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Kaê Guajajara lança primeiro álbum visual indígena da música brasileira

Kaê Guajajara em “Kwarahy Tazyr” -Foto: Tayná Sampaio

O premiado e elogiado “Kwarahy Tazyr”, primeiro disco completo de Kaê Guajajara, divulgado em 2021, ganha agora uma nova camada de compreensão a partir do seu lançamento em forma de álbum visual. Produzido com smartphones, por criadores indígenas do selo Azuhuru, o projeto inaugura uma nova fase na carreira da cantora, artivista, compositora, escritora e atriz. Para esse trabalho, ela também assume o papel de roteirista, com Kandu Puri, que é responsável pela direção. A estética apresentada ganha forma no paradoxo de territórios indígenas, hoje ocupados por favelas e paisagens urbanas.

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Divulgado em estreias semanais, programadas para todas as sextas-feiras até 9 de setembro, este é o primeiro registro do tipo, estrelado por uma artista indígena, na história da música brasileira. A primeira faixa retratada, “Minha Missão”, foi ao ar em julho. Desde então, “Meu Respirar” e “Home” já foram disponibilizadas ao público.

Agora, no próximo dia 12, “Sol em Leão” chega consciente das armadilhas da colonização, expressando a plenitude de autoestima e retomada dos povos originários.

“A construção da narrativa do álbum visual está sob o realismo do que significa ser indígena no Brasil de 2022, particularmente no campo de invisibilidade e apagamento, onde ser um corpo indígena na favela ou em contexto urbano parece não ser possível, sendo esta distinção historicamente articulada pela colonização para romper forças coletivas. A colonização invade corpos, espíritos e pensamentos de todos que estão no Brasil, independente de etnia ou território, sendo indígena ou não. Aonde estão hoje e como vivem os povos indígenas perseguidos, expulsos ou que reivindicam aos legisladores um centímetro de terra demarcada?”, questiona Kaê.

Kaê Guajajara em “Kwarahy Tazyr” -Foto: Tayná Sampaio

Engajadora da Música Popular Originária (MPO) e nascida em Mirinzal, no estado do Maranhão, Kaê se mudou para o complexo de favelas da Maré, no Rio de Janeiro, ainda criança. Teve sua vida marcada por preconceitos e racismo por conta de seus traços e origem. Mais que uma expressão artística, ela vê na música uma forma de resistir e se manifestar contra o silenciamento dos povos originários imposto pelos colonizadores e perpetuado até hoje pelos seus descendentes.

“Kwarahy Tazyr” significa “Filha do Sol” em zeeg’ete, língua do povo indigena Guajajara, e oferece uma nova perspectiva sobre a colonização a partir de composições originadas dos sonhos de Kaê – uma técnica ancestral de se receber os cantos. A artista aborda em suas composições uma realidade que vai muito além do noticiário e das lutas dos povos aldeados pela demarcação de terras. Aqui, ganha protagonismo a vivência daqueles que cresceram sem terra por conta do conflito com invasores e se exilaram nas favelas das capitais brasileiras ou mesmo que já nasceram nelas por terem suas gerações separadas pela colonização.

O álbum “Kwarahy Tazyr” está disponível para streaming nas principais plataformas e Kaê  prepara uma turnê nacional a partir de setembro de 2022 com patrocínio do Edital Natura Musical. Os shows passarão pelas cidades de Manaus, São Luís, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.

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