Top

Sucesso em “Todas as Flores”, Barbara Reis vê que a representatividade preta no audiovisual ainda tem muito a caminhar

Foto: @priscilanicheli_ph / Styling: @samantha_szczerb / Beleza: @yago_maia_

Ela vem brilhando com sua personagem na novela “Todas as Flores”, do Globoplay, não só pela complexidade de Débora, papel que interpreta, mas por seu talento e sagacidade. Barbara Reis é do tipo de atriz que você assiste uma vez e quer mais, ela incorpora a arte assim como vive para ela. Nascida e crescida no Méier, bairro da Zona Norte Rio onde ainda vive e se orgulha de estar lá, Barbara diz que o bairro lhe proporciona tudo o que precisa, além estar a 25 minutos de carro da TV Globo, o que é uma facilidade comparando se morasse na Zona Sul.

Sua carreira, como diz, começou de forma intuitiva e da visão que sua escola teve a respeito de suas aptidões. “Na verdade foi muito intuitivo e muito sem querer, mas eu sempre digo que teve um incentivo muito grande da escola, tudo o que havia de teatro e representação eu sempre estava dentro, embora não fosse a mais extrovertida das crianças, mas eu me envolvia em tudo.” 

Barbara conta que o fato de sua irmã cursar interpretação foi um estímulo e tanto para ela se desenvolver na carreira. “Minha irmã fazia teatro em um escola profissionalizante, então, com 12 anos, decidi seguir o mesmo caminho, depois que ela nos chamou para assistir a uma apresentação de fim de ano. Na peça tinha gente com o peito deu fora e tal, eu fiquei encantada com aquilo, sobretudo pela educação que a gente recebe, que menina tem de ficar com as pernas fechadas, tem toda uma linha de comportamento. Hoje eu consigo entender e fazer essa correlação do que é o teatro, mas quando eu era pequena apenas gostei de ver que podia fica com o peito de fora (risos).”

Foi então que ela disse ao meu pai que queria fazer a mesma escola que sua minha irmã fazia, e passados alguns meses, ele a matriculou no curso de teatro, só que para crianças, e era a CAL (Casa das Artes de Laranjeiras). Com 15 anos foi para o Tablado, estava sempre de olho quais eram os lugares que faziam um burburinho na área teatral e ia se matriculando. 

Com 18 anos, optou por fazer o curso profissionalizante na CAL, e lá se formou, depois disso não parou mais, começou a fazer testes e se envolver cada vez mais na carreira.

Foto: @priscilanicheli_ph / Styling: @samantha_szczerb / Beleza: @yago_maia_

Além de muito teatro, ela fez inúmeros papéis na TV, o que a alçou a outro patamar de visibilidade. Fez “Velho Chico”, “Os Dias Era Assim”, “Falas Negras”, da TV Globo, “Impuros”, da Star+, “Jesus”, da Record TV, e outros trabalhos. Sua presença na tela e no audiovisual se tornaram uma constante, e sempre com destaque para sua qualidade de interpretação. Aliás, sobre a presença preta no audiovisual, Barbara acredita que ainda tem muito a caminhar. “Ah, com certeza, o movimento nesse sentido ainda é pequeno, sabe? Ainda é embrionário, está começando, o que já é uma grande mudança, mas precisa caminhar muito.”

Leia a seguir entrevista que RG fez com a atriz via Zoom.

Qual foi seu primeiro papel no audiovisual?

Eu me formei em 2010, e comecei a trabalhar na televisão em 2015, eu fiz a minissérie “Dois Irmãos”, da TV Globo, como elenco de apoio. Depois disso fiz duas novelas na mesma emissora e, em 2018, fui para a Record TV para fazer a novela “Jesus”, em seguida fiz série na FOX, aí voltei para a Globo para fazer “Éramos Seis”. Durante a pandemia também gravei especiais para a TV Globo e duas temporadas de “Sob Pressão”. Gravei uma série na Amazon Prime Video como protagonista, que vai estrear em abril, “O Negociador”, onde contraceno com o Malvino Salvador. Essa série aborda o GATE (Grupo de Ações Táticas da Polícia Militar do Estado de São Paulo). É sobre um casal parceiro de trabalho que mostra a relação de hierarquia entre os dois, porque ela, eu, no caso, sou de uma patente superior a dele, e ela é muito pragmática, quer fazer tudo como rege o regimento, enquanto ele é de achar que de um jeito dele próprio as coisas vão dar certo. Agora estou em “Todas as Flores”, do Globoplay. É isso, desde que comecei nunca parei de trabalhar. 

Conte sobre a Débora, sua personagem em “Todas as Flores”.

A Débora é um mulherão, que é muito sensual, bonita, atraente, e ela se utiliza desses artifícios para não ser descoberta, porque percebida ela sempre vai ser, mas não vão imaginar o que ela realmente faz. Ela está à frente da organização enquanto o marido está preso. Mas eu acredito que a vontade que ela tem é de tomar a frente da coisa toda. Hoje ela é o braço direito, mas ela pretende ser a imagem central da organização. 

E como você tem sentido a receptividade do público com a sua personagem?

Então, eu sinto que muita gente gosta, muita mesmo, tenho recebido muitos elogios das pessoas que assistem, mas há uma parcela mínima que não gosta. Acho que o fato de ela mostrar sempre sua sensualidade incomoda um pouco, e as pessoas não entendem que ela faz isso para chegar a algum lugar. As pessoas até falam que parece que ela está no cio o tempo todo, mas não é, são os artifícios dela para conseguir o que quer. Eu não me apego aos comentários, porque as pessoas, às vezes, fazem uma ideia do interpretar mais enfeitada, mais canastra, e eu faço uma interpretação mais clean.

Tem também “21 Mão Pra Cabeça”.

Sim, é um filme que eu gravei e que tem como pano de fundo a chacina da Candelária, mas gravamos tudo em Cabo Frio. Foi um filme que eu ganhei um prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, e olha que eu nem assisti a esse filme, porque a estreia foi em Cabo Frio, e eu não consegui ir porque estava gravando “Éramos Seis”, mas se ganhamos o prêmio é porque deve estar bom.

Foto: @priscilanicheli_ph / Styling: @samantha_szczerb / Beleza: @yago_maia_

Fale sobre “Falas Negras”, foi incrível participar desse projeto?

Foi, até porque foi um divisor de águas nessa questão do ator preto na televisão, e não só isso, por conta da barbáries que estavam acontecendo sobre racismo, então foi um projeto que fiquei muito feliz de ter participado. E como era um especial do Dia Da Consciência Negra… É tudo o que a gente quer, ver nosso espaço reconhecido em uma data tão importante. E eu fiz a Rosa Parks, que era uma ativista dos direitos civis nos Estados Unidos, na época do Apartheid, quando negros e brancos não podiam ficar no mesmo lugar. E ela desafiou o sistema, quando se senta na parte dianteira de um ônibus, que então era destinada aos brancos, e foi presa e tal. Então foi muito importante ter feito essa personagem na TV Globo em um especial nessa data.

Acha que o audiovisual tem muito a caminhar ainda quando falamos de personagens pretos?

Ah, com certeza, o movimento nesse sentido ainda é pequeno, sabe? Ainda é embrionário, está começando, o que já é uma grande mudança, mas precisa caminhar muito. A desigualdade social e educacional ainda é muito grande. Nós estamos em todos os lugares, advogados médicos, artistas… Mas para um preto fazer uma faculdade de medicina ainda é muito gritante. Outro dia eu estava em um consultório de ortopedia, e comemorei quando vi um preto de jaleco, achando que ele era um médico. Mas depois descobri que ele era o enfermeiro, então tem isso, o nosso lugar ainda está restrito. Tudo bem que era enfermeiro, está tudo certo, mas não era médico como eu imaginei. 

Quais são os próximos projetos para 2023?

Bem, em abril vamos gravar a segunda parte de “Todas as Flores”, tem a série da Amazon Prime Video e de resto vamos ver o que vai aparecendo. Tem um filme meu que eu quero rodar também. Outra coisa é que adoraria voltar para o teatro, mas algo que passe uma mensagem que eu realmente esteja a fim de falar, de transmitir.  

Foto: @priscilanicheli_ph / Styling: @samantha_szczerb / Beleza: @yago_maia_

Você é ligada em moda?

Sou sim, eu gosto de estar bem vestida, gosto de me maquiar, de saber as tendências de cores, que roupa vou usar para tal evento. Gosto de ser prática, ter peças-chave, um vestido preto, um terninho, gosto sim de moda.

Como cuida da beleza?

Eu faço o básico, né? Porque dizem que depois dos 30 a gente tem que começar a fazer. Faço skincare, passo meus creminhos, protetor solar, cuido da alimentação, eu mesma que faço minha comida. Sempre me programo para comer em casa antes de sair e evitar comer besteiras na rua. Vou para a academia todos os dias, às vezes, sábado e domingo também. Mas eu não me culpo não, se tiver que comer uma pizza, eu como, aliás, eu adoro pizza, é o pecado da minha vida, assim como bolo de aniversário. 

Como você lida com as redes sociais?

Eu vejo mais do que posto. Eu compartilho muitas coisas, mais do que eu propriamente apareça. Prefiro informar mais, obviamente checando as fontes, do que aparecer, eu apareço bem pouco. Gosto de manter o fator surpresa, porque quando você não aparece muito e de repente está lá, desperta a curiosidade das pessoas em saberem o que é aquela postagem que você apareceu.

Mais de Cultura