Cultura

Bala Desejo no Coala Festival: “Ápice da nossa trajetória”

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Foto: Leco Moura

Por Bianca Argolo

Amigos de longa data, desde a época da escola, os músicos cariocas Dora Morelenbaum, Julia Mestre, Lucas Nunes e Zé Ibarra integram o acontecimento-encontro nomeado Bala Desejo. O disco de estreia do quarteto, “Sim Sim Sim”, foi concebido no período de isolamento, no qual decidiram morar juntos entre o Rio de Janeiro e Minas Gerais. Lançado neste ano pelo selo Coala Records, o álbum vem da vontade do grupo em ofertar um presente: através do afeto, do corpo, do sexo, da libido, do “sim”, do desbunde, do amor e da festa, o Bala Desejo anuncia para o mundo o desejo do Recarnaval, usando o poder e a energia da música como agente de esperança e de mudança de atmosfera nos dias de hoje.

Neste mês, o Bala Desejo apresenta-se pela primeira vez no Coala Festival, em São Paulo. A concretização dos quatro como banda veio a partir do convite para que integrassem o line up da edição de 2021, que foi adiada pela pandemia – o convite, então, ressignificou-se e deu origem à gravação do primeiro álbum.

“Quando a gente fala da trajetória do Bala Desejo, a gente pensa nesse arco de um disco que foi lançado em janeiro e vemos o momento do show do Coala Festival, no dia 17 de setembro, como um momento de ápice da nossa trajetória, porque o show do festival foi o nosso primeiro show a ser colocado na agenda quando decidimos ser Bala Desejo, foi o nosso primeiro show fechado. A gente está muito ansioso para esse show por ser muito especial, que vai mexer com muitas emoções, pois a gente tem um carinho muito grande por toda a equipe Coala e por eles realmente terem feito um sonho se realizar”, dizem.

Como homenagem à tradição dos LPs, “Sim Sim Sim” é composto por duas partes (lados A e B) em timbres que fazem alusão nostálgica ao movimento Tropicália no imaginário do público brasileiro.

“O Bala acho que tem a ver com isso mesmo, se apropriar de uma estética antiga, da MPB setentista, e tentar atualizá-la, tratando dos temas de hoje em dia, com a energia de hoje em dia.”

Leia a seguir entrevista RG fez com os artistas.

Na canção “Embala pra Viagem”, canta-se “vendo bala, compro desejo”. De onde parte o desejo que dá nome ao grupo?

Zé Ibarra – Essa faixa é a faixa que abre o disco “Sim Sim Sim” e, com ela, tentamos dar conta da história, do fio condutor de todo o disco. Nela, o bloco do Bala Desejo, ou melhor, o Recarnaval do Bala Desejo vem chegando, vem convocando todos a participarem da nossa viagem. O desejo do Bala vem de uma escolha conceitual que fizemos quando nos questionamos qual tinha de ser a tônica de um disco pós-pandêmico. Percebemos que o que nós e o mundo estavam precisando naquele momento e ainda agora era do afeto, do corpo, do sexo e da libido. Nossa principal vontade com o álbum era ofertar um presente para quem o fosse ouvir, e achamos que era através desse assunto que o presente se faria mais útil e eficaz na realidade do momento atual.

O primeiro álbum do Bala Desejo se deu em um contexto de isolamento pandêmico no qual os quatro integrantes estavam morando juntos. Atualmente, como o processo criativo está se dando em meio a tantas viagens, shows e projetos paralelos?

Zé Ibarra – Atualmente, não há processo criativo (risos). A dinâmica natural dos discos é essa mesmo, a de compor, criar, estruturar e depois reproduzir e vivenciar aquelas ideias na vida real. Nós agora estamos nessa segunda etapa. Faz quase um ano que não compomos nada, mas não há grilo nisso, é o jeito, é um processo natural. Daqui a pouco novas ideias vão com certeza começar a pairar em cima de nós, até condensarem e reclamarem por uma atitude nossa, aí sentaremos e faremos o que tiver de ser feito.

O interesse do coletivo por expressões e manifestações artísticas vai além da música e isso é nítido nas maquiagens, no styling e no próprio modo de conduzir os shows. Como estes elementos estéticos que circundam o Bala Desejo caracterizam cada um de vocês e como complementam as canções?

Lucas Nunes – Então, obviamente, eu acho que cada um de nós tem a sua característica, seu estilo estético, tanto de maquiagem, roupa, desde antes do Bala Desejo. Mas, é tão doido como nessa proposta de fazer esse álbum, naquele momento enclausurado que vivíamos cada um em sua casa, a gente tentou potencializar cada parte de nós individualmente, como coletivo, principalmente. O objetivo sempre foi a gente dar um certo presente pro público, a gente queria fazer um álbum sobre o “sim”, o desbunde, o desejo, o amor, a festa… A ideia desse presente veio primeiro a partir das composições e depois foi se expandido para esses outros lugares, e isso foi tão importante pra gente pela comunicação com o público, o jeito que a nossa imagem que chega pra galera que ouve a gente. E eu penso que a gente consegue, por conta disso, acessar tantas outras linguagens além da música que acabamos chegando um pouco mais longe. Dessa forma as linguagens complementam as canções, elas dão força a tudo que a gente quer dizer sobre o Bala Desejo.

Foto: Leco Moura

Qual é a sensação de já estar trabalhando com artistas que são grandes referências para vocês, como o fato de ter a participação de Caetano Veloso no primeiro álbum? Existe uma “responsabilidade a mais”?

Lucas Nunes – Poxa, a sensação é de alegria imensa, claro! Principalmente, por conta da troca que a gente consegue ter com esses caras tão grandes, tão importantes pra cada um de nós quatro. No meu caso, com o Caetano Veloso, que é com quem eu tenho a maior troca, é bom e importante porque me ajuda a crescer tanto musicalmente. A responsabilidade a mais, pensando nessa pergunta, acho que ela talvez exista, mas a gente não pensa muito sobre isso, sobre o “a mais”. Pensamos mais na responsabilidade de poder mudar a percepção de algumas pessoas que estão do nosso lado e como a música tem esse poder de conseguir mudar a sensação e o clima, principalmente, que a gente está vivendo hoje em dia, trazendo esperança. Eu vejo que essa responsabilidade existe, mas a gente não sente ela como algo “a mais”, e sim como um dever.

Ser comparado ao movimento Tropicália e à MPB dos anos 1970 é um desafio? Como vocês lidam com isto e como enxergam o lugar do Bala Desejo na música popular brasileira atualmente?

Zé Ibarra – Então, a comparação que normalmente surge é antes com os protagonistas do movimento do que com ele em si. Veem muito em nós uma semelhança de energia com Caetano, Gil, Gal e Bethânia. Acho que é natural, uma vez que somos quatro e a aproximação musical é clara. Somos muito apaixonados por tudo o que eles fizeram e não sentimos um peso negativo nessa comparação, e sim uma honra. Levar nas costas essa expectativa de dar prosseguimento ao que eles começaram a construir é antes um alimento do que um empecilho para o trabalho. O Bala acho que tem a ver com isso mesmo, se apropriar de uma estética antiga, da MPB setentista, e tentar atualizá-la, tratando dos temas de hoje em dia, com a energia de hoje em dia. O disco do Bala é um disco pandêmico, feito em 2021, isso por si só já se impõe como algo novo. Então, pra finalizar: o desafio na verdade é uma responsabilidade e um prazer, tudo o que queremos é conseguir dar conta do recado e a vontade e o otimismo são soberanos aqui 🙂

Como foi a experiência da primeira turnê internacional e quais bagagens voltaram de lá junto à kombi do Bala?

Julia Mestre – Foi um brilho no olho, foi um sonho. Ainda é muito doido pensar como um disco que foi lançado em janeiro de 2022 tem tido uma resposta tão rápida. A gente foi pra Europa em maio desse mesmo ano, ou seja, com cinco meses de álbum. Foi uma surpresa e uma delícia ver casas cheias em Lisboa e Porto, em Portugal. A gente teve um público muito receptivo, foi o primeiro mosh, que eu me joguei na plateia. A gente também teve uma sequência de shows também pela Espanha muito legais, fizemos o Primavera Sound em Barcelona e um show em Madri. Além disso, foi a primeira vez que a gente fez uma sequência de dias consecutivos de show. Fizemos uma viagem de oito dias e, nesses dias, seis eram de show. A bagagem com a qual a gente voltou na kombi do Bala Desejo foi de um ritmo de show e de presença de palco. A gente conversa sobre isso, falamos que a gente cresceu muito em cena por conta da nossa viagem para a Europa, por conta desse ritmo show que a gente estava fazendo todo dia. Quando a gente voltou ao Brasil, a proporção dos shows também aumentou, começamos a viajar mais e também a tocar para públicos maiores. Por isso, eu posso dizer que a Europa foi uma verdadeira escola de cena, de show, de viagem e de entrosamento entre nós da banda, nós quatro, e entre os músicos também, o Alberto Continentino e o Thomas Harres.

Foto: Leco Moura

Por último, quais são as expectativas para o Coala Festival e um spoiler sobre os projetos futuros com o Coala Records?

Para quem está pegando o bonde agora, o Coala é simplesmente o motor principal e primeiro motivo do nascimento do Bala Desejo. Foi por conta do selo, do festival, da empresa, que o Bala Desejo se tornou a banda e foi levantado o disco. Foram os caras ali que viram quatro pessoas – Dora, Júlia, Lucas e Zé – como uma banda, e foi feito o convite para que a gente fizesse um álbum. Claro que depois do convite feito nós tivemos a responsabilidade de fazer as nossas canções, levantamos os discos, criamos os arranjos, produzimos o disco. O “Sim Sim Sim” foi lançado também com esse auxílio todo de marketing e foi lançado em janeiro. Quando a gente fala da nossa trajetória do Bala Desejo, a gente pensa nesse arco de um disco que foi lançado em janeiro e vemos o momento do show do Coala Festival, no dia 17 de setembro, como um momento de ápice da nossa trajetória, porque o show do festival foi o nosso primeiro show a ser colocado na agenda quando decidimos ser Bala Desejo, foi o nosso primeiro show fechado. A gente está muito ansioso pra esse show por ser muito especial, que vai mexer com muitas emoções, pois a gente tem um carinho muito grande por toda a equipe Coala e por eles realmente terem feito um sonho se realizar. A gente agradece demais essa família e sinto que essa noite vai ser muito especial. Vamos estar celebrando o motivo de acreditar sempre no “sim”, temos que acreditar sim. Se não fosse por Gabriel Andrade, do Coala, o Bala não teria existido. Ele acreditou que nós quatro poderíamos sim ser uma banda e que poderíamos estar no line up de um festival tão conhecido, que poderíamos fazer coletivamente um disco chamado Sim Sim Sim. Agradeço muito por essa pilha e estamos muito animados para participar do Coala Festival!

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