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Jorge Caetano se joga no cinema com diferentes papéis

Jorge Caetano – Marcos Morteira

Mais conhecido do teatro – ele interpretou um crossdresser no sucesso “A Porta da Frente”, peça que rendeu a Julia Spadaccini o Prêmio Shell de melhor texto -, Jorge Caetano agora se desdobra no cinema em três filmes. Dia 28, ele estreia, sob a direção de Cavi Borges, “Fado Tropical”, longa que rodaram antes da pandemia e que chega agora às salas de cinema. Também vêm aí “Não Sei Quantas Almas Tenho”, inspirado na figura dos vampiros, que tem como objetivo falar sobre finitude, e ainda uma peça-filme sobre o multiartista francês Jean Cocteau.

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“Fado Tropical”, rodado em Portugal e também escrito por Caetano, em parceria com a atriz Patricia Niedermeier, surgiu da necessidade de o ator lidar com o luto dos pais. “Queria me expressar sobre isso, transformar a minha dor em arte, depois de toda a experiência que vivi com a perda deles. Como sou filho de pai português, não tive dúvidas de que filmar lá seria perfeito para esse projeto”, diz.

A produção é um reflexo também desses dias duros para a cultura e foi bancada pela própria equipe. “Estamos há cinco anos produzindo com recursos do nosso bolso. São filmes simples, de baixo orçamento, mas é claro que pretendemos também captar recursos para futuras novas produções. Tenho certeza que depois desse capítulo tenebroso com o atual presidente, inimigo da ciência, da cultura e da arte, tudo irá melhorar”, conta ele, que conversou com RG.

Como surgiu a ideia de fazer o longa “Fado Tropical”?

O filme nasceu da necessidade que tive de me expressar, de transformar a minha dor em arte, depois de toda a experiência que vivi com a perda dos meus pais. Paralelo a isso, Cavi (Borges) e Patricia (Niedermeier) estavam com o desejo de filmar em Portugal. Como sou filho de pai português, não tive dúvidas de que esse seria o nosso próximo projeto. Tivemos a assessoria luxuosa do saudoso filósofo e mestre em psicologia junguiana Jorge Braga (1952-2020), para construir a personalidade dos irmãos gêmeos e criar o roteiro.

Jorge Caetano e Julia Spadaccini – Foto: Divulgação

No filme, vocês são dois gêmeos que se reencontram por causa do luto em comum. O personagem é seu alterego? 

Optamos por falar apenas do pai, e meu personagem, Antônio, não é exatamente o meu alterego. O que mais me aproxima dele é o amor incondicional pela família e o fato de ele também ser um artista.

Falando nisso, como foi atravessar o período de pandemia e produzir arte? Acha que o pior já passou?

Fiquei praticamente dois anos isolado, tendo reuniões virtuais com a equipe do espetáculo  “Apocalip-se”, que é uma tradução desses tempos sombrios que enfrentamos desde o começo da pandemia. Foi essencial, durante esse período, me dedicar a essa nova peça, e paralelamente, junto com Cavi e Patricia, tocar os nossos projetos. Acredito, sim, que o pior já passou, mas que ainda devemos tomar cuidados, já que a retirada das máscaras foi bastante precoce, e a pandemia ainda não acabou.

Cena de “Fado Tropical”- Foto: Divulgação

Do ponto de vista pessoal, como foi passar esse período de pandemia? Como você segurou a barra emocional?

No dia em que foi decretado o fechamento dos teatros e cinemas, eu estava ensaiando no Teatro Poeira uma peça que iria estrear no dia do meu aniversário. Esse foi o primeiro baque. Depois, nas primeiras semanas, fui tomado por uma grande ansiedade, pois não sabíamos com o que estávamos lidando e não havia nenhuma vacina. O medo era dominante e foi um trabalho hercúleo buscar algum tipo de equilíbrio. O que realmente me salvou nessa época foi o fazer artístico.

Que ensinamentos o período trouxe? É otimista com o setor cultural apesar da fase não ser das mais animadoras?

A pandemia nos ensinou que não há necessidade de acumular tantas coisas materiais, aprendemos a viver com o básico. Outro fator importante foi a possibilidade de se olhar mais atentamente para o próximo, a crise infelizmente ampliou a diferença social, que já era enorme. Estamos há 5 anos produzindo os filmes com recursos próprios. São filmes simples, de baixo orçamento, mas é claro que pretendemos também captar recursos para futuras novas produções. E aguardo ansioso por dias melhores para a nossa cultura. Tenho certeza que depois desse capítulo tenebroso com o atual presidente, inimigo da ciência, da cultura e da arte, tudo irá melhorar.

Você falou sobre “Apocalip-se”. Conte como será esse projeto com a Julia Spadaccini para o ano que vem.

É um monólogo musical com texto da Julia – parceira de todas as montagens que dirigi na Cia. Casa de Jorge, e uma das autoras da série ‘Segunda Chamada”, da Globo. A nova peça foi escrita em parceria com Márcia Brasil. Nesse novo projeto estou me aventurando como letrista, com o músico e diretor musical Felipe Storino. Vamos abordar, de forma bastante psicodélica e bem-humorada, o conceito de fim de mundo como metáfora de transformação de um homem maduro, morador de Copacabana, em meio à pandemia. A ideia é construir uma peça-show, com dramaturgia e músicas entrelaçadas.

Jorge Caetano – Marcos Morteira

Cantar também é um dos seus talentos… 

A música para mim sempre teve um papel relevante em praticamente todos os trabalhos. Inclusive, no filme “Fado Tropical”, interpreto uma canção em uma das cenas. No longa-metragem musical “Sinfonia do Fim do Mundo”, de Isabella Raposo e Thiago Brito, que recentemente foi exibido no Festival Ecrã, no Rio, apareço cantando do início ao fim. Na verdade, a minha primeira expressão artística foi por meio de imagens. Papel, cola e tesoura eram meus “brinquedos preferidos”. Depois veio a fotografia, cheguei a fazer alguns cursos e até fiz uma exposição individual só com fotos de Portugal, nos anos 1980. Há 15 anos desenvolvo um projeto de colagens intitulada Zaliens (@zozicollage), com temática de ficção científica, com cerca de 60 imagens, que pretendo um dia transformar em exposição.

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