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Camilla Camargo: “Sou uma atriz que canta, não uma cantora que atua”

Foto: Patrícia Canola

Camilla Camargo, filha de Zezé Di Camargo e Zilú, enfatiza que é uma atriz que canta, e não uma cantora que atua, embora tenha muitos familiares no mundo da música. A atriz, formada em rádio e TV, diz que estar em um horário nobre na TV é importante, mas lembra que a carreira de um ator é construída degrau a degrau.

Para ela, atuar nos EUA foi um desafio, por conta da língua, embora seja fluente no inglês. Todavia, como atriz latina, vê a necessidade de representação dos latinos nos EUA.

Camila fala também da vida pessoal, de seu próximo trabalho e nos dá um spoiler e, ainda, trata de assuntos delicados como autoaceitação e pluralidade.

Leia o papo que RG teve com a atriz.

Camilla, embora todo mundo conheça muito a Wanessa, você também é filha de Zezé e Zilú e, com certeza, isso mudou a sua vida e a fama de seu pai influenciou toda a sua carreira. Como foi isso na sua vida?

O caminho das artes cênicas e da música têm menos em comum do que se espera em um primeiro momento. E eu escolhi pelo primeiro caminho desde bem cedo, mesmo vivendo em uma família de cantores, não apenas meu pai e irmã, mas vários tios e primos também são excelentes cantores. Para se ter uma ideia, foi aos 8 anos que eu pedi para os meus pais me inscreverem no meu primeiro curso de teatro, e na escola eu já era aquela que pedia os papéis de protagonista enquanto grande parte das crianças ficava tímida (risos). Já fiz musicais, e aí sim se mistura um pouco toda essa coisa de ter crescido em um ambiente musical, mas sempre brinco que sou uma atriz que canta, e não uma cantora que atua. Tenho muito orgulho da minha família, mas também tenho orgulho de ter trilhado uma trajetória independente em que cada trabalho foi fruto do meu desempenho, dos testes que fiz, de outros trabalhos como atriz vistos anteriormente, e por aí vai, não de indicação. É o caso, por exemplo, do meu último trabalho no Disney+, e foi também o caso de tantos outros, como “Travessia”, agora disponível no Prime Vídeo, “Intervenção” e “Carinha de Anjo”, ambos na Netflix, além de tantas peças, já que foi nos palcos em que fiz minha base, com mais de 22 espetáculos teatrais, e por aí vai…

Embora hoje você seja atriz, estudou rádio e TV. Você usa algo do curso para atuar? Você fez a escola Wolf Maia também, não?

Acredito que tudo que estudamos, aprendemos, acrescenta em algo. E com a minha faculdade de rádio e TV não foi diferente. Você aprende como a câmera funciona, por exemplo,  a se posicionar melhor para ela em uma cena, saber dos processos de produção e por aí vai, então tudo acaba sempre trazendo benefícios. Sobre o Wolf, foi uma escola realmente maravilhosa, mas não foi a única que fiz. Eu já fiz muitos cursos de teatro, com o ator e diretor Jair Assumpção, Ana Paula com a técnica Meisner, entre outros. O ator sempre deve buscar se renovar, estar em movimento… Quando um artista está iniciando a carreira, que foi meu caso muitos anos atrás, ainda na adolescência, é normal começar um projeto colocando em dúvida o quanto se está pronto, justamente por não se ter também tantas experiências anteriores, mas às vezes é preciso ir seguindo um passo de cada vez, e simplesmente ir. Comecei a fazer audições para trabalhos e fui passando e, assim, cada vez mais acreditando que aquela era a hora de iniciar.

3-    Como foi para você participar de um espetáculo dirigido pelo próprio Wolf Maia? E a sua estreia na TV como foi? “Em família” mudou a sua vida? Estar em um horário nobre da TV muda completamente a vida de um ator?

Foi incrível ser dirigida pelo Wolf, ele é um diretor maravilhoso que ensina muito para a gente durante todo o processo, foi uma honra para mim. Estrear na TV na novela “Revelação”, do SBT, foi uma delícia e um grande aprendizado. O SBT é uma emissora muito família e te recebe com muito carinho, fui sempre muito feliz lá. Já fazer a novela “Em Família” foi um trabalho muito especial também, entre outros motivos, pelo seu enorme alcance… O horário nobre da Globo traz uma visibilidade absurda e isso pode mudar muita coisa sim. Mas acredito que o trabalho do ator é feito de degrau por degrau, com cada trabalho, cada personagem, e não feito por uma obra só, e isso que venho construindo ao longo dos anos.

Foto: Patrícia Canola

Soube que você já atuou fora do Brasil, nos EUA, especificamente. Como são aceitos os atores latinos por lá?

Fiz uma participação em um longa-metragem americano, se chamava “The Brazilian”, e foi produzido por Uri Singer. O primeiro desafio foi o idioma, mesmo que se tenha fluência, e isso porque quando você atua na sua língua nativa é tudo muito instintivo, já que você sente a força de cada palavra de forma muito instantânea, já em inglês, por mais que, como eu disse, se tenha fluência na língua, quando você não está com ela tão presente no seu dia a dia, aparece aquele processo: se concentrar no texto, mas também no sentimento que cada palavra representa. O desafio é deixar que o texto seja fluido e inspire sensações verdadeiras.

O restante do processo é bem similar. Quanto a como são vistos os atores e atrizes latinas, bom, eu vejo que cada somos vistos menos dentro de estereótipos, o mundo vem pedindo por isso. Ainda existe, sim, uma certa sub-representação de atores latinos no mercado americano, isso é notório, a porcentagem de população latina residente fora não é nem perto, proporcionalmente, do que existe no audiovisual, mas tem melhorado muito. Com o streaming a gente tem visto as oportunidades se ampliando! E isso vale também para os perfis de papel para etnias diversas, antes a gente via muito nas tramas sempre o latino colocado como o bronco, já a latina como a sexy, e hoje o mundo está nos enxergando mais como somos: plurais. Mas importante dizer, ainda tem que melhorar.

Como foi para você retomar o trabalho logo após ter filho? Creio que tenha sido uma loucura, como você consegue conciliar? E como você enxerga esse tema? 

Eu estava com muita vontade de voltar a trabalhar. Eu amo atuar. Eu sou privilegiada de fazer o que realmente me instiga, me motiva… Mas ao mesmo tempo, não tenho como dizer que tudo são flores, porque depois de ficar meses ao lado do seu bebê, ter menos tempo disponível com ele causa um sentimento de culpa, que eu vejo que é muito comum entre as mães, que precisa ser trabalhado na nossa cabeça e coração e, claro, ser ultrapassado. Dá um aperto no coração, mas é extremamente necessário. Assim como é necessário quando você leva seu filho na escola e nem sempre ele está tão animado em ir, mas é muito importante socializar com outras pessoas, começar a ter uma pequena ideia de compromisso. Então são processos essenciais, fases importantes. E como eu consigo conciliar tudo? Contando com uma rede de apoio incrível, e eu amo essa expressão porque ela define exatamente como esse amparo para a mãe faz com que ela siga sendo um indivíduo, uma mulher, uma profissional, além de mãe. A real é que a gente tenta conciliar, mas só sabe como vai ser na hora, se organizando e fazendo dar certo.  

Autoaceitação e pluralidade, dois assuntos bem contemporâneos e delicados que foram abordados no audiobook que você fez a narração.  Como é falar disso para o público infantil? O vocabulário, a aceitação e a repercussão como foram?

São assuntos urgentes, falar disso é essencial, claro que como entra em um terreno que mexe com autoestima, algo tão importante para todos nós. Tem que ser abordado de forma delicada e fácil para um público novinho. Não dá para falar de uma forma tão densa. Tem que ser abordado de forma leve e divertida, justamente para que prenda a atenção, e isso tudo tem no audiobook. Sobre pluralidade, é missão de todos nós criarmos as futuras gerações já entendendo que as diferenças são naturais e lindas. Na verdade, eu acredito que as crianças, todos nós quando bem pequenos, não nascemos nos vendo diferentes, nascemos nos vendo como iguais e é a sociedade que faz com que no decorrer da vida a gente vá criando ideias equivocadas. A gente precisa retomar a pureza de espírito de quem não se vê melhor ou pior do que o outro. E se ainda estamos em uma sociedade, em que fora de casa, nem sempre é isso que vemos acontecer, é necessário que a gente reforce, converse, e mostre que a diversidade é especial e necessária. Aliás, importante dizer que autoestima e autoaceitação não têm apenas a ver com aspectos físicos, embora, claro, também tenha, mas tudo muda quando nos sentimos também interessantes, capazes…

Foto: Patrícia Canola

O que vem de novidade pela frente?

Profissionalmente vem novidade por aí, gravei nos últimos meses uma série da Disney + em que, alerta spoiler (risos), interpreto uma artista plástica com quem me identifiquei em muitos pontos. E indo para um âmbito mais geral, posso dizer que, hoje, essa Camilla atriz, mãe, esposa, filha, irmã, amiga está aprendendo como parte do mercado ainda enxerga as mães com filhos pequenos, importante dizer que não é uma generalização de forma alguma, mas existe volta e meia um questionamento de “não sei se é boa ideia porque ela tem filho pequeno”…

Meus filhos são minha base, meu norte, meu coração fora do peito, e eles têm todo meu amor e dedicação, mas isso não pode ser compreendido como alguém que, comprometida com seu trabalho, vá se dedicar menos na profissão. Sinto que muitas mães passam por isso em diversas profissões, de ser posta em dúvida, qual seria o tamanho da sua dedicação se você tem filhos? Não imaginava que isso acontecia, mas, sim, é uma realidade.

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