Um encontro de amigos de longa data com muito em comum. Uma relação de amizade e profunda ligação com a natureza e com o Sul da Bahia levaram a exposição “Natureza Inventada”, de Carlos Vergara, um dos mais importantes artistas da atualidade, à Galeria Hugo França, em Trancoso, com abertura marcada para este sábado (12.11), às 16h.
Composta por esculturas em aço corten, monotipias, gravuras e pinturas para vestir (impressões inéditas estampadas em lenços), a mostra apresenta a multiplicidade da obra de Vergara e sua constante reinvenção de linguagem, matérias e técnicas, realizadas ao longo de mais de cinco décadas dedicadas à arte.
Carlos Vergara e Hugo França – Foto: Divulgação
Mais do que ocupar o espaço de 300 metros quadrados em meio à mata atlântica, já muito frequentado pelo artista, a exposição, idealizada e realizada a partir de uma parceria entre a Galeria Bolsa de Arte e Hugo França – que inaugurou a galeria para inserir Trancoso no circuito da arte nacional e internacional -, propõe um convívio harmônico entre obra, espectador e paisagem.
Entre os destaques da mostra está a série de pinturas para vestir (lenços estampados com imagens criadas pelo artista, produzidos especialmente para a exposição). Eles são resultado de monotipias inseridas sobre as formas dos tecidos amassados e sobre um colorismo alquimista, que fazem parte do universo experimentalista desenvolvido por Vergara no campo da pintura contemporânea, desde os anos 1980.
Nas esculturas em aço corten, o artista busca evidenciar a passagem do tempo. De uma estrutura pesada e com presença altiva no espaço, a escultura logo se converte em um corpo suscetível a instabilidades. A oxidação e o surgimento de “imperfeições”, relevos, crostas, “desgastes” sobre a sua superfície associam-se a uma metáfora sobre a passagem de tempo e o envelhecimento de um corpo.
Por fim, a série de gravuras feitas com os moldes das esculturas revela alguns sentidos, como a simultaneidade entre projeto e acaso, uma marca da produção do artista como um todo. Se, em um primeiro momento Vergara planeja os cortes de aço para montar as estruturas, em um segundo, ao usar a tinta, o acaso entra em cena e o resultado é uma mescla do que foi calculado e do comportamento imprevisível do contato entre matérias-primas.
Nesta exposição, a natureza não está apenas presente nas criações, ela é o meio, a própria obra. Tanto as monotipias – processo de decalque da natureza no qual o pigmento, a cor, a textura e os materiais que vêm da terra constroem uma nova forma de expressão para a pintura – quanto as esculturas e as pinturas fazem uso da natureza como matéria.
A cada obra, a mutabilidade do meio ambiente traduzida em expressão artística, é um verdadeiro convite para o público lançar um olhar mais presente e sensível às mudanças e situações que, por estarem todos tão concentrados em si mesmos, acabam despercebidos.