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Zoo: “Acham que quando a mulher vira mãe ela é só isso, mas mãe dá conta de muito”

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Cantora e compositora Zoo lança seu primeiro EP, “DSLA” – Créditos: Karina Martins

“Minha caminhada até aqui foi muito boa para me fortalecer, para ser uma escola, mas hoje, perto dos 30, me sinto pronta para viver o meu sonho”, afirma Zoo, cantora e compositora de Florianópolis que apresenta seu primeiro EP, “DSLA”, já disponível nas plataformas digitais.

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O sonho de viver de música é antigo e já tomou várias formas. Aos 15 anos, ela formou uma banda de rock inspirada em Paramore, da qual era vocalista. “Não passou dos ensaios, a gente não chegou a fazer apresentação. Na época, eu estava estudando, e meus pais acharam que seria melhor focar nos estudos, então acabei não indo para a frente com a banda, mas era meu escapismo”, conta.

Em 2014, durante uma viagem com uma agência de modelos para a China, recebeu um convite para fazer pocket shows em um clube e pôde dar vazão à paixão pela música mais uma vez. “Foi onde eu descobri que queria viver disso para o resto da vida”, afirma. Quando ela diz isso para mim, com a mediação de uma tela na chamada por vídeo, o brilho no olho está lá – provavelmente ainda o mesmo de quando ela cantou para o público pela primeira vez.

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Zoo – Créditos: Karina Martins

“Quando eu voltei para o Brasil, minha primeira iniciativa foi tentar renovar o visto para voltar para a China e trabalhar com isso. Eu tinha me encontrado lá”, compartilha. “Mas aconteceram algumas coisas nesse meio tempo, acabei ficando no Brasil. Até tentei minha carreira aqui, só que na época não tinha dado certo por conta da equipe que estava trabalhando comigo. Só que depois eu quis de novo me conectar com a música e seguir nessa carreira.”

Esse período de sua vida me faz lembrar uma frase comum entre artistas, que já ouvi da DJ Curol: “Foi como se a música estivesse me esperando todos esses anos”. Tanto foi assim que as coisas começaram a acontecer naturalmente quando ela decidiu voltar. Recebeu o convite para gravar a música “Brisa”, que depois ficou conhecida na versão regravada com a dupla JetLag, um dos nomes mais conhecidos da música eletrônica nacional.

“Entrei em turnê com eles durante três anos. Quando veio a pandemia, a gente parou. Agora estou retomando a minha carreira solo, fazendo o que realmente faz meu corpo vibrar, o estilo de som que eu gosto de cantar”, explica. Esse estilo, como ela define, “no fim do dia, é pop, porque pop é tudo”.

Com gêmeos no mapa astral e a veia da comunicação saltando, o recado que ela passa com a música é mais importante do que a forma em si. “A gente fala muito sobre essa questão de amor-próprio, entender que a gente não é só aquilo que a gente vê no espelho. Como meta pessoal e profissional, eu tenho isso de tentar trazer um conforto ou até mesmo entretenimento para as pessoas.”

Ainda que sua missão profissional e pessoal seja a mesma, esses dois caminhos nem sempre se cruzaram. Mãe de dois filhos pequenos – o mais velho está com três anos –, ela se dedicou a viver uma maternidade real durante a pandemia e chegou a viralizar com fotos sem maquiagem e sem filtro no puerpério. “Vida real de uma mãe no pós-parto: olheiras, pele manchada, descabelada. Pelo menos consegui escovar os dentes e tomar banho”, escreveu na legenda de uma publicação.

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Sua honestidade fez crescer um público interessado no dia a dia da maternidade, levantando questionamento sobre até onde compartilhar. “De uns tempos para cá, muita gente percebeu que eu fiquei mais sumida. Percebi que tem certas coisas que é melhor não expor. A internet dá poder para muitas pessoas que não sabem como direcionar isso. As pessoas nem imaginam o poder que tem um comentário”, diz, como que em desabafo.

A vontade de expor menos sua rotina com os filhos abriu espaço para outras dúvidas. Onde fica a artista uma vez que ela é mãe? Qual o espaço para a profissional que tem filhos? Para onde vão os sonhos quando o dia a dia está tomado com a criação de outro ser humano? No caso de Zoo, eles continuaram lá, esperando o dia que ela conseguisse voltar para abraçá-los mais uma vez.

“Pelo fato de eu ser mãe, eu sinto que muitas pessoas, tanto homem quanto mulher, acham que quando a mulher vira mãe ela é só mãe, e mãe não se limita a isso, mãe dá conta de muita coisa.”

Seu novo bebê – o primeiro EP – se conecta justamente com essa ideia de abraçar todos os lados da subjetividade de um ser humano, principalmente aquele que muitas vezes deixamos ficar adormecido na vida cotidiana. O título do projeto, “DSLA”, é uma sigla para “desperte seu lado animal”.

“Aos 15 anos, quando decidi que meu nome artístico seria Zoo (seu nome de nascimento é Priscila D’Ávila Machado), eu falava esse bordão. Para mim, significa a pessoa se conectar com a essência mais pura dela, com os instintos.”

Essa leveza que vem da liberdade para ser o que se é serve de combustível para inspirar outras pessoas a aceitarem a impermanência da vida. “É assim que eu definiria o conceito que trago com a minha arte: livre de rótulos, original, impermanente. Porque é assim que eu enxergo a vida. Não consigo me descrever em uma coisa só, somos seres mutantes, não precisa ficar o tempo inteiro se colocando em um lugar só.”

“Agora, eu me sinto pronta não só para viver meu sonho como para incentivar as mulheres a viverem os sonhos delas e conseguirem conciliar a maternidade com o profissional. A palavra-chave é rede de apoio”, resume.

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