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Parque de Ideias incentiva programação cultural no centro e periferia do Rio

Roda de conversa com Gilberto Gil no Parque de Ideias – Foto: Michelle Castilho

Rap, funk, MPB, teatro e literatura. Do sarau ao slam. Tudo em um só lugar. Alguns diriam que são coisas opostas, que não conversam, mas a iniciativa Parque de Ideias vem para provar justamente que a cultura é uma só e deve ser acessada por todos. O projeto incentiva programação cultural em bibliotecas públicas no Rio de Janeiro – incluindo as unidades do Centro, Manguinhos e Rocinha – e já reuniu nomes como Gilberto Gil e Letrux.

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O Parque surgiu da vontade de Marcio Debellian, idealizador e fundador do projeto, de devolver vida à Biblioteca Parque Estadual, no centro do Rio. Inaugurada em 2014, impulsionada pelo boom de investimentos em equipamentos culturais no período anterior às Olimpíadas e à Copa do Mundo, sediadas na cidade naquele ano, a biblioteca ficou fechada ao público de 2016 a 2018, quando reabriu parcialmente.

“A biblioteca ficou fechada por mais de dois anos, abriu em horário reduzido, e eu passava por ali e pensava que é um lugar incrível, merece ter uma programação gratuita, forte”, comenta Debellian. “Fiquei com isso na cabeça e comecei a correr atrás de um apoio para a gente criar uma programação gratuita de atividades culturais.”

Marcio Debellian, produtor, diretor e fundador do projeto Parque de Ideias – Foto: Jorge Bispo

Atualmente, a programação, totalmente gratuita, inclui shows, espetáculos de teatro, rodas de samba, painéis de discussão, oficinas e até mesmo cursos. “Eu queria fazer um projeto que não cobrasse nem cinco reais de bilheteria. Pode ser um show que teve no Circo Voador e custava mais de cem reais ou cursos com professores da PUC, lá vai ser de graça”, explica o criador.

Com atividades presenciais, a proposta é levar as pessoas ao espaço público, fazendo com que diferentes regiões da cidade sejam ocupadas por várias parcelas da população. “A gente não quis começar enquanto a pandemia não permitisse justamente porque é essa ideia de ocupação física, de descobrirem aquele espaço.”

“Existe um desejo de chamar artistas do rap, artistas do funk, para ocupar um espaço dentro de uma biblioteca. A gente quer que pessoas de um gênero musical que talvez sofram algum tipo de preconceito frequentem a biblioteca, apesar de algumas pessoas falarem que esses gêneros não são diretamente ligados à literatura”, afirma.

Entre os convidados, o Parque de Ideias já recebeu Gilberto Gil, que participou da série de conversas sobre literatura, “Ilustre Leitor”, e elegeu dez livros que foram fundamentais em sua formação artística e que não podem faltar no acervo da biblioteca, como “Toda Poesia” de Paulo Leminski e “Além do Bem e do Mal”, de Friedrich Nietzsche.

Espetáculo “Línguas & Poesias”, de Letrux, na Biblioteca Parque do Centro – Foto: Michelle Castilho

No começo de agosto, o espetáculo “Línguas & Poesias”, de Letrux, também passou pelo espaço, levando canções e poesias em cinco diferentes idiomas: português, inglês, francês, espanhol e italiano. Além da artista, já subiram ao mesmo palco nomes como Zélia Duncan, Rico Dalasam, Jéssica Ellen e Mart’nália, entre outros.

Debellian, que também é diretor de cinema e esteve por trás de documentários como “Fevereiros”, que homenageia a cantora Maria Bethânia, também tem uma preocupação de incluir filmes na programação. Em outubro, o calendário de atividades passa a incluir o Festival do Rio, considerado um dos maiores não só do Brasil como da América Latina.

Agora, o desafio é manter a longevidade do projeto, que por enquanto tem patrocínio garantido apenas até dezembro deste ano. “Em políticas públicas, a gente tem sempre uma questão que é a descontinuidade. Você começa um projeto, entende o território, e aí ele não segue e você tem que voltar do zero”, diz o fundador.

A gente está nessa posição de abrir caminhos porque incentivamos a ocupação desse espaço de maneira cultural novamente. Tem esse legado de falar: ‘população, fazedores de cultura, olhem só esse espaço, ele está recebendo programação de novo, vamos ocupá-lo?’ Queria que isso ficasse de legado do projeto.

No futuro, quem sabe, a iniciativa pode ser replicada em outros municípios e regiões do país. Debellian já chegou a ser consultado por centros culturais de outras cidades fluminenses interessadas no tipo de programação que ele oferece no Parque de Ideias. Por ora, a sementinha já foi plantada.

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