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Dinho Ouro Preto celebra 40 anos de Capital Inicial e fala sobre projeto 4.0

Capital Inicial completa 40 anos de estrada – Foto: divulgação

Com quatro décadas de história, é difícil escolher apenas um momento do Capital Inicial para destacar, mas, para Dinho Ouro Preto, uma das principais memórias da banda talvez também tenha sido um dos de maior medo. Vindo do álbum “Acústico MTV: Capital Inicial”, eles estavam receosos de subir com um violão no palco do Rock in Rio 2001 na mesma noite de Hed Hot Chilli Peppers, Deftones e Silverchair. Especialmente após o episódio com Carlinhos Brown, que, dias antes, havia sido alvo de vaias e garrafadas ao abrir os shows de Guns N’ Roses, Oasis e Papa Roach.

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Mas como já dizia a letra de “Passageiro”, música com a qual abriram o show, “essa noite tudo soa tão bem”. “Nós fomos recebidos de uma maneira tão boa, todo mundo colocou as mãos para cima e começou a cantar, sem que fosse pedido ou algo assim. Eu fiquei todo arrepiado, emocionado, porque ninguém esperava isso”, relembra o cantor. Até hoje esta foi a maior noite do Rock in Rio, com cerca de 240 mil pessoas, e mais uma surpresa na trajetória de 40 anos do Capital Inicial.

O próprio Dinho caracteriza essas quatro décadas de banda como uma sucessão de surpresas. “Tudo isso foi muito inesperado. A gente começou de forma despretensiosa, não passava pela cabeça de ninguém que isso poderia tomar a proporção que tomou”, conta. Para ele, é inclusive a falta de cálculo que explica parte do sucesso, pela espontaneidade como tudo aconteceu. Se hoje o crescimento orgânico é importante para os artistas, antes era essencial.

No contexto da época, rock no Brasil era algo bem menor, a quantidade de festivais e shows de bandas internacionais do gênero por aqui era muito pequena. Por isso, quando o Capital começou ali em 1982, ninguém esperava que eles poderiam seguir carreira com a banda, que dirá passar 40 anos na estrada. Mas acabou que a geração deles foi a responsável por democratizar o rock e tirá-lo do nicho em que estava preso.

“Brasília, onde nós morávamos, embora fosse a capital do Brasil, era muito longe das capitais culturais. Então acho que a gente se sentia quase compelido a criar essas bandas como entretenimento”, destaca o cantor, que realmente não imaginava que eles poderiam encontrar a ressonância que encontraram com o público e ainda durar tantos anos no mercado.

Parte disso tudo também vem de uma característica que o Capital Inicial sempre teve, a de gostar de estar perto dos fãs, viajando e fazendo shows. “Entre todas as coisas que envolvem uma carreira, gravar, compor, fazer videoclipes, o lugar em que nós nos saímos melhor, o nosso elemento natural, é o palco”, explica Dinho. Para ele, é como se a banda e a plateia entrassem em uma mesma frequência e dividissem a energia ali.

Capital Inicial – Foto: Leo Aversa

O próprio projeto “Capital Inicial 4.0” vem junto a uma turnê e, além do álbum e do DVD, tem os shows como foco principal. Previsto para ser lançado no dia 26 de agosto, o disco terá 12 faixas, e uma versão deluxe disponibilizada em novembro vem com cinco canções extras. Clássicos da banda como “Natasha”, “Passageiro”, “Fogo” e “Tudo Que Vai” ganham novas versões, com arranjos diferentes e até novas participações. “A gente queria ter um pé na nossa praia, que foi dado pelo Samuel Rosa, pela Pitty e pelo Carlinhos Brown e, ao mesmo tempo, ter contato com a garotada, aí entra Vitor Kley, Marina Sena e Ana Gabriela”, conta.

Convidar Samuel, Pitty e Carlinhos foi normal para a banda, que já conhecia os músicos de outras histórias, mas eles não sabiam o que esperar dos mais novos, aí veio mais uma surpresa. “Por exemplo a Marina, quando a gente ligou ela respondeu assim: ‘olha, eu sou a própria Natasha’, por que era um peixe fora d’água na sua cidade e que ela ouvia a música lá atrás e se identificava”, diz ele, que ainda falou que a canção realmente caiu como uma luva nela.

As músicas regravadas com essas participações serão lançadas ao longo do mês de julho e agosto, antecipando a estreia do álbum. Já disponível está a inédita “Amor Em Vão”, também gravada com Samuel Rosa. E, além dos lançamentos, os fãs ainda podem esperar o anúncio das datas da turnê, que estreia no dia 9 de setembro no Rock in Rio 2022. “A gente vai fazer algo que nunca fez antes também, que é anunciar todas as cidades de uma vez e já disponibilizar todos os ingressos”, conta.

Segundo ele, a ideia de já anunciar a turnê com início, meio e fim foi para aliviar um pouco os músicos, que durante a vida inteira sempre emendaram uma coisa na outra, sem tempo de descanso. “A gente brincava que até agora nós estávamos em uma turnê sem fim, os projetos eram iniciados e concluídos enquanto a gente estava na estrada e de um fim de semana para o outro já mudava o cenário e o repertório”, afirma. A primeira pausa real do Capital Inicial foi durante a pandemia, quando eles também entenderam a importância de parar para respirar um pouco, algo que só veio com a maturidade.

Todos os anos de carreira também deram ao Capital um lugar de referência, servindo de inspiração para jovens artistas. Mas se Dinho pudesse dar um conselho seria para que as pessoas se preocupassem menos com fama e sucesso e mais com a qualidade do que se está oferecendo. “Às vezes eu vejo uma obsessão por fama, que é uma vontade muito forte de agradar. É como se as pessoas já idealizassem as coisas pensando na exportação e não na realização”, afirma.

Com um legado que se mostra maior do que apenas a discografia produzida durante essas quatro décadas, Dinho espera que as pessoas sejam mais despretensiosas e verdadeiras, se permitindo surpreender, como ele se permite até hoje. “A história do Capital é composta por várias surpresas, e eu estou surpreso de ter chegado até aqui, essa é a última delas.”

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