Foto: Ricardo Fasanello
Depois de passar seis meses na Austrália, em período sabático, Nelson Freitas está de volta. Que bom. O ator é o protagonista de “Eike – Tudo ou Nada”, que estreia nesta quinta-feira em circuito nacional. O filme, baseado no livro “Tudo ou Nada”, da jornalista Malu Gaspar, conta a história do empresário Eike Batista e sua derrocada do topo das fortunas à ida para a prisão. “Eu tinha convite para fazer novela, mas optei pelo filme por achar que era muito mais relevante tanto para a minha carreira, como para o Brasil”, conta.
SIGA O RG NO INSTAGRAM
Ex-militar, Freitas é do tipo de pessoa que você ri enquanto entrevista. As sacadas de humor rondam o ator, que não deixa passar um bom comentário com uma gargalhada no final. Formado pela Escola de Oficiais da Marinha Mercante, só após se dedicar à carreira decidiu se se jogar no ofício da interpretação. Conhecido por seus papeis humorísticos, só no “Zorra Total” foram 15 anos, Freitas é dinâmico: canta, dança, interpreta. “Eu já cantava, dançava, mas ao longo da carreira eu fui ver que tinha essas habilidades reais. Eu fiz 15 musicais, e sempre digo, que o artista de musical é um artista diferenciado.”
Além de “Eike – Tudo ou Nada”, é possível ver Freitas, que tem 36 anos de carreira, no cinema e no streaming com outros trabalhos. Fez outros quatro filmes na pandemia e ainda gravou a segunda temporada da série “El Presidente”, da Amazon Prime Video, ainda sem data de estreia.
Ele tem ainda um projeto de podcast que estreou recentemente, o “Embaralha e Dá de novo”. Ao lado de André Dessandes, diretor do projeto, e Fernanda Loureiro, ele bate um papo, a cada 15 dias, sempre com dois convidados especiais. “Podcast já caiu no gosto popular. As pessoas estão ouvindo cada vez mais no Brasil, seja enquanto estão fazendo atividades domésticas ou dentro do carro. Ao invés de ficarem vendo notícias ruins na TV, têm a oportunidade de ouvir um programa na internet sobre temas que giram em torno do comportamento humano, economia, arte, meio ambiente e espiritualidade, provocando reflexões e apontando caminhos, sempre com muito humor e criatividade”, conta. Ah, tem também o seu canal no YouTube, o Nelson Freitas Oficial, onde espalha mensagens inspiracionais.
Foto: Ricardo Fasanello
Leia a seguir o papo que RG teve com o ator via Zoom.
Como começa sua carreira de ator?
A minha trajetória é muito discrepante até certo ponto, porque ele fui talhado para ser militar, meu pai faleceu e eu tinha um tio “milico”, que me colocou na escola de militares com a esperança que eu fizesse parte do Exército Brasileiro. Só que quando acabou colégio, em vez de eu ir para a Academia das Agulhas Negras, fui para a Escola de Oficiais da Marinha Mercante e me tornei oficial. Saí viajando pelo mundo, eu já tinha vestido a minha farda, a família ficou feliz, agora era hora de fazer o que eu gostava. Eu gosto do que eu sou. Eu já representava dentro da instituição militar, sempre era o palhaço da turma, sempre provocando e promovendo eventos, festas, teatro, festival da canção. Aí eu larguei as coisas na minha casa em Salvador, em 1986, e fui fazer o curso profissionalizante de teatro em 1987, mas eu queria ser cantor, na verdade, eu já imitava o Elvis Presley, Raimundo Fagner, Belchior [cantando “Estava mais angustiado, que um goleiro na frente do gol”]. Aí comecei minha carreira, são 36 anos, já fiz muita coisa, musicais, cinema, televisão, programa de humor, programa de auditório, e acabei fazendo 15 anos de “Zorra Total”, com o Maurício Sherman. Quando eu voltei da novela “Chiquititas”, em Buenos Aires, há 25 anos, o Sherman me ofereceu um quadro no “Zorra”, e eu fui muito bem recebido pela turma do humor, turma da pesada com Jorge Dória, Agildo Ribeiro, Milton Gonçalves, Castrinho, saudosos, e virei comediante, quer dizer eu finjo que sou comediante, eu finjo tão bem que o povo acreditou (risos).
E o fato de você cantar e dançar, como é isso na sua carreira?
Eu já cantava, dançava, mas ao longo da carreira eu fui ver que tinha essas habilidades reais. Eu fiz 15 musicais, e sempre digo, que o artista de musical é um artista diferenciado. Porque não é você ensaiar uma peça e representar depois, o artista de musical rala o tempo inteiro, a preparação é muito dramática, é um sacerdócio muito completo, onde você tem canto, dança, interpretação, cuidado com a voz. O último que eu fiz foi “Se Eu Fosse Você”, aquela troca de personalidade que há no filme com Glória Pires e Tony Ramos, eu fiz no teatro com a Cláudia Neto, então 80% da peça eu era Helena, foi um trabalho gigante e eu não queria ficar com a pecha de quem estava “está fazendo comédia”, não eu queria realmente ser uma mulher. Eu chegava duas, três horas antes no teatro, tinha passagem de corpo, coreografia, voz, uma orquestra que está no fosso com o metrônomo na cabeça, é uma loucura, eu respeito demais todo artista de musical. E com isso eu ganhei cancha para poder dançar, cantar, chupar cana, assoviar e cuspir fogo ao mesmo tempo (risos). Depois fiz “Dança dos Famosos”, que fiquei em segundo lugar, aí teve o “Show dos Famosos”, que foi muito legal também, poder fazer a Tina Turner, o PSY, o Alejandro Sanz, no Faustão. Posteriormente, teve a “Super Dança dos Famosos”, que eu acabei saindo, e que se eu não saísse, não conseguiria fazer o filme do Eike. Me lembro que eu estava no Uruguai, gravando a série da Amazon Prime Video “El Presidente”, voltei fui para a “Dança”, saí da “Dança”e comecei as preparações par o filme – isso tudo na pandemia (risos).
Foto: Ricardo Fasanello
Conte sobre interpretar Eike Batista? Quer dizer, como surgiu o convite e tal?
O convite foi muito inusitado, vamos combinar, porque achar um cara que já tem um rótulo de comediante durante tanto tempo, mas a Ciça Castelo, que é produtora de elenco, sugeriu meu nome ao Tiago Resende, que é o produtor do filme, que comprou os direitos da autora Malu Gaspar há cinco anos. Eles me viram em uma entrevista na TV e disseram, é ele, pode chamar. Eu tinha convite para fazer novela, mas optei pelo filme por achar que era muito mais relevante tanto para a minha carreira, como para o Brasil. A história de Eike Batista não cabe em um filme, teria que ser uma série.
Foto: Ricardo Fasanello
O que mais te atraiu na personagem?
Eu diria que foi a coragem dele. Ao longo do processo de pesquisa exaustiva que fiz, o que mais me chamou a atenção foi a coragem. Tudo o que ele fez na vida foi de muita coragem. Já é muito difícil você fazer uma pessoa que existe, né? Porque um personagem fictício, você cria, interpreta. Com o Eike não dava para ficar inventando moda. Ele saiu lá da Europa e veio atrás de ouro em Serra Pelada para negociar com garimpeiro, depois foi campeão mundial de offshore, casou-se com a Luma de Oliveira, uma da mulheres mais sexy do planeta, de acordo com a revista “Playboy” daquela época, as empresas, os negócios, peitar a Petrobras, tudo isso precisou de muita coragem. O filme está bom, espero que nas duas primeiras semanas as pessoas possam ver. A história já é muito curiosa, as pessoas querem saber como esse homem perdeu R$ 35 bilhões, como ele saiu da sétima fortuna do mundo e acabou na prisão? E como eu costumo dizer, é uma história triste, não só para ao Eike, evidentemente. Acho que o maior atrativo do filme é esse mesmo, saber como tudo aconteceu. Eu estou louco para que ele veja o filme.
Vocês tiveram contato?
Não, mas eu adoraria, para falar a verdade. A produção teve uma decisão muito sensata neste sentido, porque mistura política, mistura tudo, a época em que aconteceu era no governo Lula e Dilma, nas vésperas da eleição. Então eu acho que qualquer coisa que pudesse criar algum tipo de tendência, de malícia, de botar o filme como chapa branca… Optamos por isso [não ter contato com ele]. A própria Malu [Gaspar, autora do livro em que o filme foi baseado], quando foi visitar a gente no set, disse: “ele encarnou o cara” (risos).
Com está a expectativa com a estreia?
A gente está aguardando que o público vá ao cinema, porque isso vai definir se ficamos duas, três, quatro semanas em cartaz. Porque o exibidor não quer saber, ele tem que pagar as contas dele, e é preciso que o público esteja presente. Por enquanto a gente não teve nenhuma crítica feia, que desabonasse o filme. Eu achei tudo tão incrível, porque teve cenas inteiras que foram cortadas, mas quando você vai assistir, pensa: tá enxuto, perfeito.
Tiveram situações curiosas nas gravações, que você possa contar?
Sim, faltando três dias para terminar o filme eu tive apendicite, e tive que fazer uma cirurgia de emergência, fiquei 15 dias afastado, para só depois terminar, com uma outra equipe de filmagem. No hospital eu disse para a doutora” “Me dá algum remédio só para eu acabar as filmagens e que depois eu faria a cirurgia, ao que ela respondeu: “O senhor que não está entendendo, a sala já está pronta, o senhor vai operar agora” (risos). Oura coisa é que quando a gente está fazendo um filme, no final já queremos que acabe logo, e neste foi diferente, nós não queríamos que terminasse nunca. A equipe era sensacional, muita gentileza, muito profissionalismo, havia abertura para colocar um caco [improviso].
Além desse filme do Eike, tem outros que você gravou. Fale sobre eles.
Sim, eu fiz cinco filmes na pandemia. O do Samuel Machado chama-se “Nina”, onde interpreto um policial acusado de matar a própria mulher. Tem o “Tração”, do André Luís, que levou dois anos sendo gravado e fala sobre o universo das motocicletas, e onde eu faço o vilão. Tem também “Saraliaeleia”, gravado em Maragogi, em Alagoas, um filme doce, lindo. E depois “Sistema Bruto”, em eu que e a Marisa Orth somos os pais da protagonista. O filme está para ser lançado agora, no fim deste mês. E a segunda temporada de série da Amazon “El Presidente”, que esse eu não posso falar nada, só quando sair.
Foto: Ricardo Fasanello
Quais são seus próximos projetos?
É ser feliz e voltar correndo para a Austrália (risos). Eu passei seis meses lá e foi uma espécie de sonho, conheci tanta gente, vivi em um país tão distinto quando se trata de bem-estar da população. Mas eu tenho alguns projetos que já estão sendo encaminhados, inclusive levar o meu podcast, “Embaralha e Dá de Novo”… A gente faz um traçado da humanidade, de erros e acertos, de coisas fantásticas e outras nem tão fantásticas. Temos cinco capítulos disponíveis no Spotify, e minha ideia agora é voltar ao objetivo principal, que é levar o podcast para o palco como um novo show com uma proposta diferente, para que o público entenda um pouco desse mundo maluco em que nós estamos vivendo, com a era digital, com o que é politicamente correto, que antes podia e agora não pode mais, com posicionamentos que a gente cresceu achando que eram normais, e que não são mais, como uma roupa que você tem no armário e não te serve mais. Na minha idade, aos 60 anos de idade, com tudo o que eu fiz na minha carreira, a minha vontade é de contribuição cada vez mais. Por isso o meu canal no YouTube também, no qual eu não sou motivacional, prefiro dizer inspiracional. Ali eu coloco coisas muito agradáveis para as pessoas respirarem e aproveitarem cada segundo, porque acordar de manhã é uma dádiva.