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Number Teddie lança “poderia ser pior”, seu álbum de estreia

Number Teddie estreia primeiro álbum da carreira, veja a capa – Foto: divulgação

Number Teddie lançou no último dia 31 de agosto, seu primeiro álbum, intitulado “poderia ser pior”. Tocando em tópicos comuns a jovens da gen z, geração do começo dos anos 2000, o projeto é uma viagem por vários dos símbolos que marcam o subconsciente coletivo do grupo, mas também um autorretrato desenhado de forma honesta, crua e complexa. Seja na sonoridade, que remete à estética indie e pop punk, nos visuais ou no modo destemido de tocar em temas sensíveis, o jovem cantor-compositor consegue trazer referências e amalgamá-las em algo novo, que empurra as barreiras da música pop nacional. Gorky e Zebu assinam a produção do álbum, com exceção da faixa 9, que é de Vivian Kuczynski. Number Teddie é o compositor principal de todas as músicas e divide os créditos com os respectivos produtores.

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Com 25 anos, o jovem artista demonstra lirismo e musicalidade incomuns a calouros do mercado musical. Em “poderia ser pior”, faixa que abre e dá o título ao álbum, o cantor introduz o projeto e logo fisga o ouvinte, seja pela forma despretensiosa que canta termos explícitos ou pelo charme melódico da canção que soa esperançosa, apesar da forte carga emocional. “A gente sempre tenta ver um fio de esperança em absolutamente tudo, e a expressão ‘poderia ser pior’ é uma frase que nós, como humanos, sempre nos pegamos falando inconscientemente para nós mesmos”, comenta Number Teddie.

“PRÊMIO” e “bom ator (feat. Cleo)” dão sequência ao álbum num tom mais existencialista. Na primeira, o artista questiona valores de uma geração que tem sua identidade afiliada à presença online e que lida com os padrões inverossímeis das redes sociais. A faixa três, single atual e parceria com Cleo, traz questões de convívio social, comparando-as com um “grande filme”, no qual somos apenas atores interpretando personagens de quem não gostamos tanto assim. Number Teddie explica: “É uma música sobre morte também, interpretem como quiserem. A Cleo combina com a música por ser uma artista e ter sido colocada num lugar de objetificação na mídia a vida inteira, que ela nunca pediu pra estar, em primeiro lugar”. A cantora completa: “Quando recebi o convite para cantar ‘bom ator’ com o Number, aceitei na hora. Eu me vi nessa música e lembrei de muitas situações as quais eu já havia passado. Ele é um compositor e um cantor incrível. Tenho um carinho enorme pelo Number e tenho certeza que vocês vão amar o resultado!”.

Em “HAHAHA”, o artista segue mostrando aos ouvintes um pouco de suas vozes internas, mas com a proeza lírica e melódica que funcionam tão bem com a forma e conteúdo das canções. A faixa também serve como um contexto e aviso para o álbum todo, pois Number Teddie deixa claro aqui que o humor é uma das ferramentas que usa para lidar com suas questões internas. “Deus não quer me conhecer” traz um contraste entre a leveza do arranjo musical com a profundidade da letra. Number Teddie expõe uma vontade de entender seu lado espiritual, mas lembra da dificuldade que padrões morais religiosos trazem para algumas pessoas interagirem com a ideia de Deus. “A música sou eu falando ‘que bom que chegaram até aqui, eu preciso de ajuda, mas será que o divino iria querer me ajudar? Ele gostaria de conhecer e saber quem sou eu? Pra quem eu preciso orar?’ Na primeira música, eu falo que ‘me deu vontade de contar pra minha mãe’, mas todas as respostas são previsíveis. Deus iria me ajudar, quando eu sou tão difícil de lidar? Quando eu sou tão superficial e ‘ligo mais pro meu peso do que no inferno queimar’?”.

É em “EU DEVERIA TER COMIDO SEUS AMIGOS” e “qual o teu problema?” que vem mais uma curva no álbum de estreia de Number Teddie. Rejeições amorosas são incansávelmente exploradas em músicas Pop, mas é raro encontrar um novo ângulo para retratar um assunto tão explorado. É nisso que o ouvinte poderá entender as interessantes sacadas do jovem compositor. O artista não poupa palavras para descrever o quão instável, complexo e visceral é o processo de lidar com a clássica dor de coração. Tudo isso é amparado por arranjos vocais bem executados e instrumentos que adicionam significado às mensagens das faixas.

O álbum entra em seu momento mais sombrio com “FEIO!!!” e “mickey”. Sobre a primeira, Number Teddie reflete: “Sou eu sendo puramente maldoso e baixo. Sim, você me quebrou, me deixou triste e eu vou atacar o mais superficial de tudo: sua aparência”. A faixa número nove é o ápice que o artista construiu para o ouvinte entender a viagem por seu subconsciente. É falando de como imagina que vai morrer que Number Teddie conclui seus pensamentos angustiantes e se prepara para encontrar esperança novamente. “ACHO QUE TÔ BEM” amarra os temas do álbum da mesma forma como começou, com questões que assombram uma geração inteira, mas que se manifestam de maneira particular em cada um. Aqui, Number Teddie está despido, sem o humor como escudo, começando a canção acompanhado de um violão, um discreto órgão e sua voz como instrumento principal. O artista mostra seus lados mais crus durante todo o projeto, mas é aqui que ficamos cara a cara com a vulnerabilidade de Number Teddie, e o resultado é uma épica faixa final para um maduro e ambicioso álbum de estreia.

“Chego à constatação de que eu saí do processo desse álbum com mais e mais perguntas do que respostas. Poderia mesmo ser pior? Eu fiz um disco sobre crescer e eu nunca soube se eu cresci direito. Eu tive tudo tirado de mim: minha inocência, amor próprio, meus próprios pensamentos, então como eu ia tentar ser minha melhor versão se eu não sei nem por onde começa minha pior versão? Além de tudo, dois malucos resolveram me ajudar nessa: Gorky e Zebu. E um deles ainda deixou eu dormir no estúdio da casa dele por 6 meses. Obrigado, Gorky e Zebu, por terem me dado a chance de tomar minha narrativa de volta e terem produzido esse projeto. Obrigado, Zebu, por ter tido longas conversas nas quais a gente via esse projeto chegando, enquanto você pedia um bolinho e um café. Obrigado, Gorky, por cuidar de mim. Odeio falar isso, mas você é o pai e o melhor amigo que eu nunca tive, você não precisava, mas escolheu ser. Não sei o que o futuro aguarda, mas independente do que ele me mandar, poderia ser pior”, diz ele.

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