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RJ: “Órfãos” estreia segunda temporada no Teatro Glaucio Gill

Cena de “Órfãos”- Foto: Costa Blanca Films

Com extensa carreira internacional, a peça “Órfãos” (1983), que deu projeção ao roteirista e ator norte-americano Lyle Kessler como dramaturgo e lhe rendeu comparações a Tennessee Williams pela crítica especializada, reestreia no Rio de Janeiro. A idealização e coordenação artística do projeto é do ator, roteirista e produtor Lucas Drummond, que está em cena ao lado de Ernani Moraes e Rafael Queiroz. O espetáculo estreia segunda temporada no dia 14 de janeiro e fica em cartaz até 12 de fevereiro no Teatro Glaucio Gill, em Copacabana, com sessões aos sábados e domingos às 20h.

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O espetáculo de Kessler gira em torno dos irmãos Phillip (Drummond) e Treat (Queiroz), que vivem em um lugar abandonado e só têm um ao outro. Treat, o mais velho, comete furtos para sustentá-los. Já Phillip não sai de casa há anos. Até que eles conhecem Harold (Moraes), um homem mais velho que irá transformar suas vidas.

“Me apaixonei por essa peça desde que a li pela primeira vez, em 2018. É uma história linda sobre a luta do homem pela sobrevivência e, principalmente, sobre o amor, que às vezes é bruto, tóxico”, resume Drummond. “Meu personagem (Phillip) é criado pelo irmão mais velho, Treat (Queiroz), que bate carteira na rua para pôr o pão na mesa. Os dois só têm um ao outro. E por acreditar que tem uma alergia terrível à maioria das coisas, Phillip não sai de casa há anos. Então, toda a sua visão de mundo é baseada no que ele vê pela janela, pela TV e pelo que o irmão conta para ele. É um personagem extremamente sensível, poético e que tem uma imaginação incrível. Ele cria um mundo repleto de fantasia, que permite que ele viva, dentro de casa, um pouquinho dessa liberdade com a qual tanto sonha. Isso é o que mais me encanta nele”, revela Drummond, que convidou Fernando Philbert para dirigir a peça, realizando um antigo desejo de trabalhar com o diretor.

“Órfãos tem a natureza de uma fábula: dois meninos que vivem num lugar abandonado em uma grande cidade e, de repente, chega uma figura (Harold, Moraes) que vai ajudar, tentar dar um caminho e melhorar a vida dos dois, abrir horizontes. É o velho arquétipo do pai perdido, de alguém que surge para nos tirar de um lugar escuro”, analisa Philbert.

Para construir a encenação, carregada de uma tensão crescente que permeia a relação entre os três personagens, o diretor procurou imprimir o maior grau de verdade possível, especialmente em torno da crença de cada personagem em suas fantasias: “Eles precisam viver a crença naquilo que fantasiam, mais do que sonhar, é viver o sonho. Construir esses personagens está ligado a construir uma verdade, ainda que essa verdade seja sobre palavras e textos que pareçam estranhas, que não pareçam reais. Mas é muito importante que a verdade esteja presente ali, é isso que estabelece todo o jogo entre eles”, enfatiza Philbert.

No papel de Harold, o homem mais velho que transforma a vida dos dois jovens, Moraes destaca o desafio lançado pelo diretor para a composição de seu personagem: “Pela primeira vez em teatro, me deram um adjetivo para eu pesquisar, que é ‘elegante’. Normalmente, estou no universo dos ogros, dos malucos, dos torturadores, e o Phil está puxando isso de mim, que é fazer um personagem elegante, sem esforço, calmo, falando com a voz normal. Para quem me conhece como ator, sabe que eu transito muito no outro lado. Está sendo muito desafiador”.

Queiroz concorda: “Fernando tirou a gente da zona de segurança, onde a gente transita bem, tirou nossa base, desestruturou para reestruturar da maneira que ele quer e que sabe que vai ter o melhor resultado. É desafiador, mas ele é preciso, estica a corda até onde sabe que é possível”.

O cenário assinado por Natalia Lana reforça o abandono que caracteriza os irmãos órfãos, vivendo de forma precária em um apartamento decadente. Mesas, cadeiras e objetos variados evocam lembranças, reais ou não, especialmente em Phillip, que passa todo o tempo confinado. E são as janelas, que rodeiam todo o cenário, que fazem a ponte entre o mundo imaginário de Phillip e o mundo exterior.

A trilha original está a cargo do diretor musical Marcelo Alonso Neves: “Há duas linhas distintas que desenvolvo no espetáculo. Primeiro, quis buscar a memória de uma época, em cima de áudios históricos de programas de televisão, de filmes de cinema. Além disso, vai ter uma parte de trilha incidental, para criar essas atmosferas, permear momentos de tensão e emoção”, resume.

A figurinista Rocio Moure pensou o conceito do figurino a partir de ícones representativos do momento em que os personagens estão inseridos na história, através de silhuetas e peças de roupa clássicas e bem definidas, inspiradas no cinema e na cultura da época: “Procurei marcar a diferença clara do encontro entre as gerações dos três personagens, levando toques de personalidade para cada um deles com objetos de indumentária que destacam a diferença nos detalhes”, diz.

“Órfãos” é o terceiro projeto teatral de Drummond em parceria com o amigo de longa data Bruno Mariozz, diretor de produção à frente da Palavra Z, realizadora da peça. Antes, os dois já haviam criado e produzido o espetáculo adulto “Tudo o que há Flora (2016-19), com direção de Daniel Herz, e o musical infantojuvenil O Pescador e a Estrela” (2020-22), escrito por Drummond e por Thiago Marinho e dirigido por Karen Acioly.

Montada originalmente há quase 40 anos, “Órfãos” tem premiada trajetória nos EUA e em dezenas de países, entre eles França, Alemanha, Estônia, México, Japão e Turquia. Em 1985, foi dirigida pelo também ator Gary Sinise e, na versão inglesa de 1986, rendeu a Albert Finney o Olivier Award de Ator do Ano. A montagem norte-americana mais recente, produzida na Broadway, em 2013, foi estrelada por Alec Baldwin e indicada ao Tony Awards na categoria Melhor Peça. A história ganhou as telas de cinema em 1987, no longa dirigido por Alan J. Pakula e protagonizado por Albert Finney, Matthew Modine e Kevin Anderson.

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