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Afrobrasilidade e afrobeat em disco de estreia da Anis de Flor

Anis de Flor – Foto: Matheus Trindade

Com a maturidade de quem já possui quase uma década de carreira, Anis de Flor lança “FÉRTIL”, seu disco de estreia, fruto do aquilombamento físico, psíquico e espiritual. Editado pelo Lab Fantasma, o debut que une afrobeat e afrobrasilidades, traz uma equipe protagonizada por pessoas negras e que conta com participações ilustres como Marissol Mwaba, cantora do cast do Lab Fantasma; François Muleka, multiartista que possui letras interpretadas por Luedji Luna; e Alegre Corrêa, multi instrumentista vencedor do Grammy Latino e que trabalhou com João Gilberto e Hermeto Pascoal, entre outros.

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A partir da necessidade de narrar e transmutar as suas vivências e experiências como mulher negra e indígena no sul do Brasil, Anis de Flor criou “FÉRTIL”. O disco é também um espaço que carrega em si a potência da denúncia, junto à uma vontade de se despir das armaduras impostas às mulheres negras e assim, assumir que não precisa ser forte o tempo todo.

“Com FÉRTIL eu aposto muito na força de expressão, na escolha de não mais calar e sim, dar voz à mim mesma, à minha jornada e aos lugares que muitas vezes me são negados. Quando comecei a escrever, não fiz isso com a intenção de transformar em música, mas aos poucos fui entendendo que uma coisa não se separava da outra, principalmente quando você reconhece sua existência como política, e se dá conta de que compartilhar suas impressões sobre as coisas pode ser acalanto e força para quem ouve e se identifica”, explica Anis de Flor.

“FÉRTIL”, primeiro disco de Anis de Flor – Foto: Matheus Trindade

As cinco faixas de “FÉRTIL” narram a invisibilidade e a solidão da mulher negra nas relações em geral, e a busca interna por mecanismos de sobrevivência ao desafeto. A cantora conta que, por meio de sua música, procura falar de fé na ancestralidade, de presença, de falta, de denúncia, de força e de superação, e acredita que conseguiu encaixar estas temáticas em seu álbum de estreia.

“Eu sinto que tenho muitas coisas pra falar, e acredito que iniciar esse processo falando de coisas que não são prazerosas pra mim, pode me abrir portas e janelas pra falar também dos meus prazeres. Compor me encanta, porque acredito muito na potência do diálogo que a música cria entre nós e a nossa cabeça quando estamos abertos para isso. Acredito que é uma linguagem muito espiritual, e que os sons, as vibrações e as palavras mexem com a gente de verdade, mesmo que não estejamos conscientes disso”, avalia a artista.

Pensar a voz como instrumento foi o ponto de partida para as referências musicais apresentadas em “FÉRTIL”. O afrobeat e as afrobrasilidades estão presentes nas canções de Anis de Flor, que transita entre o orgânico e o sintético, produzindo canções ritmadas e dinâmicas, e busca de unir os elementos clássicos e modernos para o fonograma. Desta forma, a cantora consegue unir improvisos, coros e arranjos melódicos em músicas influenciadas por nomes como Mayra Andrade, Luedji Luna, Liniker e Bob Marley.

No álbum, a artista narra sua vivência enquanto mulher negra – Foto: Matheus Trindade

“O movimento de aquilombar-me, me traz pertencimento, confiança e força para seguir e percorrer um caminho hostil. Em um dos Estados em que a existência e relevância de pessoas, principalmente mulheres negras e indígenas são constantemente silenciadas, ao falar de forma poética e sonora das dores e das profundas cicatrizes que o racismo infringe constantemente em pessoas não-brancas, as obras trazem à tona questões que foram cristalizadas estruturalmente e que tem urgência em serem abordadas. Como diz a maravilhosa Angela Davis, a política não se situa no polo oposto ao de nossa vida. Querendo ou não, ela permeia nossa existência, insinuando-se nos espaços mais íntimos. Se o desamor é a ordem do dia no mundo contemporâneo, falar de amor, e no meu contexto, principalmente, de AUTO-AMOR, pode ser revolucionário”, finaliza Anis.

Em seus quase 10 anos de carreira como cantora profissional, Anis de Flor já se apresentou como atração de abertura para Liniker e os Caramelows, foi indicada na categoria “Melhor Intérprete”, no Festival da Canção de Balneário Camboriú (SC), e participou do Festival Sonora (Mulheres Compositoras). Em 2022, também atuou ao lado da Orquestra Camerata de Florianópolis, como vocalista no espetáculo “Bob in Camerata”

O lançamento do álbum “FÉRTIL”, da cantora Anis de Flor, foi viabilizado através do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2021, edital cultural de Santa Catarina.

 

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