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Espetáculo “Línguas & Poesias”, de Letrux, volta a São Paulo e Rio

Letrux

Letrux no show “Línguas & Poesias”, projeto da artista que teve início em 2019 – Foto: Sabrina Stahelin

Em show intimista que mistura poemas e canções em variadas línguas, Letícia Novaes, a Letrux, sobe aos palcos para saudar a poesia em tempos de insensibilidade. O espetáculo “Línguas & Poesias” volta a São Paulo, em 23 de agosto no Blue Note, e Rio de Janeiro, em 25 de agosto na Biblioteca Parque Estadual.

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Iniciado em 2019, o projeto paralelo da artista apresenta uma mistura de canções e poemas interpretados em português, inglês, francês, italiano e espanhol. Com livros empilhados não apenas para compor o cenário, mas sobretudo para dar à luz a cantora e poeta, Letrux surge no centro do palco, escondida atrás de um livro cuja capa traz, em letras garrafais, o complemento PRAIA/MAR.

A artista, que é autora de “Tudo que já nadei: Ressaca, quebra-mar e marolinhas” (2021), tem uma relação íntima com a água. Como uma onda que planeja sua quebra, a artista vai se revelando aos poucos, se desfazendo, arrastando o que encontra pela frente. Letrux também escreveu “Em noite de climão” (2017) e “Aos prantos” (2020).

A experiência do show ainda traz ondas sonoras, que ficam por conta de Thiago Vivas no piano e de Lourenço Vasconcelos no vibrafone. Entre os poetas lidos, juntam-se à artista as consagradas Hilda Hilst, Sophia de Mello Breyner, Sylvia Plath, Carlos Drummond de Andrade e Júlio Cortázar, mas também os contemporâneos Alberto Pucheu e Bruna Beber. Entre os poetas cantados, fazem coro interpretações de Bethânia, Edu Lobo, Kevin Johansen, Mina, Lhasa de Sela, PJ Harvey, entre outros.

Nascido da vontade da artista de falar muitas línguas, o projeto conta com uma Letrux melancólica e enérgica, com caras e bocas; braços que são “puro teatro”, fazendo valer a canção homônima de La Lupe, interpretada num espanhol cortante que confunde a plateia sobre o que é poema e o que é canção. Nessa tragicomédia, ainda somos convidados para uma sessão de bibliomancia: lançamos uma pergunta ao universo, e a resposta é ele mesmo quem dá, através de uma página aberta aleatoriamente, que pode dizer tudo, inclusive nada. Quase nunca é nada.

A grandeza do espetáculo está nas transições sutis entre os poemas e as canções e no deslizamento elegante de uma língua para outra. Com leveza, Letrux transita da canção italiana “Se stasera sono qui”, para o poema “Olmo”, da americana Sylvia Plath; da canção francesa “À la claire fontaine” para o “Último round”, do argentino Júlio Cortázar.

O clímax fica por conta da belíssima passagem do poema “Balada de Alzira”, de Hilda Hilst, para uma versão melancólica de “Uns dias”, de Herbert Vianna, acompanhados lindamente pelo piano e pelo vibrafone.

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