Obra de Flávia Ventura – Foto: Ana Pigosso
(segredo), substantivo masculino
1.aquilo que a ninguém deve ser revelado; o que é secreto, sigiloso.
2.o que há de mais escondido; o que se oculta à vista e ao conhecimento.
A partir de um processo que foca na reflexão crítica e na releitura do corpo erótico feminino, a artista plástica Flávia Ventura reúne 18 obras em mostra individual na Galeria Lume, em São Paulo, em cartaz a partir de 01 de setembro até 15 de outubro. Os quadros remetem ao orgasmo feminino como uma alegoria à resistência às violências de gênero, tendo como ponto central o potencial erótico do corpo, terreno muitas vezes desconhecido, um verdadeiro “(segredo)”, substantivo que dá nome à mostra.
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Ao propor que o corpo da mulher deve existir como dispositivo de experimentação livre do mundo, e não como ferramenta de aprisionamento ou servidão, a artista elege o orgasmo como abordagem poética e de libertação, tratando o direito ao prazer em um amplo sentido, para além do sexual. O erótico não é apenas físico, mas também psicológico. Assim, as obras propõem um olhar sobre o implícito e o explícito, aquilo que se esconde e aquilo que se revela para cada um.
Obra de Flávia Ventura – Foto: Ana Pigosso
A intenção da artista ao transformar seus desenhos em quase borrões ou imagens em que os corpos, definições e figuras se percam, é produzir uma releitura crítica da visão que a indústria pornográfica tradicional traz para o público, trazendo subjetividade e nuances para a sexualidade.
“Passei todos os últimos meses acessando sites pornô, assistindo aos filmes e trazendo referências imagéticas a partir dali. Eu vejo as imagens e as redesenho de forma que as mulheres não apareçam violentadas”, explica a artista.
Os esboços iniciais costumam ser figurativos, mas o abstracionismo, eventualmente, se sobressai durante o processo da artista, de forma que a imagem fique mais complexa, como uma maneira de questionar a obviedade que a pornografia tradicional oferece.
“Para a [galeria] Lume eu decidi trazer desenhos e pinturas – um lugar interessante para pensar esse corpo desejante e pensar o erótico – porque na pintura eu encontro uma materialidade que me permite experimentar muito”, comenta Flávia sobre o seu processo artístico.
A pintura dialoga e tensiona com o desenho, em uma constante investigação sobre a gestualidade, o rastro, o erro, o inacabado e o imperfeito, representando um corpo que pende entre a figura e a abstração como exercício de percepção das subjetividades.