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SP: Museu das Favelas abre ao público neste sábado (26.11)

Foto: Carlos Pires

O Museu das Favelas, equipamento público da Secretaria de Cultura e Economia Criativa de São Paulo, abre suas portas ao público. No sábado (26.11), a instituição abre com a exposição “Favela-Raiz”, uma ocupação-manifesto que representa o primeiro movimento de transformação do Palácio dos Campos Elíseos, reverenciando a memória e as heranças das lutas dos que vieram antes e dos que seguem resistindo na construção desta história.

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O termo “favela”, cujo nome se popularizou a partir do início do século 20 ao denominar um sistema de habitações populares no País, é derivado de um tipo de árvore com espinhos, flores, frutos e sementes altamente nutritivas muito comum na caatinga e, especificamente, no Morro da Favela, em Canudos, no sertão da Bahia. Os soldados da Guerra de Canudos, convocados a combater os membros da comunidade liderada por Antônio Conselheiro, ali se instalaram, dada a ampla visão oferecida do vale e, ao retornarem para o Rio de Janeiro, sem a assistência prometida pelo Governo, ocuparam o atual Morro da Providência, que passou a ser chamado de Morro da Favela. Desde então, “favela” passou a representar o tipo de organização urbana ali criada: barracões de madeira improvisados, sem infraestrutura, situados nos morros.

A exposição que abre o museu surge em forma de ocupação-manifesto, evocando as raízes da favela. É um símbolo de saudação às tradições, à ancestralidade, à maternidade, aos abrigos materiais e afetivos que envolvem os habitantes e a tudo o que ali foi semeado e colhido. A ocupação é composta por cinco partes, sendo três internas e duas externas.

Foto: Carlos Pires

No hall de entrada há esculturas tecidas em crochê, criadas pela artista Lidia Lisbôa com a colaboração de sete mulheres do Coletivo Tem Sentimento e da Cooperativa Sin Fronteras, grupos de mulheres da vizinhança do museu. “O Museu das Favelas tem como premissa máxima o trabalho colaborativo com as pessoas que vivenciam o cotidiano das favelas e periferias. Processos como este, representam um diferencial na gestão de uma instituição museológica, que no caso do Museu, além desse processo colaborativo, propõe a articulação social e processos de geração de renda como pilares transversais importantes”, afirma Daniela Alfonsi, diretora do museu.

A sala expositiva lateral traz uma instalação audiovisual sensorial, cuja curadoria selecionou imagens de 20 fotógrafos e produtores de conteúdos de diferentes periferias do Brasil. A instalação, chamada “Visão Periférica”, revela aos visitantes a multiplicidade das experiências nas favelas, despertando memórias afetivas por meio do cruzamento de linguagens. No final do percurso interno da exposição, haverá uma instalação no salão de espelhos do palácio, com criação sonora do rapper Kayode, exaltando os diferentes modos de se pensar a beleza.

No ambiente externo, haverá uma instalação que sintetiza a história do Palácio dos Campos Elíseos, com pesquisa de História da Disputa e produzido com artes em serigrafia pelo Coletivo XiloCeasa. Nos jardins, Paulo Nazareth – conhecido por suas andanças ao redor do mundo e seu trabalho que questiona os limites da performance como linguagem artística – traz uma das instalações de seu projeto “Corte Seco”, em homenagem a Maria Beatriz Nascimento: uma escultura de alumínio, de seis metros de altura, retratando essa que é uma mulher negra, historiadora, poeta, intelectual e ativista.

“Vale ressaltar que, quando nós trazemos aqui historiadores que vão contar a história pela visão dos que foram esquecidos, marginalizados, vencidos em guerra, gentrificados, é simplesmente dizer para o que viemos. É mostrar que o Palácio dos Campos Elíseos terá uma nova composição, que essa arquitetura, hoje, servirá para visibilizar aqueles que outrora foram postos pra fora daqui. As exposições e instalações propostas mostram o quanto nós valorizamos os nossos artistas e teóricos. Então, a partir de sua abertura, o Museu das Favelas mostra sua marca institucional, que é dar voz e vez a quem está e sempre esteve construindo, mas que sempre foi invisibilizado. Então, se preparem para fazer uma viagem para o outro lado da história”, salienta Carla Zulu, coordenadora de relações institucionais do Museu das Favelas.

Para o fim de semana, o Instituto SulAmérica, organização sem fins lucrativos cujo objetivo é possibilitar o acesso de pessoas em situação de vulnerabilidade social ao cuidado de saúde emocional, apresenta a programação de abertura do Museu das Favelas, com atividades culturais e educativas que promovem o acolhimento, o empoderamento e o bem-estar coletivo, de forma representativa, reforçando o direito de todas as pessoas à saúde emocional. O apoio do Instituto SulAmérica prevê, ainda, o lançamento de um programa de saúde emocional dentro do museu em 2023.

O Museu das Favelas recebe também a exposição “Identidade Preta: 20 anos de Feira Preta”, em comemoração ao maior evento de cultura negra da América Latina. Realizada pelo Preta Hub, liderado por Adriana Barbosa, a exposição traz de modo lúdico a história de um dos primeiros eventos de valorização da cultura empreendedora negra e periférica de São Paulo. Como parte da parceria, além da exposição, o Museu das Favelas receberá, no final de semana da abertura, o SPerifas, versão pocket da Feira de Empreendedores.

Localizado no Palácio dos Campos Elíseos, o Museu das Favelas busca uma conexão direta com as experiências de quem vive nas favelas no cotidiano, em sua dimensão individual e coletiva, partindo de um local de pluralidade e diversidade de narrativas que surgem com a proposta de ser um ponto de encontro, de passagem, de acolhimento e de potencialização das favelas, de suas memórias e produções. 

A busca é por ampliar o olhar para além de uma imagem cristalizada do que é a favela e, também, do que é um museu, construindo uma visão que inclui também as vivências que partem de periferias, ocupações, assentamentos, regiões quilombolas, ribeirinhas e outros espaços que são distintos, mas que compartilham as mesmas histórias de segregação e resistência. Inserido numa arquitetura colonial, o Palácio revela, ainda, as ambiguidades socioeconômicas que envolvem territórios favelizados e propõe novos olhares ao prédio, ressignificando-o e permitindo novas possibilidades de refletir sobre as nossas histórias.

Foto: Carlos Pires

São essas e outras narrativas que são construídas para lembrar que favela é uma experiência que marca pessoas, saberes, conhecimentos e territórios, atravessando o cotidiano de milhões de brasileiros. A potência das favelas inspira, então, o que esse museu se propõe ser: um local de encontro e acolhimento, incubador de ideias e propositor de movimentos.

Palácio dos Campos Elíseos – Entrada pela Rua Guaianases, 1.024, São Paulo.

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