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Aline Borges, a Zuleica de “Pantanal”, vive fase extraordinária na carreira

Foto: Marcio Farias

Aos 27 anos de carreira, Aline Borges está sentindo o calor do sucesso de estar numa novela das 21h de grande repercussão. No ar como Zuleica em “Pantanal” e estreando na série “Arcanjo Renegado” (Globoplay) a atriz aguarda para breve o retorno aos palcos com o espetáculo “Contos Negreiros do Brasil” e o começo das gravações da série “B.O.” (Netflix), onde dará vazão a sua verve de comédia.

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Enquanto se prepara para a despedida da personagem que tem lhe proporcionado grande alcance de público, a atriz agradece pelo vulto que a trama tomou e a projeção que deu a seu talento.

Foto: Marcio Farias

“Não imaginava tanta repercussão. A gente sempre aposta no trabalho, mas nunca sabemos como vai ser. E está sendo muito especial. Parece piegas falar que este trabalho é um grande encontro, uma bênção, mas é isso, mesmo. Eu acredito que, para um trabalho ter sucesso, ele precisa ter bastidores incríveis – e aqui todos os envolvidos estão muito entregues, é um trabalho feito com muito amor e paixão. E isso passa para quem acompanha a novela, as pessoas assistem apaixonadas, envolvidas. A novela tem causado uma grande comoção no nosso povo e isso é muito bonito”, diz.

E a fase está tão favorável que Aline, paralelo a todo burburinho da novela, estreia numa série que é sucesso desde a estreia. “Eu entro na segunda temporada de ‘Arcanjo Renegado’ ao lado de pessoas pretas muito potentes, como Zezé Motta, Cris Vianna e Rodrigo França”, comemora a atriz, que na série do Globoplay dá vida a Joana Toro, uma mulher sagaz e forte que é a secretária da governadora Manuela Berenguer (Rita Guedes).

“Joana está na seara política, então precisa de sagacidade para se manter ali. É uma personagem que me ensina muito também por ter esse olhar mais perspicaz para sobreviver num ambiente onde, pelo poder, um quer atropelar o outro e cabeças rolam o tempo todo. E, deste modo, ela vai crescendo dentro do seu cargo, conseguindo ocupar seu espaço de poder e derrubando quem quer derruba-la. Ela tem sangue nos olhos”, adianta a atriz que, na série “B.O.”, fará uma delegada muito competente, mas que tem fixação pelos holofotes e se sente uma celebridade.

E, passadas essas quase três décadas vivendo como atriz, Aline reconhece os desafios e alegrias de sua profissão. Para ela, após tanto tempo, está tendo a oportunidade de um papel que lhe proporciona mais reconhecimento. “Sou parada nas ruas, as pessoas se aproximam com mais intimidade, é uma sensação de resposta muito valiosa. Me sinto presenteada. E isso só chega porque eu semeei este caminho sem desanimar. Venho de uma família onde não existe um histórico artístico, precisei buscar a resistência no meu DNA pra não sucumbir e insisti. Botei fé no meu potencial porque sou artista de alma. Eu amo fazer o que faço e vou morrer fazendo o meu trabalho, vivendo da minha arte”, finaliza.

Leia a seguir o papo que RG teve com a atriz.

Foto: Marcio Farias

Como começou sua carreira de atriz?

Aos 11 anos pisei no palco pela primeira vez, num Festival de Teatro na escola. Ali me descobri atriz. Passei pelo Tablado, Martins Pena, Cal (Casa das Artes de Laranjeiras), vários cursos livres, até que ingressei numa caravana cultural, com 35 artistas de vários segmentos, viajamos o Brasil todo levando arte gratuita nas praças públicas, lugares onde muitas pessoas nunca haviam assistido a uma peça na vida. Foi o lugar que mais me formou enquanto artista.

Quais papéis de sua carreira destacaria?

A Lacraia, personagem que fiz numa série na Record TV, em 2009, é uma que tenho uma enorme gratidão. Personagem forte, que marcou bastante, até hoje as pessoas me param na rua pra falar dela, A partir dessa personagem a Record TV apostou em mim. Fiquei contratada na casa por oito anos. No streaming, destaco a participação na série ‘Bom dia, Verônica’ (Netflix) e, no cinema, ‘Alemão 2’ (José Eduardo Belmonte/2022). O remake de ‘Éramos Seis’, onde fiz uma psicanalista inspirada em Virgínia Bicudo, também me rendeu elogios e me puxou para outros trabalhos.”

Como criou a Zuleica, de “Pantanal”?

Tivemos preparação com a maravilhosa Andrea Cavalcanti. A família Gonçalves foi chegando de mansinho, os encontros com o Murilo [Benício] para aproximar esse núcleo foram essenciais para a gente chegar aquecido. Mas Zuleica foi tomando forma durante o processo todo. Me inspirei na minha mãe, para trazer esse amor que é uma fortaleza, pelos filhos, me inspirei nas mulheres pretas que admiro, que mesmo com todo racismo que nega oportunidades, conseguiram dar a volta por cima e construir a vida com dignidade, com honra, zelando por seus princípios, sem passar por cima de ninguém. As mulheres admiram muito a postura da Zuleica, recebo inúmeras mensagens positivas por conta dela.

Foto: Marcio Farias

Imaginava que a receptividade com sua personagem seria tão positiva?

Não. A gente nunca sabe como o público vai receber o nosso trabalho. É uma incógnita. Eu tive receio dela ser massacrada, porque infelizmente a gente vive em um País extremamente machista, preconceituoso, as pessoas têm prazer em apontar o dedo e julgar o outro. E Zuleica sendo a 2ª mulher de Tenório, automaticamente teria uma rejeição. Que teve, inclusive, mas foi suave, acho que as pessoas foram se encantando com ela. Se permitiram conhecer melhor a personagem. Lembro-me de ter lido uma mensagem assim… “Eu tento não gostar da Zuleica, mas a Aline Borges não deixa!”

Essa frase parece fofa, mas carrega um preconceito grande, porque essa pessoa tenta não gostar da Zuleica, apenas porque ela é a 2ª mulher do Tenório… Isso já leva ela para um lugar ruim, de menos valor na cabeça das pessoas. Precisou de tempo para o público conhecer a índole dessa mulher. Eu sou muito fã da Zuleica! Acho ela muito maravilhosa. (Risos)

Tem sentido essa troca nas redes sociais e nas ruas?

Sim! É impressionante o alcance de “Pantanal”. Onde eu vou tem sempre alguém que grita meu Deus, a Zuleica!!! É sempre uma manifestação de carinho com muito entusiasmo, as pessoas estão de fato encantadas com “Pantanal”. É lindo observar o poder que essa obra tem.

Foto: Marcio Farias

E como surgiu a oportunidade para estrear em “Arcanjo Renegado”?

Fui convidada pra fazer “Arcanjo” pelo José Júnior. A gente se conhece há anos, sou grande admiradora da transformação social que ele faz com o Afroregae e agora no audiovisual. 90% das pessoas que trabalham com ele são pessoas pretas. O Zé procura dar oportunidades para as ditas “minorias” tem essa responsabilidade social. Quem tem essa visão no mercado hoje? A gente pode contar no dedo. Então me orgulha muito fazer parte dos projetos dele. Eu já me sentia um pouco da família “Arcanjo” porque o Alex Nader, meu marido, que também é ator, fez a 1ª temporada, foi o sargento Rafael, então eu já estava super por dentro da história. Já era fã da série, que é um grande sucesso. Quando chegou o convite eu só celebrei!!

Você vai estrear também no teatro, com o espetáculo “Contos Negreiros do Brasil”, fale sobre isso?

O espetáculo “Contos Negreiros do Brasil” está parado neste momento. É provável que a gente faça alguma apresentação em novembro. Mês da Consciência Negra.

Foto: Marcio Farias

Acha que a representação preta no audiovisual avançou?

Acho que estamos avançando a passos lentos. À medida que tivermos mais diretores e roteiristas pretos, esse avanço acelera.

Você é feminista, se sim, como se posiciona frente ao tema?

Sou uma mulher que foi criada em uma estrutura machista e que despertou através da arte. Então, hoje, educo minha filha com uma visão feminista, para que ela entenda sua potência dentro de uma sociedade machista. Meu posicionamento é em busca da desconstrução desse grande mal da nossa sociedade. Que fez durante muito tempo com que nós mulheres subestimássemos nosso lugar, nossos espaços. Crio minha filha para que ela entenda sobre seus direitos enquanto mulher e que jamais permita ser oprimida por nenhum homem.

Foto: Marcio Farias

Como lida com as redes sociais, é ligada e Instagram e tal?

A rede social é importante, mas pode adoecer. É um campo minado, na verdade!

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