Elana Dara quer valorização dos compositores: “É questão de honra artística”
Elana Dara – Foto: Daniel Monteiro
Em pouquíssimo tempo de carreira, a cantora e compositora curitibana Elana Dara já acumula grandes hits no currículo. Talvez você não saiba, mas ela foi uma das principais responsáveis pela composição de faixas que explodiram no cenário brasileiro nos últimos meses, como “Sentadona” e “Cachorrinhas”, que agitaram o País na voz de Luísa Sonza. Neste ano, chegou a gravar com Nando Reis na edição expandida do álbum “Para Quando o Arco Íris Encontrar o Pote de Ouro”, participou da composição da faixa “Agridoce”, de Luiza Possi com Lulu Santos, e foi convidada para abrir os shows do Coldplay que acontecem em São Paulo em março de 2023.
Como ela mesma define, tem uma “carreira pandêmica”. Começou a publicar covers de artistas nacionais e internacionais em seu canal no YouTube em 2018, mas foi durante a pandemia que sua carreira começou a decolar, depois de sua participação no projeto Poesia Acústica, em dezembro de 2019. Ela participou da oitava faixa da série de rap acústico, intitulada “Amor e Samba”, com nomes como Projota e Cynthia Luz. Depois disso, “as oportunidades começaram a aparecer”, conta. E foram tantas que, em 2020, assinou com a Warner Music Brasil e deu início a uma rotina de lançamentos solo, como as faixas “Falei de você pra minha mãe” e “Ninguém dá certo cmg”. A mais recente, “Telepatia”, chegou com um clipe que transmite a mesma leveza de sua voz.
Com um amálgama de referências que vão desde o metal de Iron Maiden até o rock nacional de Cássia Eller e Charlie Brown Jr., ela construiu estilo e sonoridade próprios, que atualmente flertam com o trap e sons mais eletrônicos. Independentemente dos caminhos que sua música deve tomar, a influência inicial do rock é inegável e, para ela, é o que a fez chegar rapidamente no estágio promissor que sua carreira se encontra hoje. “Senti que tive um destaque mais rápido porque toco violão de uma maneira diferente que tem referências do rock gringo”, comenta.
O violão, inclusive, é o grande aliado em sua trajetória na música. O interesse pelo instrumento começou desde cedo, aos 8 anos, quando passou a tocar na igreja. “Sempre me apeguei a ter minhas músicas com violão porque era assim que eu compunha, mas percebi que a caixinha da composição é muito maior do que eu imaginava.”
Elana Dara – Foto: Daniel Monteiro
Antes de compor profissionalmente para grandes artistas, ela desenvolveu uma relação íntima com a escrita e criou seu próprio mundo com papel e caneta. Chegou a começar uma faculdade de arquitetura, que cursou por seis meses, mas não descia do ônibus para a universidade. “Ficava escrevendo letra de música e não ia para a aula”, confessa.
Esse amor pela composição, sabemos, tem dado muito certo, e é o que a faz defender com unhas e dentes essa etapa de construção das canções. “A parte da composição é o embrião da música, é ela que vai dizer para qual lado vai a música, qual a sensação da pessoa que está escutando, acho que isso vale muito mais do que todo o resto que tem que ser feito, com todo o esforço de vídeo e lançamento. Se esse embrião não for bom o suficiente para sustentar todo esse resto, a música não vai sair. Não adianta nada ter uma baita estrutura e ninguém querer ouvir sua música.”
Sua luta passa também pela valorização financeira dessa fase embrionária da música. “Não tem que ficar enfiando o dedo. Essa parte de autoral eu acho que é uma questão de honra artística. Se for um real, mil ou um milhão, que a porcentagem seja dividida entre a galera que estava pensando na música. Se enfiar na parte da composição é um desrespeito aos artistas.”
Como uma mulher jovem na cena, ela tem se tornado uma porta voz dos compositores, usando sua voz e experiência para defender e dar dicas para novos artistas. “Valorizar o compositor é valorizar o começo da arte de todo o resto. A galera que esta começando no mercado deve sempre ficar atenta antes de começar a composição para já acertar a parte das porcentagens. É só ser justo.”
Apaixonada por cada detalhe que compõe a música desde o início, ela não deixa de pensar grande e não descarta uma carreira internacional. “Eu posso sonhar alto”, afirma. “A minha ideia é virar uma praga mundial”, brinca. A julgar pelo seu início arrebatador, é certo que ainda a veremos alçar grandes voos.