Cultura

Exposição urbana reúne e retrata o legado de mulheres periféricas 60+

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Foto: Rafael Diegues

O projeto Míticax é uma instalação de fotos hiperdimensionadas, sobrepostas com depoimentos em texto, de mulheres de mais de 60 anos, moradoras do bairro da Casa Verde, na cidade de São Paulo. Mulheres negras, brancas, originárias, imigrantes, mães, avós, filhas, proletárias, donas de casas, periféricas, e ao mesmo tempo, invisibilizadas pela sociedade, e muitas vezes, pelas suas próprias comunidades. Entretanto, todas elas têm um legado e uma trajetória quanto precursoras de toda transformação e crescimento de seus bairros. 

Mulheres míticas que pulsam as vidas de toda uma juventude periférica, com poucos acessos e oportunidades. Ainda há uma longa caminhada a percorrer, mas elas viveram essa transição de mães e donas de lares, para mulheres independentes que dividem o protagonismo nesta mesma sociedade que contribuíram para erguer. Idealizado pelos produtores Michelle Serra e Nando Motta, a exposição será inaugurada no dia 11 de dezembro, na Casa Verde Alta, a partir das 11h e é aberta a todo público de forma gratuita.

Foto: Rafael Diegues

O trabalho consiste em utilizar arquiteturas da própria Casa Verde, como as paredes dos muros, como plataforma para uma exposição fotográfica que irá alterar a paisagem e proporcionar uma interação visual com o público. A proposta é de uma exposição de fotos “ativa”, onde obra, história e espectador se misturam. Quebrando barreiras na arte, na antropologia visual e nas intervenções urbanas. O projeto propõe captar e revelar a potência dos olhares, das essências e das histórias dessas mulheres, que são raízes de toda uma quebrada. Um processo que exige escuta, intimidade e que se orienta pela valorização de cada uma dessas mulheres, de suas identidades e memórias. 

“Eu sou uma pessoa iluminada, acho que quando a gente deseja o bem do próximo a nossa luz brilha mais, então eu levo isso para minha vida, costumo dizer que sou uma pessoa protegida por deus desde o ventre da minha mãe até o presente momento, acredito que isso acaba refletindo ao participar desse projeto. Eu acho o bairro da Casa Verde tranquilo, aqui nasceram netos e bisnetos, cresceram pessoas do bem, então me sinto privilegiada em pertencer a esse bairro e poder me ver aqui,” explica dona Jane Serra, uma das senhoras retratadas no projeto.

Foto: Rafael Diegues

Os principais objetivos e expectativas dos idealizadores do projeto são de ressignificar não somente a maneira como as histórias dessas mulheres repercutem na sociedade, mas também do próprio local, visto que foi palco de diversas violências e criminalidade, como comenta a produtora executiva Michelle Serra. “Queremos que o projeto tenha um retorno imediato e direto tanto para as mulheres retratadas quanto para as pessoas que passarem pela exposição urbana. Nossa ideia é criar um conjunto de obras que alterem a paisagem, e ao mesmo tempo insiram a arte na vida e cotidiano das pessoas do bairro e da cidade, inclusive democratizando o acesso à cultura.”

Existe um grande desejo dos produtores de impactar tanto as mulheres que estão sendo retratadas, a partir da valorização e destaque de suas conquistas e jornadas, assim como de impactar as outras gerações de mulheres da Casa Verde que poderão se identificar e perceber que essa luta começou há muito tempo, e que o caminho ainda será longo, mas que elas não estão sozinhas, que em cada casa da quebrada há uma mulher mítica lutando, resistindo e conquistando, pouco a pouco mais diretos, mais espaço, mais reconhecimento e mais liberdade. 

Foto: Rafael Diegues

“Na era onde se valoriza muito o agora, reconhecer a força e o caminhar do passado é criar laços e bases mais fortes para um futuro ainda melhor. Uma ruptura na rotina com instantes de poesia inseridos na vida das pessoas que caminham e vivem na quebrada. Enquanto todos vivem suas rotinas como uma massa de trabalhadores e pessoas sem rosto, nossa proposta busca valorizar os indivíduos e suas caminhadas. Um alerta de que há complexidade em cada pessoa e em cada história. Que há uma família em cada janela. Que cada mulher dessas é única, pois sua trajetória foi e é muito importante para as outras que estão e virão para esta quebrada depois delas, e por isso elas merecem e precisam ser valorizadas e lembradas. Sempre!”, é o que diz o coprodutor Motta.

Este projeto surge como um desdobramento do “Quebrada Viva”, idealizado por Michelle no início de 2021, que por meio de intervenções urbanas a partir de projeções a laser, espalhou diversas mensagens de conscientização, afeto e vivências sociais pelas periferias de São Paulo. 

As produções envolveram a participação de artistas, como cantores, poetas, MCs, e inclusive pichadores paulistanos, repercutindo suas mensagens poéticas e, muitas vezes, até então, marginalizadas, em formato de arte. MV Bill, Conceição Evaristo, Brisa Flow, Rosa Luz, Nega Cléo e Massive M.I.A foram alguns dos artistas participantes das exposições a laser durante as circulações pela cidade de São Paulo, entre 2021 e 2022.

Foto: Rafael Diegues

O Míticax ficará exposto em muros da Casa Verde Alta até que o material perdure, como é comum na cultura do lambe, porém os produtores irão desenvolver um site e um perfil no Instagram, no qual a exposição poderá ser revisitada de forma permanente.

Onde: Rua Dr. Sebastião de Lima, 293, Casa Verde Alta, São Paulo.

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