de intervalo. Eu volto a gravar exatamente no momento em que as pessoas vão me iniciar nesse processo. O “Regra” foi para o mundo e eu estou indo para este momento, estou muito feliz.
Quanto tempo demora esse processo de iniciação no candomblé?
Meu pai gosta de dizer que o nosso tempo não é o mesmo que do orixá, então a gente sabe que são 21 dias, mas esses 21 dias vão virar um mês ou um pouquinho mais. Depois tem uns três meses de um momento mais sensível, quando continuamos tendo algumas obrigações. Mas eu acho que depois da iniciação esse é um projeto para a vida, vou continuar aprendendo para o resto da vida. A partir daqui vai ser um projeto eterno.
Terminando o seu processo espiritual, quais são os próximos planos?
Eu estou muito na expectativa de trabalhar como atriz, continuar fazendo o que tenho feito enquanto articulação política, porque somos ativistas, somos políticos por essência. Surgiram alguns convites para projetos de séries, mas acho que vai ser a partir dessa estreia [ de “Regra 34”] que as coisas vão realmente acontecer.
Você tem vontade de fazer TV aberta?
Eu tenho vontade de fazer tudo. Acho que como artista uma das coisas mais gostosas de se fazer é o desafio. A Júlia [Murat, diretora do “Regra 34”] sempre pedia para que nós fizéssemos várias cenas com diferentes emoções, triste, alegre, inquieta, amena etc. Isso como atriz foi muito bom, poder trabalhar com diferentes emoções. O que tiver para fazer eu quero, já fiz performance, fui artista de rua, que foi uma das coisas mais bonitas, porque você lida com a rua, com o inesperado, com coisas que não estão programadas. O Tablado foi muito importante para mim nesse sentido, essa construção do improviso. Mas eu tenho muita vontade de fazer TV aberta, ela permite que a gente tenha uma maior abrangência, consiga chegar a lugares inimagináveis, e seria aumentar a representatividade negra na TV. A gente sabe que nossos pais sempre perguntam “cadê você na TV”? Tem uma coisa do reconhecimento que é muito grande. Parece que o reconhecimento está ligado a isso, mas para nós, que estamos dentro da coisa, há outros motivos. Aindasobre a TV aberta, a possibilidade de fazer um trabalho como esse, para nós artistas, ainda é uma da poucas formas de remuneração regular, então trabalhar na TV aberta como atriz é a possibilidade de desafio como artista, mas é também a possibilidade de ter um trabalho com carteira assinada, pensar nesse ofício como profissão regularizada, os nossos direitos garantidos, é um debate um pouco mais profundo, que extrapola as questões artísticas, sobre esse lugar de segurança, a gente sonha muito com a possibilidade da TV aberta por conta dessa remuneração regular sem ter que se preocupar no final do mês como vai pagar o aluguel, por exemplo.
Você escreve também, Sol?
Eu escrevo, inclusive escrevi “Mercedes” com o Cássio Duque, que foi o dramaturgo nessa peça que entrou para a dramaturgia negra da Funarte (Fundação Nacional de Artes), e foi meu primeiro texto dramatúrgico. Fiz outros textos que não chegaram a virar peças, muita poesia. Eu sou formada em letras, e coordenei um núcleo de pesquisas por um tempo na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), tenho essa coisa muito forte com a escrita e a narrativa. Tenho muita vontade de escrever uma série, já é um sonho bem antigo.
Pensa em dirigir?
Penso. Eu dirigi um projeto pouco antes da pandemia, “Olhos D’água”, foi minha primeira direção e foi conjunta. Aí veio a pandemia, enfim, paramos. Mas no momento eu quero muito continuar no meu processo como atriz porque acho que ele vai me dar base para dirigir no futuro. Eu gosto muito de fazer preparação de ator, é algo que estou estudando.
Você já se aventurou na política…
Eu fui candidata a deputada federal nessas últimas eleições, a gente fez 11.427 votos pelo PSB (Partido Socialista Brasileiro). Eu era do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) e fui para o PSB para ampliar o debate, a gente tinha essa ideia de coligação de partidos, de retomada da esquerda, para fazer essa articulação política, para falar sobre cultura em um âmbito um pouco mais nacionalizado, para ter a cultura como um processo de construção social, cultura como identidade, falar inclusive sobre segurança pública, educação, saúde, sobre todos os aspectos que nos fazem seres humanos, como formação integral e como um direito. Às vezes a cultura é vista como um direito secundário, mas ele precisa ser resguardado e visto como prioridade para a nossa construção social. A minha entrada na política não foi uma escolha e veio muito forte depois do assassinato da Marielle Franco [em 14 de março de 2018, no crime morreu também o motorista Anderson Gomes]. E no período da pandemia, quando nós artistas estávamos totalmente à míngua, e muitos artistas de rua… Aí eu decidi vir para pautar a cultura efetiva para que a gente tivesse esse olhar mais amplo como sociedade.
Foto: Elias Mast
Como lida com as redes sociais, acha importante ter um posicionamento político-social?
Eu acho que cada um escolhe o que quer fazer da sua vida. As redes viraram um grande espelho de nós mesmos. Elas podem ser a construção de uma personagem ou ser você nua e crua. Para mim as redes são um espaço de debate, diálogo, construção. Por meio das redes eu consigo me comunicar com muitas pessoas, passar o que aprendi como aprender coisas das quais eu tenha pouco conhecimento ou conhecimento nenhum. O posicionamento político-social vem para mim de uma forma natural porque não tem como, você olha para mim e já é um posicionamento. Eu tenho um filho, que é um menino negro retinto, ele por si só já é um posicionamento. Então eu não vejo possibilidade hoje de encarar a rede social de outra perspectiva.
Como chama seu filho?
Elton, é um menino de nove anos que é músico e está se aventurando como ator também. Ele acabou de gravar seu primeiro filme, “A Bandida”, que deve ser lançado no final deste ano ou no ano que vem. Eu sou mãe solo, para o pai é difícil quando eu digo isso, mas eu sou mãe solo.
Como você cuida da beleza, se preocupa com isso?
Ah, eu tenho muita preocupação. Sou leonina, com ascendente em Leão… Eu todo dia faço a minha limpeza facial, uso os meus produtos, passo meu sérum, tomo colágeno todos os dias porque tenho uma questão que meu corpo não produz colágeno como ele deveria. Como eu danço desde a adolescência, também tenho uma preocupação com o corpo que se sobrepõe à questão estética, que é sobre saúde, e até para que eu tenha condições de me explorar como artista. Eu amo cuidar do meu rosto, da minha pele, do meu cabelo, o pessoal me chama de camaleoa, porque estou sempre mudando o meu cabelo.