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Galeria Lume apresenta individual de Marina Hachem

Obra de Marina Hachem – Foto: Ana Pigosso

Foi a partir da descoberta de um cemitério de pneus no Kuwait – tão descomunal que é possível enxergá-lo em imagens de satélites – que a artista plástica Marina Hachem encontrou inspiração para a exposição “Ensaio Sobre o Fim do Mundo”, na Galeria Lume, sob a curadoria de Agnaldo Farias. Deste tipo peculiar de lixão surgiu a reflexão que dá nome à mostra: estaria o homem ensaiando o fim do seu mundo?

A indignação é a tônica desta série de obras que englobam técnicas mistas – assim como as emoções que provocam em quem as observa com mais atenção. Daí a opção pelo preto e por variações do branco e do cinza – tonalidades adequadas para a realização de paisagens medonhas, fumegantes e fedorentas como o Pantanal, que desde o ano passado nos vem chegando pelas imagens televisivas, com cadáveres carbonizados dos animais caídos ao final de uma fuga infinita. A partir dessa representação, a artista buscou reconstituir em imagens o cenário singular e assustador que via, trazendo uma espécie de movimento para as infinitas pilhas de pneus inertes.

“O que mais me interessa nessa série é a quantidade de pneus e o sombreamento entre um e outro. Cria-se uma ideia de movimento e fluidez, de permanente correnteza. Se você fica olhando por muito tempo, parece que a imagem está se mexendo”, explica a artista, dizendo este ter sido o estopim da ideia para as obras desta exposição. “Eu queria, a partir de então, reinterpretar essas imagens e relacioná-las na materialidade, de alguma forma, com a natureza”, finaliza.

Obra de Marina Hachem – Foto: Ana Pigosso

Para isso, Marina apropriou-se e transferiu as fotografias para as telas, recortando-as, alterando seus enquadramentos, ampliando ou reduzindo alguns de seus detalhes e reais dimensões. À base de pastel oleoso de cor preta, as produções da artista foram parcialmente encobertas por camadas de cimento branco e cinza, finalizadas com uma crosta de telas de arame (tela de galinheiro). O resultado das obras é áspero, crispado, convulso – paisagens encarceradas. Vistas de cima, como pela janela de um avião, entre os vales fabricados pelas encostas de pneus, as paisagens parecem não ter profundidade, carecem de horizontes.

A prova da destruição não está apenas no Pantanal, na Floresta Amazônica, no degelo do Círculo Ártico, como demonstra a artista: “A prova de tudo isso está aqui, colada a nós, moradores das grandes cidades, personificada nos lixões e aterros sanitários, pontuados pelas chamas permanentes da queima do metano, formando um imenso fogão com bocas escancaradas ao céu aberto”, completa o curador, Farias.

Galeria Lume – Rua Gumercindo Saraiva, 54, Jardim Europa, São Paulo, SP. Até 28 de janeiro de 2023.

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