Vilma Melo em cena de “Mãe de Santo” – Foto: Divulgação
Ressignificar e enaltecer o poder da mulher preta na condução de suas comunidades é o grande mote de “Mãe de Santo”, que fica em cartaz até 18 de dezembro, no Teatro Laura Alvim, em Ipanema, com apresentações de sexta a domingo. A montagem traz em cena Vilma Melo, protagonista da série “Encantados”, do Globoplay. Vilma interpreta uma e, ao mesmo tempo, várias mulheres pretas no monólogo.
A peça “Mãe de Santo” traz um posicionamento firme e de orgulho das histórias contadas e passadas por gerações e documentando como as mulheres afro-brasileiras são diálogos, corpos sagrados e que utilizam o homem como complemento de suas narrativas e vivências. Com direção geral de Luiz Antonio Pilar, o espetáculo foi escrito pela autora teatral Renata Mizrahi a partir de textos e relatos da filósofa, escritora e professora Helena Theodoro.
“‘Mãe de Santo’ representa pra mim as mil possibilidades da mulher preta, que dá asas à imaginação, mostrando musicalidade, poesia, espiritualidade, habilidade e maternidade desde muito tempo. Ser mãe de santo é ser mãe do mundo, cuidando de gente de ontem – seus ancestrais – ou de hoje – sua família, amigos, parceiros -, preservando o mundo para um amanhã mais pleno, transformado pelo elo de afeto entre as pessoas, pela arte e por toda a beleza que um olhar doce e meigo pode oferecer. Mãe de santo é mulher que se orgulha de suas histórias e identidades, entendendo que nada é mais profundo do que a pele preta que traz em seu corpo e ilumina sua alma”, afirma Helena Theodoro.
Mãe de santo é para além do arquétipo, das vestimentas e acessórios característicos da religião. O espetáculo mostra que essas mulheres também vivenciam o particular – carregam tristezas, perdas, felicidades, medos, angústias e papéis importantes na sociedade. Apesar de estereotipadas, essas figuras religiosas são plurais e, muitas vezes, não recebem o acolhimento de que necessitam. Mas, mesmo assim, ressignificam suas histórias em prol do viver individual e do coletivo existentes nas comunidades que lideram.
“Este espetáculo é a expressão da minha felicidade, do meu compromisso, da minha fé. Um projeto que nasceu em 2018, após conhecer Mãe Celina de Xangô e vislumbrar esta montagem trazendo à cena histórias de tantas mulheres que admiro, que me inspiram e me orientam”, revela o idealizador e produtor Bruno Mariozz.
No traço da materialidade, as mães podem ser vistas como depósitos para desenvolvimento de outros seres. Elas geram, criam e educam com o intuito de integrar a sociedade. Já na não materialidade, a mulher é cabaça, que contém e é contida por representar a vida. A ancestralidade dessas mulheres pretas empodera o cotidiano, os estudos, a família, a carreira profissional, a posição social, e ainda fortalece o enfrentamento do racismo diário.
“Mãe de Santo” chama a atenção do olhar com os olhos de ver. A peça é baseada nas vivências da filósofa, escritora e professora Helena e de outras mulheres, como a própria atriz que a interpreta, Vilma, por meio de uma personagem muito empoderada, que, ao dar uma palestra internacional, entrelaça as histórias, provocando sobre o que realmente interessa contar e mostrar. O que se espera de uma mulher que nunca foi uma coisa só? Mãe, professora, empregada, mãe de santo, estudante. Quantas histórias cabem em uma única vida?
Teatro Laura Alvim – Av. Vieira Souto, 176, Ipanema, Rio de Janeiro.