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Peça em homenagem a Jorge Lafond estreia no Sesc Santana em São Paulo

“Jorge para sempre verão” é uma homenagem da autora a seu primo Jorge Laffond, ator e drag queen brasileiro que morreu em 2003 – Foto: Rai do Vale

Realizar um teatro de cura. Foi com este intuito que a produtora e autora Aline Mohamad resolveu abrir seus arquivos pessoais mais íntimos para desenvolver o espetáculo inédito “Jorge pra sempre verão”. Após o sucesso da temporada de estreia no Rio de Janeiro, o primeiro texto teatral da nova autora, desenvolvido em parceria com Diego do Subúrbio e surgido após ela escrever uma carta póstuma para seu primo, Jorge Lafond, chega aos palcos do Sesc Santana, em São Paulo, no dia 20 de janeiro às 20h.

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Dirigida por Rodrigo França, a história encenada por Alexandre Mitre, Aretha Sadick e Noemia Oliveira não fala apenas sobre o artista falecido aos 51 anos (1952-2003), mas apresenta uma ficção desenvolvida sobre uma história verídica: a da relação que, devido ao preconceito, deixou de existir entre ele e uma prima – a própria Aline.

“Depois dos 30 anos algumas coisas foram mudando em mim. Um dia, ao voltar de uma festa onde me vi atraída por uma travesti, escrevi uma carta que nunca seria entregue ao destinatário. Um pedido de desculpas, uma redenção, uma luz nas diversas encruzilhadas que eu tenho com meu primo Jorge Lafond. Muito emocionada, enviei essa carta para alguns amigos e, ao acordar, li as respostas: você tem uma linda peça nas mãos. E assim percebi que a única forma de eu encontrar com meu primo é através da arte”, relembra Aline, que ao longo de sua infância se esquivou de conhecer o primo pela estranha figura que ele lhe parecia.

Foto: Rodrigo França

“Fizemos uma reparação histórica, humanizando um dos maiores artistas deste país. Jorge Lafond passou por um grande dilema na história da televisão brasileira, que retrata o que é o país em relação à população negra e LGBTQIAP+. A violência de ter que sair do estúdio de TV para trocar de roupa, pois um padre entraria, nos mostra o quanto é cruel sermos nós mesmos. Pouco importa a sua titulação acadêmica, conta bancária, o que você é ou fez pela sociedade. Em algum momento tentarão te colocar no lugar que acreditam que você deva estar – na submissão”, reflete Rodrigo.

Apesar dos apontamentos sobre a realidade nada fácil vivida por Lafond, o texto tem pontos de respiro com base no humor, principal característica dos seus personagens. “O processo da escrita do texto veio muito da pesquisa sobre a vida do Jorge, que se encontra na mesma encruzilhada que a minha e de muitas outras pessoas negras LGBTQIAP+. É lembrar que, apesar de todo o processo de resistência que vivemos perante essa sociedade, não somos regidos somente pela dor. A figura de Jorge Lafond marcou uma geração, nos movendo até aqui. Falar dele é também falar sobre mim”, reconhece Diego do Subúrbio.

Foto: Rai do Vale

Nascido em Laranjeiras e criado na Penha, zona norte do Rio de Janeiro, o furacão Lafond disse certa vez numa entrevista que tinha consciência de ser gay desde os seis anos de idade, mas que por ser algo considerado muito feio naquela época, fez de tudo para que seus pais não descobrissem. Formou-se em teatro pela Uni-Rio e ainda em dança afro e balé clássico, tendo dançado com Mercedes Batista, a primeira bailarina negra a ser integrante do corpo de baile do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Foi, por fim, um ícone da representatividade negra e LGBTQIAP+.

“O movimento LGBTQIAP+ sempre foi encabeçado por pessoas pretas, como Marsha P. Johnson, uma mulher trans negra norte-americana que liderou a Rebelião de Stonewall, em 1969. E Jorge Lafond estimulou que muita gente tivesse coragem para externar aquilo que realmente é na vida. Estamos falando de um homem negro retinto, afeminado e com mais de dois metros de altura vestido de mulher na televisão brasileira. Mas óbvio que não foi fácil. Nele havia mais do que talento, havia estratégia inteligente”, observa Rodrigo.

A peça fica em cartaz de 20 de janeiro a 21 de fevereiro. Os ingressos custam R$ 12 (credencial plena), R$ 20 (meia entrada) e R$ 40 (inteira). Estão disponíveis neste site.

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