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Giulia Nadruz: em “West Side Story” todos chamam por Maria

Giulia Nadruz brilha em 21º musical da carreira – Foto: Fábio Audi

Um joelho grande demais, pouca elasticidade… não dá para dizer que estas eram as melhores características para uma bailarina. Talvez por isso mesmo Giulia Nadruz logo tenha enveredado por outros caminhos na arte, iniciando os estudos de canto e teatro antes mesmo de completar 10 anos. Hoje em dia, a dança continua ali, mas o papel de destaque vai mesmo para a voz, e que voz, que atualmente encanta a todos como a Maria de “West Side Stoy”, musical de Leonard Bernstein e Stephen Sondheim.

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Nome que domina o espetáculo, Maria é a palavra que mais sai da boca dos personagens, só no segundo solo de Tony o nome é dito quase 30 vezes em diferentes tons. “Maria é um presente e um grande desafio, é uma personagem mais difícil do que parece. As pessoas tendem a achar que as mocinhas são sempre papéis mais fáceis, mas muito pelo contrário”, diz Giulia sobre a complexidade do papel. 

Além de um arco dramático bem definido, com uma personagem que começa um tanto ingênua e sonhadora e vai amadurecendo com a tragédia dos acontecimentos em sua vida, a dificuldade das canções também exigem bastante da atriz. “Artistas de musical são atletas da voz e, como todo atleta, temos uma demanda altíssima, performances desafiadoras e desgaste. De fato esse papel é um dos mais difíceis da minha carreira”, afirma a atriz, que chegou a precisar se ausentar por um tempo depois de um problema de saúde que a fez redobrar os cuidados com a voz.

Com uma rotina intensa de apresentações, de terça-feira a domingo, na curta temporada do musical no Theatro São Pedro, não é surpresa que o físico e o vocal sejam muito exigidos. Por isso, Giulia faz questão de agradecer ao time de profissionais que estavam ao seu lado para auxiliar em sua pronta recuperação, o otorrino Reinaldo Yazaki, a fono Adriana Bezerra e o professor de canto Walter Chamun. Além de enaltecer o trabalho de Carol Botelho, a atriz substituta que defendeu Maria brilhantemente enquanto Giulia não pôde. 

Giulia Nadruz é Maria no clássico “West Side Story” – Foto: Heloísa Bortz

“Felizmente já estou recuperada e de volta ao show”, diz ela, que já está acostumada a lidar com esses obstáculos e estuda há muitos anos para melhorar sua técnica e cuidar de sua voz. “Em ‘O Fantasma da Ópera’ tive a alegria de não precisar ser substituída nenhuma vez em um ano e meio de temporada fazendo o papel da protagonista que tinha inúmeras áreas líricas e praticamente não saia de cena em quase 3 horas de peça”, lembra ela sobre outra importante personagem em sua carreira de 21 musicais, sendo 10 deles como protagonista.

Ao longo desse tempo, Giulia atuou em outras grandes peças como “Ghost”, “Tick Tick Boom!”, “Shrek” e “Fame”. Mas o destaque vai para o último papel da atriz, a Jenny Lind de “Barnum – O Rei do Show”, com o qual ganhou seu primeiro prêmio depois de 15 indicações. “Muito especial ganhar esse prêmio por esse trabalho que foi meu primeiro projeto no teatro “pós-pandemia”, foi uma satisfação indescritível estar de volta na sala de ensaio e nos palcos.”

Sempre se desafiando e explorando seu potencial, a artista também se aventura pelo audiovisual, tendo trabalhado em séries como “Dois Irmãos”, “A Secretária do Presidente” e “A História Bêbada”. No meio disso tudo, Giulia ainda arruma tempo para a dublagem, função exerceu muito pouco depois de se formar na área, mas que voltou a ter mais contato justamente por conta dos musicais. “Em 2017 me indicaram para dublar um longa e quando cheguei descobri que era teste para Princesa Bela do live action de “A Bela e a Fera”, quase morri”, brinca ela, que sempre foi muito fã da história e depois acabou também sendo convidada para dublar os desenhos.

Giulia Nadruz – Foto: Felipe Quintini

Com uma agenda tão cheia, nem a atriz sabe como faz para equilibrar tudo isso, mas ela sempre lembra de tirar pelo menos uma segunda-feira para respirar e descansar. Em “West Side Story” até o próximo dia 7 de agosto, Giulia já tem outros trabalhos pela frente mas ainda não pode falar sobre, o jeito é acompanhá-la para saber o que vem por aí.

Leia a íntegra da entrevista com Giulia Nadruz a seguir:

RG – Você começou no mundo da arte pela dança, quando ainda era muito pequena, qual era seu sonho nessa época? Já considerava o teatro?

Comecei pela dança aos 5 anos, minha mãe foi bailarina quando jovem, então acabou sendo minha porta de entrada no universo artístico, mas logo depois, aos 7, iniciei os estudos de canto e aos 10 as primeiras experiências com teatro. Minha primeira vocação era ser bailarina mesmo, era o que eu dizia que queria ser quando crescesse, mas logo percebi que a minha paixão maior era cantar e interpretar. Sempre amei dançar, mas meu físico nunca foi dos melhores: um joelho muito grande, pouca elasticidade… hoje em dia me considero uma atriz que dança!

RG – Depois da dança, como você despertou interesse para o canto e a atuação?

Eu comecei a cantar porque na escola onde eu estudava havia aulas de canto coral e um coro infantil que ensaiava todos os Sábados de manhã. Eu morava ao lado da escola, literalmente, conseguia escutar os ensaios toda semana e amava. Nessa época, eu ainda tinha sete anos e era nova demais para entrar no coral mirim (que só aceitava crianças com mais de 10 ) , por conta disso eu pegava a apostila de música e cantava na janela do meu quarto tentando acompanhar o Coral que ensaiava ao longe. Minha mãe viu isso um dia e, comovida, foi pedir para a Maestrina deixar eu entrar mais cedo nas aulas e foi assim que comecei. Também na escola todo ano se faziam montagens de peças infantis, assim que descobri me interessei e comecei a participar. Minha primeira peça foi “A Bruxinha que era Boa” de Maria Clara Machado.

RG – Você já atuou em mais de 20 musicais, quais personagens mais te marcaram ao longo desses trabalhos?

Tenho muito carinho por todos os trabalhos que fiz, cada personagem me trouxe alegrias e desafios únicos. Algumas das minhas favoritas foram: Christine Daaé de “O Fantasma da Ópera”, Molly Jensen de “Ghost”, Susan de “Tick Tick Boom!”, Princesa Fiona de “Shrek”, Serena Katz de “Fame” e, atualmente, Maria de “West Side Story” tem sido um grande marco para mim. Muito difícil escolher.

RG – Queria que você falasse um pouco mais sobre seu último papel. Na volta da pandemia você fez Jenny Lind em “Barnum – O Rei do Show”, e acabou ganhando seu primeiro prêmio, embora já tenha sido indicada em outros. Como foi isso para você?

Foi uma alegria imensa! Já havia sido indicada 15 vezes por diversos trabalhos, mas esse prêmio foi a minha primeira conquista! Muito especial ganhar esse prêmio por esse trabalho que foi meu primeiro projeto no teatro “pós-pandemia”, foi uma satisfação indescritível estar de volta na sala de ensaio e nos palcos, voltei com muita vontade e me dediquei muito na criação da Jenny Lind. Estudei sueco e trapézio, duas coisas inéditas na minha vida! rsrs Foi muito divertido, um trabalho bem especial.

RG – Agora você pega outro desafio como a Maria de “West Side Story”, como é pegar um papel tão importante em um clássico que volta ao Brasil depois de 15 anos?

É uma grande responsabilidade e um sonho realizado. Essa peça é um dos maiores clássicos da Broadway, se não o maior. Para mim, é uma obra-prima que tem um equilíbrio perfeito de músicas, coreografias e dramaturgia. Maria é um presente e um grande desafio, é uma personagem mais difícil do que parece. As pessoas tendem a achar que as mocinhas são sempre papéis mais fáceis, mas muito pelo contrário. Maria tem canções tecnicamente muito complexas, cheias de dinâmica e notas agudíssimas e um arco dramático bem definido, onde me cabe encontrar a melhor forma de dar vida à essa menina inocente e sonhadora, que começa com cenas leves e que amadurece pela dor dos acontecimentos em sua vida, trazendo um segundo ato intenso e trágico.

RG – Conhecido como um dos musicais mais difíceis musicalmente, “West Side Story” exige muito da voz, tanto que você precisou ficar alguns dias em silêncio agora para se recuperar. Como tem sido esse período e quais cuidados você tem com sua voz?

Nós, artistas de musical, somos atletas da voz e, como todo atleta, temos uma demanda altíssima, performances muito desafiadoras e muito desgaste físico. De fato esse papel é um dos mais difíceis (vocalmente e cenicamente) da minha carreira, mas estou acostumada com esses desafios. Em “O Fantasma da Ópera” tive a alegria de não precisar ser substituída nenhuma vez em um ano e meio de temporada fazendo o papel da protagonista que tinha inúmeras áreas líricas e praticamente não saia de cena em quase 3 horas de peça.  Sempre me cuido muito bem (sono, alimentação, repouso, exercícios e etc) e estudo técnica há muitos anos justamente para preservar meu instrumento, que é meu próprio corpo, mas somos feitos de carne e osso e é normal que às vezes tenhamos que nos ausentar dos shows por conta disso. Por isso que, em todos os musicais, temos atores substitutos e swings que estão sempre prontos para entrar. Nesse caso tínhamos a maravilhosa Carol Botelho que defendeu lindamente a Maria nos dias que precisei me ausentar. Tenho também um time de profissionais que sempre me acompanha (meu otorrino Reinaldo Yazaki, minha fono Adriana Bezerra e meu professor de canto Walter Chamun) que me auxiliaram prontamente para que minha recuperação fosse super rápida. Felizmente já estou recuperada e de volta no show!

RG – Você também se aventura no audiovisual desde 2015, quando decidiu tentar algo nesse mercado?

Sempre gostei de me desafiar e explorar diferentes linguagens, daí surgiu a minha vontade de mergulhar no audiovisual. Amo o teatro, mas também adoro trabalhar na TV. É uma rotina e uma dinâmica completamente diferente, é muito interessante todo dia trabalhar cenas diferentes, em diferentes locações, eu adoro. Meu primeiro trabalho na TV foi na série Dois Irmãos na TV Globo em 2015, direção de Luiz Fernando Carvalho, foi uma experiência inesquecível! Em 2017 fiz A Secretária do Presidente no Multishow, outro trabalho que eu amei fazer, e em seguida A História Bêbada do canal Comedy Central que também foi exibida no SBT. 

RG – Além do trabalho como atriz, você também faz dublagens, como essa porta se abriu para você?

Já deu pra perceber que eu gosto de uma rotina variada e agitada, né? Eu me formei na Dublagem em 2009 no RJ na escola do grande ator/cantor e dublador Claudio Galvan com a professora Flávia Saddy (grande diretora de dublagem e dubladora). Cheguei a começar a trabalhar na área nessa época, mas como me mudei para São Paulo por conta dos musicais, acabei me afastando da dublagem por alguns anos. Em 2017 recebi o convite para fazer um teste para dublar um longa, haviam me indicado por conta do meu trabalho em musicais, porque precisavam de atrizes que cantassem no meu perfil e eu fui. Quando cheguei descobri que era teste para Princesa Bela do live action de A Bela e a Fera, quase morri! rsrsrs sempre fui muito fã da Disney e especialmente desse filme. Para minha alegria, eu fui escolhida e em seguida também convidada para dar voz à Princesa Bela nos desenhos animados. Hoje em dia dublo vários produtos, dentre filmes e séries, para Disney e outros.

RG – Como você equilibra todos esses trabalhos?

Olha, nem eu sei! Mas a gente se vira nos trinta. Graças a Deus, minha agenda vive cheia mesmo… seja com teatro, TV, dublagens, eventos ou aulas (também dou aulas particulares de canto e interpretação da canção e tenho meu curso online Enfrentando uma Audição). Mas sempre tiro minha segunda-feira para repousar a voz e o corpo.

RG – Depois de “West Side Story”, você já sabe quais serão seus próximos trabalhos? Onde o público poderá te acompanhar?

Ainda este ano gravarei uma série de TV, que em breve poderei dar mais detalhes, e ano que vem tenho novos projetos para teatro, então acompanhem minhas redes sociais para receberem as notícias quentinhas! @giulia.nadruz

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