Rafael Thomaseto – Foto: Divulgação
Em meio à competitiva indústria do cinema internacional, Rafael Thomaseto tem se revelado como um dos produtores mais proeminentes. Aos 31 anos, o brasileiro que saiu de Jundiaí, São Paulo, há mais de uma década, iniciou sua carreira na equipe de produção de comerciais de marcas como a Chanel e clipes de música para Lady Gaga e Ludmilla até fundar a Driven Equation, produtora audiovisual especializada na realização de filmes autorais, com sede em Hollywood e no Brasil. Ao lado da colega de profissão também brasileira, Helena Sardinha, coleciona prêmios em festivais como Sundance Film Festival, Tribeca Festival, Fantastic Fest, Palm Springs Film Festival, Aspen Film, Mix Brasil, Sanfic, entre outros.
No entanto, as oportunidades não caíram facilmente no colo do cineasta. Quando chegou a Los Angeles para estudar Cinema, com 20 e poucos anos, estava ansioso para finalmente trabalhar no audiovisual e realizar seus sonhos. Porém, logo percebeu as dificuldades por ser estrangeiro. “Como estrangeiro minhas chances de encontrar um emprego em grandes empresas cinematográficas eram próximas de zero, então decidi criar minhas próprias oportunidades de trabalho, para provar a outros players da indústria que eu tinha o que é preciso. Sem falar que queria dedicar meu tempo e energia a projetos nos quais acredito e que tivessem uma mensagem poderosa. O cinema é uma indústria bastante difícil de trabalhar, então se eu fosse lutar para evoluir como produtor, focaria em fazer filmes que quebrem fronteiras e tenham a intenção de causar impacto social. E foi o que fiz”, analisa.
De acordo com Thomaseto, seu propósito é conectar com audiências diversas, seja por meio da linguagem narrativa, do documentário, da música ou da publicidade. Com histórias que destacam questões sociais e grupos marginalizados visando promover o diálogo e a conscientização sobre problemáticas contemporâneas, trazendo comunidades minoritárias para frente e para trás das câmeras.
“A educação por meio da arte está no nosso DNA. O cinema é mais do que apenas minha carreira, tem sido uma cura para subverter estereótipos e transformar traumas em poesia. Nunca fiz o que se esperava da minha família e da sociedade em que cresci, e o cinema independente me liberta e me permite continuar fazendo isso para mim e para outros”, reflete.
Com um portfólio que reúne mais de 20 obras, em diferentes estágios de produção em diversos países (Brasil, Chile, França, Grécia, Inglaterra, Líbano, República Dominicana, Ucrânia e Estados Unidos), o diretor e produtor ainda comemora os resultados que escalonaram um dos seus trabalhos, o curta-metragem “Huella” (“Pegadas”). Desde a sua estreia no Tribeca Festival, em 2021, o filme foi selecionado por diversos festivais de cinema em 2022 e premiado como Melhor Direção no Los Angeles Latino International Film Festival, Melhor Filme Experimental no Syracuse International Film Festival e Melhor Curta-Metragem Narrativo no Crested Butte Film Festival.
HUELLA Trailer from Driven Equation on Vimeo.
O sucesso lhe rendeu ainda a possibilidade de desenvolver o curta-metragem em um longa, com o apoio de um dos programas para produções de cinema, o Sundance Feature Film Producers Lab & Fellowship, nos Estados Unidos. O filme também recebeu o prêmio Fundo de Desenvolvimento para Longa-Metragem Latinos, patrocinado pela Warner Media Discovery.
Outra conquista recente, que destaca o nome de Thomaseto na indústria cinematográfica internacional, é o curta-metragem Before Dawn, Kabul Time (Antes do Amanhecer, hora de Cabul), dirigido por Tara Motamedi e produzido pelo brasileiro, estreou no Tribeca Festival em Junho e foi nomeado ao prêmio HPA Awards -Hollywood Professional Association – na categoria Edição Excepcional – Episódio ou Longa-Metragem Não Teatral (30 Minutos e Menos). A premiação reconhece talentos de filmes e séries em áreas de pós-produção e dentre os indicados, estão produções como “Top Gui: Maverick”, “O Batman”, “Better Call Saul” e “Euphoria”.
“Isso é algo incrível já que competimos diretamente com grandes shows da televisão como “Barry” (HBO) e “Hacks” (HBO)”,vibra. “É um filme importante que influencia o diálogo a favor do direito das mulheres no Afeganistão. A roteirista do filme é iraniana e criou a história com base em fatos reais”, destaca. “A obra teve distribuição em um cinema independente em Los Angeles chamado Highland Park Theater e abriu todas as sessões na semana de estreia do filme “Nope”, de Jordan Peele – que já faturou mais de US$ 140 milhões na bilheteria mundial. Isso nos possibilitou a aplicar o curta para a pré-seleção do Oscar”, acrescenta.
Rafael Thomaseto – Foto: Divulgação
No Brasil, recentemente, Thomaseto teve um dos seus trabalhos exibidos no Transforma, primeiro festival de cinema de Santa Catarina voltado para filmes com enfoque em diversidade e cultura LGBTQIAP+. O curta-metragem brasileiro “Próprio”, que leva sua assinatura no roteiro, direção e produção, explora um dia na vida de Fernando, adolescente que vive no interior de São Paulo. A pressão e curiosidade para perder a virgindade o conduzem a um encontro sexual com um homem mais velho que ele conheceu online, mas o encontro não vai de acordo com o esperado.
O filme conta com atuação dos atores Theodoro Cochrane, Jota Barletta, Giovanni de Lorenzi e Isabela Dragão, teve sua estreia mundial no Festival Mix Brasil, maior evento de cinema queer da América Latina e também participou do Los Angeles Latino International Film Festival.
Próximo de fechar uma década de vivência no exterior, porém, muito conectado com o Brasil, o cineasta destaca alguns dos seus projetos em desenvolvimento. Para a televisão, Thomaseto está adaptando uma série de TV com nome temporário de “Vienna Palace” baseado nas peças do dramaturgo, Plínio Marcos (“Dois Perdidos numa Noite Suja”, “Navalha na Carne” e “Abajur Lilás”). No gênero animação, o cineasta aposta no seriado chamado “Identidades”, que já conquistou editais tanto na Fundação Cultural do Estado de Santa Catarina como no Fundo Municipal de Cinema de Florianópolis. Já no cinema, o filme “O Porteiro”, com previsão de filmagem em Fortaleza em 2024, já participou de diversos laboratórios de desenvolvimento como o Brasil Cinemundi e o ECM. E o filme “Aos Meus Antigos Migos”, que foi selecionado para a edição deste ano do BRLAB, um dos maiores eventos anuais no Brasil destinado a filmes em fase de desenvolvimento e financiamento e à capacitação de profissionais do setor audiovisual.
Além das produções nacionais, o produtor desenvolve uma série de drama para televisão americana chamada “Sitka”, que explora a vida de residentes em uma ilha no Alaska. E também se prepara para a filmagem do longa-metragem “Satisfaction”, na Europa. Com previsão de início em abril de 2023, o filme será rodado na Grécia e conta com coprodução da Ucrânia. Enquanto isso, o documentário “Barry & Joan”, uma produção inglesa, teve seu lançamento na aclamada rede de cinemas em Londres, Picturehouse e estreia na Netflix Europa em breve.