“Silêncio Elétrico” é o título do primeiro álbum de Tolentino – Foto: Gu Delgado
Que é difícil ser artista no Brasil não é novidade para ninguém. Que ser artista independente adiciona dificuldade quase ao nível do impossível também não. Mas o cantor, compositor e produtor Tolentino mostra que desafia as regras e brinca com as possibilidades em seu álbum de estreia, “Silêncio Elétrico”, lançado nesta sexta-feira (16.12).
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“É um disco sobre nunca querer perder o fogo no olhar que a gente tem na adolescência. Ter paixões obsessivas e sonhos gigantes é uma parte de mim que tenho aprendido a domar, mas nunca quero deixar de ter por perto. Porque é só assim que me sinto feliz… sendo um pouquinho impulsivo. E as faixas registram tudo isso”, explica.
Tomara que essa parte de sua personalidade nunca seja domada completamente, porque nada melhor para a composição de músicas do que a intensidade – e seu talento para a escrita fica óbvio nas oito faixas. A sinceridade é deliciosa e o jogo de palavras é esperto. “Tudo que eu penso sobre poder e inocência são minhas formas preferidas de pornô”, diz a faixa de abertura, “Elétrico”. Em outras palavras, “nada me dá mais tesão do que estar mais perto de quem quero ser”, afirma o artista em entrevista ao RG.
Seu álbum fala exatamente sobre isso, esse período da vida em que ainda não somos exatamente quem gostaríamos de ser, mas encontramos a felicidade na busca – e no fato de que, bom, ao menos já não somos mais aquela versão de antes para a qual olhamos com certa vergonha alheia de nós mesmos. O momento em que encaramos orgulhosos o que vem pela frente e decidimos manter a chama impulsiva da adolescência – mas, dessa vez, com decisões melhores.
Para usar a palavra da moda, o storytelling de Tolentino é cativante. “Pop é sempre o que mais me inspira. Poder contar uma história em menos de 3 minutos de um jeito que todo mundo entenda é uma forma de arte pra mim.”
A produção das faixas surpreende pela qualidade. Se eu escutasse sem saber que era o primeiro álbum de um artista independente – leia-se, com poucos recursos – jamais acreditaria que fosse o caso. “Todas as faixas do disco são coproduzidas por mim”, conta Tolentino.
“Eu comecei a estudar produção musical sozinho na internet quando tinha uns 14 anos. Passava a tarde no GarageBand refazendo os instrumentais do ‘1989’ da Taylor [Swift]. Não venho de uma família musical ou com muitos recursos, então meu caminho até aqui tem sido bem confuso (risos). Me formei em Audiovisual, porque queria conseguir dinheiro pra viver minha vida e investir na música. E aprendi a fazer fotos e clipes no caminho desse curso, o que foi muito útil.”
Em se tratando de um álbum sobre sentir muito, é claro que a produção não poderia ser diferente. (Ninguém te contou? O maximalismo está em alta.) “Desde o dia um da produção, eu sabia que queria fazer um disco que não soasse minimalista. Que tivesse mil detalhes e camadas, que expressassem as idas e vindas de tudo na minha cabeça. De tudo que eu senti nesses dois últimos anos buscando a felicidade.”
Sabendo que o solo para a produção artística independente no Brasil não é dos mais férteis, é razoável dizer que fazer um álbum com a qualidade de “Silêncio Elétrico” é como a probabilidade de ser atingido por um raio.
Terminei de ouvir louca para dar o play no próximo. Sim, as chances de um raio cair duas vezes no mesmo lugar também são baixas. Mas começamos esse texto dizendo que a eletricidade do pop de Tolentino desafia as probabilidades. E, como diz uma das minhas frases preferidas, “um impossível por vez”. Fiquemos de olho, torcendo para sermos atingidos por esse raio mais uma vez. Por enquanto, seu primeiro álbum vale o repeat.