A companhia carioca traz de volta “Cão sem Plumas” ao Teatro Alfa com temporada de 28 de setembro a 2 de outubro. O espetáculo deu a Deborah Colker o Prix Benois de la Danse, considerado o “Oscar da Dança”, de melhor coreógrafa. Os valores dos ingressos são a partir de R$ 25 e podem ser adquiridos no site www.sympla.com.br ou na bilheteria do teatro.
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Deborah faz em “Cão Sem Plumas”, baseado no poema homônimo de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), seu primeiro espetáculo de temática explicitamente brasileira. A estreia aconteceu em 3 de junho de 2017, no Teatro Guararapes, em Recife.
Publicado em 1950, o poema acompanha o percurso do rio Capibaribe, que corta boa parte do estado de Pernambuco. Mostra a pobreza da população ribeirinha, o descaso das elites, a vida no mangue, de “força invencível e anônima”. A imagem do “cão sem plumas” serve para o rio e para as pessoas que vivem no seu entorno.
“O espetáculo é sobre coisas inconcebíveis, que não deveriam ser permitidas. É contra a ignorância humana. Destruir a natureza, as crianças, o que é cheio de vida”, diz Deborah.
A dança se mistura com o cinema. Cenas de um filme realizado por Deborah e pelo pernambucano Cláudio Assis – diretor de longas-metragens como “Amarelo Manga”, “Febre do Rato” e “Big Jato” – são projetadas no fundo do palco e dialogam com os corpos dos 13 bailarinos. As imagens foram registradas em novembro de 2016, quando coreógrafa, cineasta e toda a companhia viajaram durante 24 dias do limite entre sertão e agreste até Recife.
A jornada também foi documentada pelo fotógrafo Cafi, nascido em Pernambuco. Na trilha sonora original estão mais dois pernambucanos: Jorge Dü Peixe, da banda Nação Zumbi e um dos expoentes do movimento mangue beat, e Lirinha (cantor do Cordel do Fogo Encantado, poeta e ator), além do carioca Berna Ceppas, que acompanha Deborah desde o trabalho de estreia, “Vulcão” (1994). Outros antigos parceiros estão na cenografia e direção de arte (Gringo Cardia) e na iluminação (Jorginho de Carvalho). Os figurinos são de Claudia Kopke. A direção executiva é de João Elias, fundador da companhia.
Os bailarinos se cobrem de lama, alusão às paisagens que o poema descreve, e seus passos evocam os caranguejos. O animal que vive no mangue está nas ideias do geógrafo Josué de Castro (1908-1973), autor de “Geografia da Fome” e “Homens e Caranguejos”, e do cantor e compositor Chico Science (1966-1997), principal nome do mangue beat. O movimento mescla regional e universal, tradição e tecnologia. Como Deborah faz.
Para construir um bicho-homem, conceito que é base de toda a coreografia, a artista não se baseou apenas em manifestações que são fortes em Pernambuco, como maracatu e coco. Também se valeu de samba, jongo, kuduro e outras danças populares.
“Minha história é uma história de misturas”, afirma ela. O espetáculo já foi apresentado em mais de 30 cidades brasileiras, tendo um público de mais de 150 mil pessoas, e, internacionalmente, nos Estados Unidos, França, Reino Unido, Alemanha e Uruguai. Seu grupo se firmou como fenômeno pop em “Velox” (1995), “Rota” (1997) e “Casa” (1999). Os espetáculos “Nó” (2005), “Cruel” (2008), “Tatyana” (2011) e “Belle” (2014) trataram de temas existenciais, como os afetos.
Em “Cão Sem Plumas”, Deborah reúne aspectos de toda a sua carreira. Posteriomente, a companhia realizou “Cura”, com o qual vinha se apresentando desde outubro de 2021. “Cabem a elegância do clássico, a lama das raízes e o olhar contemporâneo. O nome disso é João Cabral”, diz ela. Reconhecida internacionalmente, Deborah recebeu em 2001 o Laurence Olivier Award na categoria Oustanding Achievement in Dance (realização mais notável em dança no mundo). Em 2009, criou um espetáculo para o “Cirque du Soleil: Ovo”. Em 2016, foi a diretora de movimento da cerimônia de abertura das Olimpíadas do Rio de Janeiro.