No bicentenário da Independência do Brasil, o SBT – por meio da filiada TV Cidade Verde – lançou último dia 22 sua produção, “Jenipapo – A Fronteira da Independência”, que conta a história de uma das batalhas mais sangrentas do período. Dirigida por Alexandre Mello e Chico Rasta, a série é estrelada por Vandré Silveira, que vive o histórico fazendeiro Simplício Dias, um dos líderes da revolução que aconteceu no Piauí.
“Ele foi um fazendeiro e comerciante que teve um papel fundamental na adesão piauiense na luta pela libertação nacional do domínio português. Infelizmente, todo o processo que culminou nessa revolta ainda é pouco conhecido, apesar de ser um dos alicerces da nossa independência”, afirma Silveira.
Apesar de trazer talentos dos mais variados estados, a produção conta, em grande parte, com uma equipe piauiense. Para o ator, vemos uma representação da diversidade do nosso País.
“A obra coloca o negro e o sertanejo como os verdadeiros heróis da batalha de Jenipapo. Um povo que não estava preparado belicamente, mas que ainda assim lutou bravamente pela sua liberdade. Resgatar essa história é reafirmar nossa identidade como nação, uma maneira de gerar reflexão para que possamos fazer melhores escolhas no campo político”, explica.
Para ele, o maior desafio do projeto foi humanizar a figura do fazendeiro que também era conhecido por sua violência e crueldade. “Uma das cenas mais marcantes foi quando o Simplício violenta uma de suas escravas, de forma física e sexual. Me lembro especialmente deste dia, porque depois de gravarmos, eu e a atriz Deusa Sofia choramos no set de filmagens. Acho que atuar é ser um canal de frequências distintas que constituem subjetividades. Elaborar esse personagem foi algo complexo, mas a sensação que fica é de dever cumprido.”
Além do canal, os episódios ficarão disponíveis de forma online e gratuita para todo o Brasil pelo site Cidade Verde.
Além da série, o ator irá protagonizar o monólogo “A Hora do Boi” que humaniza a figura de Francisco de Assis que narra a relação de afeto que se estabelece entre um homem e um boi. O espetáculo chega aos teatros em 2023, com texto de Daniela Pereira Carvalho, direção de André Paes Leme, e produção de Caio Bucker. Na história, temos três versões de Francisco – um homem comum, funcionário de um abatedouro, o boi “Chico”, e o próprio santo, que age como fio condutor do processo.
“É uma peça que trata da relação entre o homem e os animais. Seu Francisco desenvolve um sentimento de afeto com o boi que deveria abater, e levanta a questão: como podemos matar algo que amamos? A partir daí, discutimos temas relacionados a crueldade e violência animal, saindo de uma lógica antropocêntrica, e trazendo uma visão de respeito aos demais seres”, explica o ator.
O espetáculo surgiu por meio da ligação espiritual entre Silveira e São Francisco de Assis. Apaixonado pelos animais, o ator defende uma sociedade mais igualitária e respeitosa em relação aos animais, e questiona essa visão exploratória de consumo.
“Tudo o que constrói uma pretensa superioridade humana só nos afasta do mais essencial que é o amor. Sempre quis abordar esta figura que, para mim, é um xamã da natureza. Quando nos distanciamos dessa intimidade com os demais seres, estamos mais suscetíveis a males e doenças. A obra traz uma história autoral de grande beleza e força, que eu resumiria como um exercício de empatia”, finaliza.