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Bete Coelho abre temporada 2023 do Teatro Unimed com “Molly-Bloom”

Foto: Matheus José Maria

O Teatro Unimed apresenta, a partir da sexta-feira, 27 de janeiro, o espetáculo “Molly-Bloom”, estrelado pela atriz Bete Coelho, que também assina a direção ao lado de Daniela Thomas e divide a cena com o ator Roberto Audio. Em nova montagem da Cia.BR116, o texto é formado pelas partes finais da obra “Ulysses”, de James Joyce, cuja primeira publicação fez 100 anos em 2022, uma espécie de post-scriptum de toda ação do clássico do autor irlandês.

“Molly-Bloom”, com tradução de Caetano W. Galindo e codireção de Gabriel Fernandes, é o fluxo ininterrupto e fascinante do pensamento da personagem, que nunca deixou de ser um desafio e uma tentação para leitores, críticos e, talvez acima de todos, para as atrizes. Os escritos de James Joyce assim como de outros autores concretos da literatura e dramaturgia mundial foram apresentados a Bete Coelho por Haroldo de Campos em saraus e eventos culturais. Desde então a atriz pensava em levar “Molly-Bloom” aos palcos.

Em cena, Leopold Bloom [Roberto Audio], icônico personagem da literatura mundial, retorna a sua casa após flanar por cerca de 16 horas pela cidade de Dublin, capital da Irlanda. Sua esposa, Molly Bloom [Bete Coelho], já está dormindo, ou finge estar. Ele, exausto, deita-se na cama com cautela para não acordá-la e cai no sono. Molly, então, parte para sua odisseia mental, singrando o mar de seus pensamentos. Entre travesseiros e fluidos líquidos e gasosos, navega as águas do passado, a infância em Gibraltar, seu pai, os enamoramentos, o primeiro beijo, o filho morto; navega as águas do presente, o casamento, o adultério, a barriga que está ficando grandinha, a conjectura de talvez parar com a cerveja no jantar, a filha; e as águas fascinantes e traiçoeiras da libido, do sexo, do proibido.

A atriz e diretora Bete Coelho explica que, em “Molly-Bloom”, a Cia.BR116 decidiu não encenar apenas o célebre monólogo final, desencaixando-o do livro como um fragmento isolado. “Optamos por incluir na montagem trechos do episódio anterior, onde Leopold Bloom, finalmente sozinho depois de um dia longo e cansativo, se prepara para entrar na cama com a esposa que, ele sabe, cometeu adultério naquele dia.”

Trata-se de um gesto aparentemente discreto, essa ligeira manipulação do texto que reconecta Molly e Bloom, mas com um efeito profundamente transformador. Trazer o final do capítulo anterior permite ao público conceber de maneira muito mais plena aquele mundo, aquelas pessoas e a integralidade do livro “Ulysses”. Bete Coelho também destaca o pensamento revolucionário da consciência e da sexualidade femininas presentes nas falas de Molly Bloom.

Para Galindo, que assina a tradução e a consultoria dramatúrgica de “Molly-Bloom”, “se a terceira parte do romance de Joyce trata da volta para casa, e nela finalmente vemos Bloom voltar ao seu ‘reino’ usurpado, mas ainda acolhedor, o que a encenação realiza ao reintegrar ao livro como um todo as famosas falas foi uma operação da mesma natureza: ela trouxe Molly, que passou todo aquele dia 16 de junho de 1904 sem sair do seu endereço, de certa forma de volta para ‘casa’, fazendo com que sua voz de novo converse com a do marido, fazendo com que a noite apareça novamente como sequência e inversão dos valores do dia, com que a lua surja, aos poucos, na medida em que o sol desaparece”.

Na encenação de “Molly-Bloom”, Daniela Thomas criou uma cenografia para que o público assista ao espetáculo como se lê a obra clássica de Joyce, de vários ângulos. O cenário multimídia é um convite para que a plateia esteja junto à cena, vendo pequenos detalhes da montagem. “A ideia é trazer a amplitude do livro para o palco oferecendo maneiras diferentes de olhar a mesma cena, sem induzir a uma única compreensão”, pontua Bete Coelho.

Teatro Unimed – Ed. Santos Augusta, Alameda Santos, 2.159, Jardins, São Paulo.

Temporada de 27 de janeiro a 26 de março.

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