Vivendo na ponte entre Paraná e Roraima, Gustavo Caboco, multiartista do povo Wapichana, usa o desenho, a pintura, os têxteis, a animação, a performance e a palavra para refletir sobre os deslocamentos dos corpos indígenas e as retomadas de memória e ainda para realizar uma pesquisa autônoma em acervos museológicos a fim de contribuir na luta dos povos indígenas. Um recorte de 20 obras dessa produção será exibido em “Ouvir àterra”, exposição que estreia em 20 de agosto na Millan.
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Em diversas obras o artista traz a representação de bananeiras, um elemento que usa para aludir à força e à autonomia. “Plantar uma bananeira é um ato de territorialização da memória, é um curso de ação para se conectar a uma paisagem específica Wapichana e se conectar com a memória de nossos avós, como Casimiro, um dos importantes líderes Wapichana da nossa história da Serra da Lua, que lutou pela autonomia Wapichana plantando bananeiras”, ele explica.
Em “Ouvir àterra”, Caboco assume também a função de curador, apresentando sua obra em seus próprios termos, e usando diferentes linguagens artísticas como forma de compreender e expressar a questão da identidade indígena e da preservação da memória, não apenas como uma lembrança, mas como uma prática.
Em destaque entre os principais artistas indígenas da atualidade, com passagem por exposições coletivas como “Vaivém”, no Centro Cultural Banco do Brasil, Véxoa, na Pinacoteca de São Paulo, e a 34ª Bienal de São Paulo, Caboco tem em sua biografia, com uma pesquisa de retorno à origem indígena, o fio condutor de sua obra.
Nascido na capital paranaense, ele cresceu em um ambiente urbano ouvindo as histórias de sua mãe, Lucilene, uma Wapichana da terra índigena Canauanim, do município de Cantá, em Roraima. Ela saiu da aldeia aos dez anos de idade, em 1968, e retornou apenas em 2001 – momento em que Caboco foi apresentado à sua avó e a familiares indígenas, algo fundamental para definir seu futuro como artista.
“Abrir o corpo para a escuta como o gesto que nos firma sobre o chão. Dedicar atenção como modo de produzir raiz, como forma de relação com a matéria viva que é o solo. Ser capaz de discernir o que a terra diz, compreender a sua voz”, reflete o artista em texto sobre a exposição.
Galeria Millan – Rua Fradique Coutinho, 1.416, Pinheiros, São Paulo.
Abertura – 20 de agosto, das 11h às 15h. Até 17 de setembro.