Top

Nova voz, Marô diz ser cirurgicamente verdadeira

Foto: Manoel Andrade

De Criciúma, Santa Catarina, vem uma voz que merece atenção. É a de Marô, jovem de 25 anos que vem fazendo barulho com seus vídeos e músicas irreverentes. Pisciana chorona e sensível, como ela própria diz, tem como escorpião seu ascendente, que faz quebrar tudo. E quebra mostrando uma artista em começo de carreira que promete acrescentar bastante coisa.

SIGA O RG NO INSTAGRAM

Marô fez seu Ensino Médio em Nova York, nos Estados Unidos. De lá, aplicou para o curso de comunicação em uma faculdade na Espanha, passou. Mudou-se para Segóvia, noroeste de Madri, e lá ficou até perceber que sentia muita falta do Brasil e que era o momento de voltar e tocar uma carreira na área musical, foi direto para Porto Alegre (RS). “Aí eu voltei para o Brasil, ainda bem, porque senão acho que eu não estaria onde estou agora e feliz como estou hoje”, diz.

Sua maior referência na música é o próprio pai, que sempre tocou violão e apresentou a ela diversas coisas, como Beatles, além do irmão, que trouxe na bagagem o rock mais pesado, com Nirvana e Pink Floyd. Gosta de ouvir de tudo e sonha em fazer um Pagode. Pagode? Sim, segundo ela um pagodão desses que as pessoas dançam juntinhas. Não se assuste achando que o visual da moça não combina com o gênero, não é por que faz rock que não pode fazer outras coisas. Muito pelo contrário, a ideia dela é experimentar de tudo e transitar por diferentes espaços.

Recentemente, Marô lançou o excelente clipe de “Vilã”, música em que prega a liberdade e o ser como se é, sem medo do julgamento alheio. Aliás, liberdade é algo que permeia todo o seu trabalho até aqui. Vale conhecer. Os shows ainda estão sendo elaborados, mas um novo EP, desta vez com cinco faixas, sai ainda neste ano. Enquanto isso, é fácil achar o trabalho dela no YouTube e nas plataformas digitais de música – mesmo canal que difundiu seus sons entre as pessoas e fez o nome dela como um novo talento.

Leia a seguir o papo que RG teve com Maro via Zoom.

Foto: Manoel Andrade

Como você se torna cantora e compositora?

Na verdade eu não tenho ninguém na minha família que seja da vida artística. Minha influência vem do meu pai, que sempre gostou muito de música. Mas meu irmão irmão também, que introduziu em mim o rock, como Nirvana, Pink Floyd, e isso foi me interessando. Eu sempre gostei muito de escrever. Aí eu comecei a fazer aulas de violão, porque meu pai e meu irmão já tocavam, e me lembro que nas aulas eu morria de vergonha de cantar. Mas o professor percebeu que eu era afinadinha, eu tinha uns 8 anos, e comecei a cantar nas aulas. Mas para as pessoas eu comecei a cantar quando tinha 18 anos. Eu voltei da Espanha, onde estava morando, e a coisa foi se soltando. Lembro que um dia eu tomei um vinho e foi, comecei a cantar uma música da Amy Winehouse e todo mundo achou muito bom, e vi que não era só eu que achava legal o que eu fazia, que outras pessoas gostavam também. Então eu voltei a estudar canto e tal. Eu estava estudando publicidade em Porto Alegre, e decidi trancar tudo e ir estudar música. Fiz um curso de produção musical, porque eu queria eu mesma produzir as minhas músicas. Eu saía com um pendrive no bolso e ia nos bares pedir para tocar uma música, sem ganhar nada, e assim foi indo. Depois eu comecei a ganhar bebida e comida, e disse: “Yes”!, ficava muito feliz com isso.

Conheci uma galera de uma produtora, a Noma Mídia, de Porto Alegre, que apostou em mim. Antes disso eu produzia as minhas músicas e colocava no SoundCloud, ali as pessoas foram conhecendo o meu trabalho, e vi que estavam gostando, foi primeiro retorno assim em massa. A produtora foi apostando em mim e gravei alguns clipes com eles, e foi através deles que toquei em um festival grande, que foi o Meca. Eu montei uma banda e abri para a Gal Costa, foi um showzão, e ali eu tive a certeza de que era isso o que eu queria fazer. Agora estou com a Som Livre, muito bem assessorada.

Como é seu processo de composição?

É muito louco, porque eu sempre escrevo de freestyle, eu preciso de uma base, seja um violão, um baixo, uma bateria, e vou escrevendo. E normalmente esse processo é muito rápido. Eu sou muito envergonhada, eu, Maria Eugênia, então a Maro é a melhor parte de mim, que se enche de força de vontade e de crença naquilo que eu faço, e põe pra fora. Outro dia eu estava com um amigo e compusemos uma música muito rápido, e ele me disse que eu não havia composto naquela hora, porque a música já estava me rondando havia tempos, ela apenas saiu.

O meu Instagram é @roledamaro, e eu sou muito do role, eu gosto, não de balada, essas coisas, mas do role mesmo, eu morro de preguiça de ficar de ressaca. Eu gosto de sair, de ver gente, sair como o meu cachorro, comer fora, porque eu acabo cruzando vidas e histórias que me inspiram muito. Transformo essas experiências em música.

Foto: Manoel Andrade

E como você classifica seu som?

Eu gosto muito de potência, de sentir um som forte, mas também flerto muito com o pop, então estamos chamando de “dark pop”. Eu gosto muito de R&B também, então também flerto com isso. Eu, como artista, adoro me experimentar, então não é uma coisa só. Eu não consigo me ver fazendo tal coisa e ponto, eu quero criar. Eu acho que posso lançar uma música eletrônica, um rap. Por exemplo, eu quero muito lançar um pagode um dia, um pagodão para dançar juntinho (risos).

E álbum, tem pensando nisso?

Então, a gente tem trabalhado para lançar um EP um pouco mais longo, porque lancei o “Madame”, com três músicas. Esse novo deve ter umas cinco músicas, mas eu estou em um processo de autoconhecimento, que tem sido muito grandioso, superinteressante porque estou descobrindo várias maneiras de expressar o que eu sinto. Então um álbum deve vir mais para frente, mas é meu sonho. O EP vem ainda neste ano, “Vilã” é o começo dele.

Eu quero que você me falasse justamente sobre essa música, “Vilã”.

Eu estava no estúdio do Nave, fazendo uma outra música, mas que não estava rolando. E eu disse a ele para fazermos algo diferente, algo mais marcante, com um som mais “malvado”. Ele criou uma base e eu fui compondo, mas no refrão eu empaquei, e disse a ele que gostaria de dizer que sou feliz fazendo merda, porque eu sou feliz fazendo merda. E ele disse, “então, fala isso”. Porque eu quero ser eu, eu sou meio louca, falo alto no role, “causo”, mas é meu jeito eu não faço mal para ninguém. E “Vilã” veio disso, eu sou tipo cirurgicamente verdadeira, falo na cara. Os personagens bons, são sempre bons. E as vilãs também sempre mostram por que se tornaram uma. Então a música tem muito disso, de ser irreverente, de ser quem se é, de não ter medo de ser julgado.

Foto: Manoel Andrade

Como você lida com as redes sociais, acha que é um lugar para se colocar política e socialmente?

Acho que sim, sobretudo porque ainda vivemos em tempos de vários “ismos”, preconceitos. Acho superimportante porque hoje em dia a internet é superdemocrática e tal, às vezes a gente pensa que está falando para um grupo pequeno mas atinge um galera. Eu acho que o “hate”, por exemplo, é uma forma de mostrar que a gente está chegando onde as pessoas não gostam da gente. Por enquanto o meu trabalho está chegando para pessoas que gostam. A internet pode ser malígna, quando as pessoas ficam iradas e escrevem, ficam insensíveis. Mas eu acho importante nos posicionarmos sobre liberdade, preconceito.

Qual a relação de moda, música e Marô?

Acho que a primeira expressão artística que a gente tem com alguém é a forma como a gente se veste. Por exemplo, que me vê na rua sabe que tem uma arte que emana de mim, eu tenho tatuagem, me visto de uma forma diferente, adoro experimentar coisas, eu gosto muito de transitar entre o masculino e o feminino, a androginia foi um espaço onde eu gostei muito de transitar. No clipe de “Vilã” a gente fez vários looks, transitando por essa coisa toda. Acho que a moda é um espaço muito livre para eu poder brincar, ter várias Marôs dentro da Marô.

Foto: Manoel Andrade

E quem quer ver a Marô, tem shows?

A gente está montando um repertório lindo demais, eu quero muito tocar aqui em São Paulo, onde moro, porque que amo fazer shows, que é a minha maior motivação. Quero viajar o mundão para mostrar a minha arte. Logo a gente vai estar na estrada, e eu tocando rock e mostrado o meu trabalho.

Mais de Cultura