Quando veio para o Brasil, com apenas dez anos de idade, o congolês Bukassa Kabengele não esperava quão importante sua trajetória seria dentro do cenário audiovisual nacional. Com uma carreira já consolidada, o ano promete muitos lançamentos para o ator, que incluem os filmes “Pacificado” e “Eike – Tudo ou Nada”, além da série “O Jogo Que Mudou a História”, da Globoplay, e a segunda temporada de “El President”, produção original do Amazon Prime Video, na qual o artista dá vida a uma das figuras mais importantes do futebol africano e mundial, o ex-jogador Tessema.
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“Ele foi uma referência na África como presidente da CAF (Confederação Africana de Futebol), além de ter sido um dos responsáveis por tornar o João Havelange presidente da Fifa. É a primeira vez que faço um personagem que só fala inglês, então traz um desafio ainda maior, já que não é minha língua nativa, mas ao mesmo tempo foi fantástico, porque a produção traz temas que gente não está acostumado a ver, como a corrupção dentro do futebol”, diz sobre o papel na produção da Amazon.
Com uma história cheia de licenças poéticas, o roteiro traz questões reais do cotidiano nunca revelados ao público. Como amante de Copa do Mundo e apaixonado por esportes, o ator acredita que a série mostra um lado desconhecido pelo público.
“Amo esportes, acho que agrega socialmente e ajuda na autoestima, mas esse lado do entretenimento e do glamour traz uma nova face, e a gente quis focar exatamente nisso. Então mais do que uma série sobre futebol, é um drama político”, conta.
Kabengele já havia vivido outra figura histórica nas telinhas, em 2020 deu a vida a um dos maiores líderes da história política contemporânea, Nelson Mandela, no seriado “Falas Negras”, na Globo. “Recebi diretamente o convite do Lázaro Ramos e da Manuela Dias para interpretar um dos mais complexos e longos textos entre os personagens, e foi algo que me deixou bem feliz. Estudei bastante, dada a importância do Mandela, e me conectei com a minha africanidade para sair do caráter de imitação e trazer vida e assinatura artística pra esse homem que eu admiro tanto.”
Ainda na Globo, participou de “Arcanjo Renegado”, em 2020, que fez com que o criador e roteirista da produção, José Júnior, o chamasse para estrelar seu próximo projeto, “O Jogo Que Mudou a História”, que aborda a ascensão do narcotráfico no Rio de Janeiro. “Faço um dos fundadores da Falange Vermelha, grupo que originou o Comando Vermelho. A série mostra desde o surgimento dessas organizações criminosas até os impactos nos dias de hoje. Para além da ação e da ficção, temos um grande aprofundamento e humanização dos personagens, algo que realmente instiga meu lado artístico”, relata.
Nesses 25 anos de carreira, o congolês coleciona trabalhos de sucesso, entre eles o longa “Carandiru”, o seriado “Cidade dos Homens” e a novela “Malhação: Vidas Brasileiras”, ambas da TV Globo, além da série “Irmandade”, da Netflix. Um dos mais recentes, e marcantes, é o filme “Pacificado”, que estreia em agosto, e garantiu a Kabengele o prêmio de melhor ator no festival de San Sebastian, na Espanha.
“Também ganhamos o prêmio de melhor filme e fotografia. É uma história linda, na qual meu personagem, o Jaca, busca se reaproximar da filha Tati (Cássia Gil), depois de sair da cadeia. E ao mesmo tempo que a gente tem esse drama familiar, temos todas as questões envolvendo a violência nas comunidades e a violência policial.”
Nos próximos meses o ator também estará na cinebiografia do empresário Eike Batista, “Eike – Tudo ou Nada”, no qual assume o papel de Kopas, que fez parte do grupo de engenheiros que compuseram sua equipe. “Ele e os outros membros tomavam decisões juntos do Eike, passaram a ser sócios e enriqueceram juntos. Em uma das cenas de negócios, o Kopas fala francês, inglês e até lingala (do Congo). Foi um homem importante dentro desse ciclo”, realça.
Outro projeto em andamento é o longa “Um Ano Inesquecível – Outono”, dirigido por Lázaro Ramos. Sem poder dar muitos detalhes sobre sua participação, ele revela uma curiosidade que remete ao seu início de carreira. “Comecei na música, com a banda Skowa e Mafia, que fundei em 1986, e agora terei a oportunidade de reviver alguns desses momentos no filme, porque eu também canto. Vou poder mostrar essa versatilidade, entre cantar a atuar, e acho que o público vai gostar bastante.”
Kabengele vive para a arte, seja na música, no cinema ou na TV, ele diz que é a sua verdadeira paixão. “Entendo e vivo o mundo pela arte. Desde criança passei por todos os processos, desde a dança e a música até me consolidar nas artes cênicas. Não sou cantor ou ator, sou um artista. Amo tudo o que faço na mesma intensidade. Sem arte não existo”, finaliza.