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Brasília: Chico Sant’Anna apresenta monólogo semibiográfico sobre racismo e violência sexual

Foto: Alexandre Magno

O ator Chico Sant’Anna viveu na pele e calado o que muitos pretos passaram e continuam passando no Brasil: a discriminação racial falada, mas também aquela que não usa as palavras para machucar. Para celebrar seus 40 anos de carreira e os 10 anos da Cia. Plágio de Teatro, da qual faz parte, o ator brasiliense resolveu dar voz a essa angústia. No espetáculo “Saiba o Seu lugar!”, ele explora com delicadeza as marcas que o racismo, a violência psicológica e sexual e a exclusão social deixam na vida de milhares de pessoas.

Com dramaturgia do argentino Santiago Serrano e direção de Sérgio Sartório, a peça estreou em Brasília, em 2019. Agora, volta com novas cenas dias 5 e 6 de novembro, no Teatro Sesc Paulo Autran, com sessões no sábado, às 19h e 21h, e domingo, às 19h. O espetáculo sobre um cidadão aparentemente comum que despe suas memórias e traumas na frente do público marca a estreia do ator no formato de monólogo.

Foto: Alexandre Magno

“Saiba o seu lugar!” acompanha o personagem Dinho dos Santos, um senhor com quase 70 anos que, de dentro de um quartinho nos fundos de sua casa, decide contar sua história. Negro, cercado por brancos, nascido em uma cidade pequena do interior de Minas Gerais, em uma família pobre, ele se vê constantemente tolhido pela frase que começou ouvindo de sua mãe, mas encontrou por diversas vezes na sociedade: “você precisa saber o seu lugar”. Dinho começa contando a história de sua infância sofrida, sem recursos e que encontra, desde muito cedo, a violência.

Foto: Alexandre Magno

Em camadas, cena após cena, ele revela novas experiências que contribuíram para formá-lo enquanto homem e cidadão. Com um texto potente e extremamente sensível, o personagem consegue dar voz à realidade brasileira. “Eu sou um homem negro que já viveu todo tipo de preconceito, violência social, racial e doméstica. E eu queria falar sobre isso. Algumas experiências desse texto realmente são minhas, mas também há muitas outras pessoas. Antes de conceber o espetáculo, eu me lembrei de uma entrevista do Djavan que tinha lido. Ele dizia que a característica que menos gostava em si mesmo era a timidez, um sentimento das pessoas da raça negra criadas em ambientes menos privilegiados. E que sempre ouvia ‘você deve procurar seu lugar, você não pode estar aqui porque você é preto’. E eu pensei que se até ele, sendo o gênio que é, passou por esse tipo de problema que eu sempre tive, então era algo do qual eu deveria falar”, conta o ator.

Foto: Alexandre Magno

A vontade de fazer um solo era antiga para o ator, mas ele precisava enfrentar o desafio de subir ao palco sozinho. No entanto, a recepção do público mostrou porque a peça era e continua sendo necessária. “Quando estreamos em Brasília, foi bem emocionante. Depois de um espetáculo, uma mãe começou a chorar e me agradeceu pelo alerta. Um jovem me abraçou, chorou e agradeceu a coragem de ter me exposto daquela forma. Então essas respostas nos encorajam”, finaliza.

Teatro SESC Paulo Autran – Taguatinga Norte – CNB 12 – Área Especial 2/3, Taguatinga Norte, Brasília.

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