Sidney Santiago Kuanza – Foto: Cia Os Crespos
O Recital poético performático “Feio” narra fragmentos da vida de Lima Barreto. Em seu quarto localizado em um subúrbio carioca acompanhamos sua intimidade e seu desejo subversivo pela criação de uma literatura militante. “Feio” é a segunda montagem da trilogia “Masculinidades & Negritude” da Cia Os Crespos, eixo coordenado pelo multiartista Sidney Santiago Kuanza. As apresentações acontecem às segundas-feiras nos dias 7, 14 e 21 de novembro e 5 de dezembro, às 19h, com entrada gratuita na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo.
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A pesquisa prevê investigação cênica das figuras de Madame Satã (ícone da noite carioca e da transgressão), Lima Barreto (célebre jornalista e escritor que inaugurou uma literatura militante afro-brasileira) e Benjamim de Oliveira (palhaço e cantor brasileiro, que revolucionou o Circo Teatro), projeto previsto para 2023. Essa pesquisa a partir do universo das Masculinidades Negras em Diáspora e suas correspondências na contemporaneidade acontece desde 2014.
O primeiro projeto da trilogia foi o espetáculo solo “Cartas a Madame Satã ou me desespero sem notícias suas”, com texto de José Fernando Peixoto de Azevedo e direção de Lucelia Sergio, peça que mergulhou na temática do impacto da escravidão na afetividade de homens negros com o recorte da homossexualidade. Na pesquisa, a figura mítica de Madame Satã (célebre e boemia personagem do artista João Francisco dos Santos) foi o fio condutor desta obra dedicada a falar sobre o corpo negro e as sexualidades marginalizadas. A peça circulou 38 cidades e passou por quatro estados brasileiros, sendo eles Rio de janeiro, Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
Neste novo trabalho o recorte é o legado literário e biográfico de Lima Barreto. Uma pesquisa que tem sua dramaturgia amparada nas obras: “Apologética do Feio”, “No Tronco”, “Os Negros”, outros contos e os “Diários Íntimos”. A montagem propõe resgatar essa literatura que se dedicou a observar o Brasil partindo muitas vezes de um olhar para os “humildes” e os “infelizes”, que habitavam os subúrbios da então, capital do País, a cidade do Rio de Janeiro.
“Pretendemos trazer à luz do século 21, para jovens e adultos, a figura humana e artística desse autor que quebrou tabus, implantou conceitos, estilos e defendeu incessantemente a necessidade de pensar as desigualdades e o futuro do nosso país através de sua literatura e seus depoimentos pessoais”, ressalta Kuanza.
A performance terá como eixo estético uma pesquisa audiovisual, e a criação de cenas curtas pautadas em episódios emblemáticos da vida do autor.
O Projeto tem direção compartilhada de Gabi Costa e Sidney Santiago Kuanza, que também dá vida ao autor e assina a dramaturgia. Na dramaturgia de imagens está Edu Luz. Curadoria de instalação de Wanderley Wagner. Desenho de luz de Denilson Marques. Produção de Gabi Costa, Kuanza e Rafael Ferro. O recital performático conta ainda com narrações de Darilia Ferreira, Pedrão Guimarães e Heitor Goldflus. Apoio técnico de Trilha Decof, fotografias de Pedro Jackson e Edu Luz. Na contrarregragem, Frederico Azevedo.
“A trajetória de Lima (sua vida e sua obra) foi de luta contra essencialmente três palavras: prisão, sequestro e detenção. Viveu rotulado por ser quem era: um homem negro, filho de um homem com seus desequilíbrios mentais, com o rastro do alcoolismo correndo atras dele, se esquivando do fracasso anunciado. Tentou fugir disso. Não conseguiu. O alcoolismo o alcançou. As perturbações mentais o encontraram. A sua arte grandiosa e inteligência imensa tentaram ser seu escudo, mas o Brasil dos estigmas e racismos não permitiram. Prenderam, sequestraram e detiveram a genialidade e as dores de Lima Barreto inúmeras vezes. O fizeram definhar. Este recital performático busca libertá-lo. Liberdade para Lima Barreto agora”, finaliza Gabi Costa.
Biblioteca Mário de Andrade – R. da Consolação, 94, República, São Paulo.