Top

Fenômeno C. Tangana mostra força estrondosa em turnê ignorada pelo Brasil

C. Tangana em evento da Tiffany&Co., em novembro, no México (Foto: Manuel Velasquez/Getty Images)

Por Baárbara Martinez, da Argentina

O fenômeno Antón Álvarez Alfaro, conhecido como C. Tangana, foi um nome que lotou estádios em outras capitais da América Latina, mas ignorou o Brasil. Para ver o que o cantor madrileño tem, haja vista que esgotou ingressos para quase todos os shows da tour “Sin cantar ni afinar”, saímos de São Paulo para Buenos Aires para assistir ao primeiro dos dois dias na Movistar Arena, no mês passado. A expectativa para a apresentação era alta. Veículos locais noticiavam a “missão impossível” de conseguir ingressos para a apresentação. Obviamente, a presença massiva do público demonstrava isso nos arredores do estádio. Mas a animação foi completamente suprida assim que ele entrou no palco. Mas para entender isso, é preciso voltar um pouco mais no tempo.

Durante a pandemia da Covid-19, era comum a presença do “Tiny Desk” em diversos lares e as famosas lives. A série de concertos apresentados pela NPR Music supriu a falta de shows por conta do isolamento social. Justamente por isso, surgiu o “Tiny Desk (Home)”, gravado fora da tradicional mesa do apresentador Bob Boilen, da All Songs Considered, nos EUA. Artistas como Miley Cyrus, Dua Lipa, Demi Lovato, J Balvin, Olivia Rodrigo, entre outros, entraram de suas casas ou estúdios improvisados para participar deste projeto. No entanto, uma delas roubou a cena ao criar a atmosfera onde todos gostaríamos de estar. O cantor espanhol criou uma grande apresentação, ou melhor, festa, regada de boas comidas, bebidas, presenças inesquecíveis e claro, muita música boa.

O vídeo, que atualmente possui mais de 39 milhões de visualizações, passeia pelo universo de “El Madrileño”, disco que levou três estatuetas no Grammy Latino no ano passado. Para celebrar este trabalho, a tour “Sin cantar ni afinar” percorreu alguns países da Europa e América Latina, com exceção do Brasil. Conforme os shows foram ocorrendo, vídeos nas redes sociais chamaram atenção para o espetáculo proposto por Tangana. Com uma banda gigantesca, comparada com os novos moldes de show e a tal mesa em cima do palco (similar à do “Tiny Desk”), o espanhol criou novamente a energia perfeita da festa, ou melhor, show na qual todos nós gostaríamos de presenciar.

O madrileño apresentou uma verdadeira coroação à cultura flamenca, com “Still Rapping” e “Cambia!”. Não poderia faltar “Comerte entera”, canção do cantor com Toquinho, que leva os dizeres em português: “essa mina é um perigo, sample de MC Daniele e DJ Wagner na música “Danielle Puxa O Bonde”. Para a alegria dos fãs, o hit “Ateo”, parceria com Nathy Peluso, foi cantado ao vivo com a presença da cantora argentina. Não poderia faltar a tal mesa que foi a estrutura do Tiny Desk. Nela, o cantor apresentou canções, como “Ingobernable” e “Los Tontos”. Mais para o final do espetáculo, chegou a hora de “Tú me dejaste de querer” e um cover animadíssimo de “Suavemente”, de Elvis Crespo.

O espanhol sabe que faz música boa e, por isso, vai além com muita segurança. A forte presença da impecável banda ganha papel importante no palco. Além de tocar e cantar, todos ali são coadjuvantes de um verdadeiro espetáculo cinematográfico. O storytelling do show e a filmagem exibida no telão tem ares do filme “Casablanca”, de ficar, literalmente, com a boca aberta. Há muitos detalhes em cena: o setlist em forma de menu disposto sobre a mesa do bar, a garrafa de bebida com rótulo personalizado – coisas pensadas nos mínimos detalhes. Sem esquecer do figurino e dos seus inseparáveis óculos de sol, que incorpora todo o enredo.

Não há justificativas para essa tour não ter passado pelo Brasil. Visto que Tangana tem base consolidada de fãs no País, além de possuir outra parceria com Toquinho e MC Bin Laden, no hit “Pa Llamar Tu Atención”. Desta forma, o showbusiness brasileiro segue demonstrando ressalvas ao investir no mercado latino, bem despacito (devagarzinho), que anda aquecidíssimo no resto do mundo. Bad Bunny foi outro nome ignorado pelo setor. Assim como o espanhol, o artista mais ouvido em todo mundo em 2022, segundo o Spotify, não pisou sequer no clássico eixo dos shows no País (Rio-SP), para se apresentar com a “World’s Hottest Tour”. Boatos de que há negociações para o ano que vem, mas nada confirmado. Para nossa surpresa, o cantor Rawn Alejandro, conhecido por sua parceria recente com Shakira, está com passagem pelo Brasil confirmada para o segundo semestre de 2023, com sua “Saturno World Tour”.

Neste ano que passou, as apostas em artistas latinos e espanhóis vêm ganhando força com a chegada do festival Primavera Sound, por exemplo, que teve sua primeira edição em novembro e trouxe ao Brasil nomes como Arca e Bad Gyal no line up. Outro fenômeno, Rosalía, ganhou uma apresentação “teste” em São Paulo, quando os ingressos foram disputadíssimos, houve mudança para um lugar maior, para só assim ser escalada para o Lollapalooza do próximo ano, que também possui Kali Uchis na escalação. Ainda em 2022, J Balvin também visitou o País depois de quatro anos no lançamento do disco “Vibras”, que ganhou projeção mundial. Enquanto isso, outros brasileiros saem do País em busca de C. Tangana e outros hermanos em outras capitais latinas a fim de, finalmente, verem seus ídolos ao vivo e garantir aquele clima de festa proposta pela pandemia durante o lockdown severo.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do Site RG.

Mais de Cultura