Obra de André Vargas – Foto: @quemcala_naodorme
Até o dia 22 de fevereiro, o Atelier Sanitário, na Gamboa, recebe a exposição coletiva “Margens Plácidas”, onde são apresentados os trabalhos produzidos pelos residentes, além de obras dos dois artistas do atelier, com curadoria de Fernanda Lopes.
Nela, o visitante poderá conhecer quatro obras, que variam entre acrílicas sobre tecido, lambe-lambe, tinta de carimbo sobre algodão e um vídeo, do artista visual, poeta, compositor e educador André Vargas, graduado em Filosofia pela UFRJ, que trabalha na retomada de sua ancestralidade como forma de entender as bases das culturas linguísticas, religiosas, históricas e estéticas das brasilidades em que se insere.
“Meu projeto nessa residência é postular outra forma de contar a história da liberdade no Brasil, com protagonismo do povo negro na sua construção, investigando marcos no território da Gamboa e adjacências”, defende Vargas. Em fevereiro o artista fará uma apresentação do vídeo Rio de Lazareto seguido de debate.
Já a mineira, nascida em Ouro Preto, que vive no Rio Sara Mosli, graduada em artes visuais pela escola de Belas Artes da UFMG, mestra em Filosofia pela UFOP e doutoranda em Estudos Contemporâneos das Artes pela UFF, apresentará nove obras inspiradas nos panfletos políticos organizados no dossiê “Guerra das Penas: Panfletos Políticos da Independência” (1830-1823), em razão dos 200 anos da declaração da Independência do Brasil.
Sara trabalha com diferentes técnicas e materiais, explorando questões relacionadas à identidade e à narrativa histórica, limites da ficção e da realidade, memória e discurso histórico como criadores da subjetividade, entre outros. “Minha proposta para a Residência Artística do Atelier Sanitário consiste em selecionar alguns desses panfletos digitalizados, disponíveis na Biblioteca Nacional, sob domínio público, e ‘editar’ poeticamente seus dizeres de forma que se tornem uma pequena reflexão contemporânea das demandas sociais que nos acometem hoje, 200 anos depois da invenção da ideia de Brasil, vivendo em um contexto convulsivo onde o patriotismo têm excedido a realidade democrática conquistada a duras penas na nossa história (e ainda frágil)”, pondera a artista residente. No dia 21 de janeiro, sábado, a mineira apresentará a Oficina Fanzine.
Obra de Gisella V. Mello – Foto: Marcos Vinicius de Souza/@quemcala_nãodorme
A pesquisadora Gisella V. Mello, arquiteta e urbanista, turismóloga, bibliotecária e documentalista, apresentará cinco obras – quatro impressões de fotos em tecido com bordado em linha dourada, entre elas o Cemitério Inglês na Gamboa, a Vista da Praia da Gamboa além de um vídeo – com registros do bairro da Gamboa atual fazendo um paralelo com as pinturas da Gamboa do passado pertencentes à Coleção Geyer/Museu Imperial de Petrópolis. “Pretendo com minha pesquisa bibliográfica e documental identificar os locais que aparecem nas pinturas feitas pouco depois da Independência do Brasil que se encontram na Coleção Geyer, e mostrar como estão atualmente. O bairro da Gamboa figura neste repertório pictórico da coleção. Minha intenção, ao executar este trabalho, é demonstrar para a sociedade atual como foi a sociedade passada. É através do seu patrimônio cultural que uma sociedade evidencia-se”, ressalta a pesquisadora. No dia 14 de janeiro, às 17 horas, a pesquisadora receberá os interessados, no Atelier Sanitário para uma conversa sobre Gamboa, pela lente da Coleção Geyer, um contraponto com os dias atuais, em um desdobramento de seu tema de mestrado de Estudos Contemporâneos das Artes na UFF.
“Margens Plácidas” exibirá ainda obras dos artistas do Atelier Daniel Murgel e Leandro Barboza. Murgel traz uma obra inédita, a partir da pesquisa dos tipos de telhas coloniais – portuguesa, francesa, americana, romana – disponíveis no mercado de material de construção, ao redor do Morro da Providência. “O telhado simboliza abrigo e proteção, que entra em contradição com a invasão das terras brasileiras, principalmente pelos portugueses e franceses. Pretendo nesta caminhada, pesquisar os tipos de telhas disponíveis da região da Pequena África, para fazer um inventário dos telhados e projetar um monumento”, conclui o artista.
O restaurador e artista residente Barboza também criou uma obra inédita para a mostra. “Para a exposição da residência, apresentarei um “Pilar”, com todas as camadas construtivas expostas, dando continuidade à observação poética que faço do canteiro de obras, das técnicas empregadas na construção civil e da valorização do trabalho braçal, traçando um paralelo entre as estruturas que sustentam uma construção e a construção de uma república”, revela.
Todos os eventos são gratuitos, transmitidos pelas redes sociais do Atelier Sanitário e contarão com a presença da comunidade local e artística. “Um dos objetivos fundamentais deste projeto, é colaborar com a formação e desenvolvimento artístico e intelectual dos residentes, incentivando a crescente e necessária produção cultural contemporânea, não só da cidade, mas também do bairro da Gamboa e da região da Pequena África, reafirmando a importância dos projetos culturais da região”, celebram Muriel e Barboza. Os projetos contam com patrocínio do Governo do Estado, Secretaria de Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ2.