Cultura

Atriz e cineasta Vitória Vasconcellos retorna ao Brasil com produções inéditas

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Vitória Vasconcellos – Foto: Keenan Orrange

A atriz e cineasta Vitória Vasconcellos retornou ao Brasil com “Solum”, filme que escreveu, dirigiu e protagonizou durante a pandemia. A produção foi um dos destaques do Cine PE – Festival Audiovisual, se tornando o maior vencedor da categoria, com quatro prêmios, entre eles “Melhor Roteiro”, “Melhor Edição”, “Melhor Fotografia”, e o mais emocionante, o de “Melhor Curta Pernambucano no Júri Popular”.

Ser escolhida pelo público é algo muito especial, porque mostra que nosso trabalho teve um significado e fez a diferença na vida das pessoas. A pandemia foi um período de solidão autoimposta, que me fez pensar em como dependemos da conexão humana para sermos nós mesmos. Que talvez a essência da existência em si, é a coletividade. Eu queria traduzir esse período de frustração fazendo um filme subjetivo, que dialogasse com as consequências desse isolamento na alma de uma pessoa introvertida que não domina a linguagem da sociedade. Alguém que quer fazer parte, mas não consegue sair da margem, ser ‘normal’”, explica.

A trama acompanha uma garota solitária com tendências peculiares que descobre um corpo numa floresta, criando uma fantasia que pode preencher sua vida vazia, mas também levar a sua própria ruína. De gênero fantástico, a produção usa referências do cinema fantasioso de Guilhermo Del Touro.

“Eu considero que nosso filme é uma espécie de homenagem a ele, que me mostrou um jeito de entender a crueldade do mundo por meio da magia do cinema. Buscamos utilizar de um simbolismo e uma audácia visual semelhante ao que vemos em obras como ‘O Labirinto do Fauno’ e ‘A Forma da Água’”, acrescenta.

Assim como suas obras, a vida da pernambucana é digna de um roteiro. Saiu do País ainda cedo, com o sonho de fazer cinema e decidiu pela University of Southern California (USC), reconhecida como a melhor do mundo na área, formando nomes como George Lucas e John Carpenter. Entretanto, um acontecimento inesperado quase colocou tudo a perder: em 2018, quando gravava um de seus primeiros projetos, foi atropelada por um carro no set de filmagens.

“Foi um momento de incerteza no qual tive que reaprender a andar. O curta que fiz nesse período foi o renascimento do meu amor pelo cinema, pela vida, e a confirmação de que é por meio da arte que eu posso contribuir para o mundo. ‘Pathei Mathos’ fala da experiência de estresse pós traumático, e foi exibido em mais de 30 festivais ao redor do mundo, sendo selecionado para o mercado do Festival de Cannes. O filme está disponível gratuitamente na FilmShortage, plataforma exclusiva para curta-metragens.”

Vitória Vasconcellos – Foto: Keenan Orrange

Em 2021, foi uma das cineastas emergentes selecionadas para o laboratório de desenvolvimento do Festival Internacional de Cinema de Toronto (TIFF), um dos mais importantes do mundo. Durante o processo, realizou seu terceiro filme, “Bleed, Don’t Die” (“Sangra, Não Morre”), e foi agraciada com o prêmio TIFF Canadá Goose Share Her Journey.

“É um curta distópico focado em duas irmãs que tentam consertar seu relacionamento conflituoso no dia em que um apocalipse vai destruir o mundo. Terminamos de gravar recentemente, e estamos planejando os próximos passos, inscrevendo-o em festivais. A expectativa é estrear nos próximos meses”, conta.

Fora das câmeras, Vitória escreveu, dirigiu e protagonizou o monólogo teatral “Clarice e o Significado de Tudo”, que retrata os três dias de coma da escritora Clarice Lispector, após um incêndio em sua casa. O espetáculo foi realizado em Los Angeles (EUA), e adquirido pela Portela Produções do Brasil. Atualmente, a atriz trabalha em uma adaptação para os teatros nacionais, que será produzida em parceria com Adriano Portela.

“A peça foi feita como um projeto de conclusão de curso no Conservatório Stella Adler. A proposta era escolher um artista que tem influenciado minha jornada e a resposta foi imediata: Clarice. Passei a infância lendo os seus contos e sempre senti uma conexão muito forte com sua busca pela essência das coisas. De certa forma, é pela lente da sua obra que aprendi a ver o mundo. A nova versão deverá ter uma hora de duração, e estrear em recife em 2023”, finaliza.

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