Luana Xavier está por toda parte – ainda bem. É um fenômeno nas redes sociais. Na TV, apresenta o programa “Saia Justa”, do GNT, ao lado de nomes como Sabrina Sato, Astrid Fontenelle e Larissa Luz. Está no streaming com “Sessão de Terapia”, do Globoplay, e prestes a estrear a série “Novela”, do Prime Video, com Miguel Falabella.
O melhor de tudo é que esse é só o começo, já que ela não pretende parar por aí. “Eu espero que chegue um momento em que o público das redes sociais, TV, cinema e streaming diga assim: ‘A gente tá vendo Luana toda hora, tá até repetitivo!”, brinca. “Quero ter muita coisa boa para mostrar no meu trabalho.”
E ela tem, em todos os sentidos. Com seu carisma e sorriso contagiante, ela diverte o público, mas também o faz refletir sobre assuntos difíceis, como gordofobia e solidão da mulher negra. “Comecei a falar sobre isso porque senti necessidade. Pensei que eu não podia guardar esse assunto para mim. Precisava falar publicamente porque imaginava que outras pessoas também passariam por situações parecidas”, conta em entrevista ao RG.
No papo, ela ainda fala sobre a influência de sua avó, a atriz e produtora Chica Xavier, que abriu caminhos para mulheres negras no meio artístico. Também dá detalhes sobre sua participação no programa “Saia Justa” e compartilha suas dicas de autocuidado em meio à frequente toxicidade das redes sociais.
RG – Você tem uma plataforma na internet onde muitas pessoas te acompanham e agora está em um dos maiores programas da TV brasileira (o “Saia Justa”). Pode contar como foi sua trajetória até aqui?
Existe uma vida da Luana pré-“Saia Justa” e uma pós. Antes, eu antes fazia meus conteúdos para a internet e tinha um alcance legal, principalmente de pessoas pretas ou que estão procurando conteúdos ligados à negritude, pessoas que querem aprender mais sobre o assunto, se inteirar mais de como podem ser antirracistas na prática.
Mas estar no “Saia Justa” me projetou para um público muito maior. Foi aquele momento de começar a ser reconhecida nas ruas, literalmente. As pessoas me pararem e dizerem: “Meu Deus, você é apresentadora daquele programa do GNT que a gente ama”. Tem essa importância que o próprio programa já criou. O “Saia Justa” é o programa mais longevo da TV fechada, um programa feminino e que a cada mudança de elenco traz um frescor, traz novas narrativas. Então, sem duvidas, estar ali é uma honra muito grande e tem contribuído positivamente para a minha imagem, para construção da minha imagem, carreira e trajetória.
RG – O que mudou depois do programa?
A primeira coisa que mudou é que passei a ter um salário. Para a gente que é autônomo, ter um salario é uma coisa que faz muita diferença. Quero falar realmente sobre isso porque as vezes a gente fica com medo de falar sobre dinheiro. Mas eu saber exatamente que todo mês vai cair aquele dinheiro na minha conta me dá um pouco mais de tranquilidade. Saber que vou poder pagar os boletos, que vou poder cumprir com os compromissos que eu fiz com minha família, por exemplo.
A segunda coisa é que fez mexer muito com meu intelecto. Toda semana a gente tem minimamente três temas para falar, debater. Faz com que eu leia mais, que eu aumente minha capacidade de construir discursos, narrativas. Mexer com intelecto é sempre muito bom, ainda mais eu que estou há algum tempo afastada de estudo, da faculdade, da academia. Me formei em serviço social em 2017 e desde então não voltei a estudar mesmo. Então, o “Saia Justa” faz isso, faz com que eu tenha que estudar toda semana e isso amplia horizontes.
A terceira coisa é conhecer e poder trabalhar com mulheres tão incríveis e que trazem histórias e trajetórias distintas e isso soma muito para a minha vida. Estar sentada ao lado de Larissa Luz, Sabrina Sato, Astrid Fontenelle e mais uma equipe formada majoritariamente por mulheres tem sido muito importante. A quarta coisa é reconhecimento do meu trabalho, e isso não está ligado necessariamente à fama, mas ao fato de as pessoas se sentirem representadas com a minha presença e contempladas com determinado discurso meu. Isso me deixa imensamente feliz.
RG – De que forma sua avó Chica Xavier influenciou sua paixão pela arte?
A minha vó Chica é minha influencia da vida. Eu acho que minha avó ocupa esse papel de influenciadora desde antes deste termo se tornar tão comum. Ela é uma das precursoras da arte na televisão feita por pessoas pretas. Minha avó é uma mulher que começou no teatro, depois foi para a TV e construiu uma carreira muito sólida, que fez com que ela fosse conhecida inclusive fora do País. Muitas novelas que ela fez foram transmitidas fora do Brasil.
Uma das maiores influências que carrego dela na atuação é o fato de que todas as novelas que ela fez sempre tiveram esse ar maternal, essa força da mulher e essa altivez. Acho que isso me inspira muito e me faz pensar na construção dos meus personagens a partir daí. Mulheres pretas, que mesmo que exerçam papéis que coloquem a gente no lugar de subalternidade – a gente sabe que isso ainda acontece muito -, mostrem nossa força e essa altivez. Gosto muito dessa palavra, altivez. É uma característica que sempre vi nos personagens e sempre tento trazes para os meus também.
RG – Quais as melhores coisas que você carrega dela de herança?
As maiores coisas que carrego de herança da minha avó são amor e fé. Essas duas palavrinhas sempre foram muito fortes na vida da minha avó, ela sempre usou como um slogan. A cada aniversário dela a gente renovava essa frase. “Chica Xaiver, 70 anos de amor e fé; Chica Xavier, 80 anos de amor e fé.” Quando ela partiu para Orum, a gente transfomrou essa frase para “Chica Xavier, um infinito de amor e fé”. Porque ela faleceu aos 88 anos, no dia 8 de agosto (mês 8), e 8 é o número que simboliza o infinito. O maior legado é colocar amor e fé em tudo que faço na vida.
RG – Como foi o momento em que você decidiu falar sobre assuntos como a solidão da mulher negra e gordofobia na internet?
Comecei a falar sobre isso porque senti necessidade. Os momentos em que eu passei por essas situações, por vivenciar solidão da mulher negra, passar por situações gordofóbicas em todos os espaços que eu ocupo, eu pensei que não podia guardar esse assunto para mim, falar só em espaços íntimos, particulares, na terapia. Eu precisava falar publicamente porque imaginava que outras pessoas também passariam por situações parecidas e que eu pudesse de alguma forma ser porta-voz.
Principalmente quando a gente está falando de pessoas pretas, ou como a jornalista Flávia Oliveira disse, “maiorias minorizadas”. Quando a gente fala desse público, das maiorias minorizadas, não é que elas não tenham voz, mas elas precisam de espaços que suas vozes possam ecoar, então comecei a usar minhas redes sociais como esse espaço para que outras vozes pudessem ecoar através do meu discurso. Foi uma questão de necessidade de colocar para fora.
RG – Alguma vez você ficou com receio de compartilhar suas experiências nas redes sociais? A internet pode ser um lugar muito tóxico.
Nossa, não só já tive muito medo de compartilhar coisas na internet, minhas experiências, como continuo tendo. Hoje m dia pondero muito mais, antes eu era muito mais explosiva. Eu passava por alguma situação racista e já queria expor e falar sobre na mesma hora. Hoje em dia eu dou uma amadurecida, entendo se aquele assunto em específico vale a pena falar logo de supetão ou se é melhor eu digerir um pouco mais para poder ter um discurso mais contundente. Em muitas situações, a gente recebe acolhimento, mas também muito ataque. Isso mexe demais com a nossa saúde mental, então é importante colocar numa balança e entender qual luta, qual briga vale a pena a gente entrar.
RG – Como você consegue preservar sua saúde mental?
Eu sou catequista de terapia. Terapia é meu principal caminho para cuidar minha saúde mental. Posso cancelar mil compromissos mas me esforço muito para não cancelar a terapia. A outra forma bem importante que tenho para cuidar da minha saúde mental é minha fé. Quando esta tudo muito pesado, é no meu terreiro que me refugio. Digo sempre que não existe melhor religião, é aquela que te contempla, então que cada um escolha seu caminho de crença. Você pode ter fé não necessariamente num santo, numa religião, mas no universo, na natureza, acho que isso transcende faz a gente ampliar nossos horizontes.
RG – Quais são seus principais projetos profissionais para 2023? E pessoais? Os que você quiser compartilhar, claro.
Eu aprendi que a gente tem que deixar guardadinho nossos maiores objetivos sonhos e planos porque as vezes vêm umas energias meio atravessadas podem atrapalhar o percurso, então vou deixar em segredo por enquanto. Mas tem coisas que não estão em segredo e que estão para estrear. Vai ser muito incrível. A série “Novela”, da Amazon, em que eu faço uma dupla com o tio Miguel, o Miguel Falabella, que faz parte da minha vida desde sempre. É uma comediazona com um elenco maravilhoso. Monica Iozzi, Suzy Rêgo, Ary França, Maria Bopp. Eu tenho certeza que a galera vai amar.
Eu espero que chegue um momento que o público das redes sociais, TV, cinema, streaming diga assim: “A gente tá vendo a Luana toda hora, tá ate repetitivo”. Porque eu quero ter muita coisa boa para mostrar no meu trabalho como apresentadora, atriz, criadora de conteúdo. Tudo isso faz parte da Luana Xavier de hoje, que vai entrar em 2023 cheia de gás para construir muito mais coisas, botar mais alguns tijolinhos nessa carreira que tem trazido tantas alegrias para a minha vida.
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