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Maurício Branco: “Nunca ninguém, nas últimas três décadas, reclamou do meu tipo de humor”

Foto: Divulgação

Ícone da boemia carioca, maior festeiro da cidade, o ator e apresentador Maurício Branco retorna ao Club Manouche nesta quinta, dia 14, às 21h, com o  espetáculo “Branco Gato Show“. Mistura de stand up e show, o solo usa e abusa da verve de showman de Branco. No palco, ele conta “causos” e também canta versões “proibidonas” de sucessos nacionais e internacionais, acompanhado dos músicos Bruno Araújo e Nani Dias.

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Ex-apresentador do Multishow, Branco promete uma noite inesquecível e irreverente nesses tempos tão politicamente corretos. “Meu limite é o meu limite. Mas nunca ninguém, nas últimas três décadas, reclamou do meu tipo de humor”, diz ele, que conversou com RG.

Como surgiu a ideia para o título do novo espetáculo, “Branco Gato Show”? 

Em um fim de semana na fazenda de uns amigos. Sempre gostei de crianças. Tinha uma menininha, a única criança na casa. Aí eu criei um personagem para entretê-la, chamado Tio Branco Gato (obviamente por causa do meu sobrenome ). As pessoas costumam me chamar de Branco. Desde então, esta menininha, agora uma moça, sempre que me encontra, tirou o Tio a meu pedido (risos), e só me chama de Branco Gato. Acabei adotando o nome para este novo show. A versão-tema é maravilhosa e composta pelo Alvin L. Sempre gostei da energia dos gatos.  Quando vi “Cat People” ( A Marca da Pantera”), filme dos anos 1980 com música do David Bowie, a Nastassja Kinski, que virava uma pantera, começou minha fixação pelos felinos. Quando começamos a escrever, li várias coisas interessantes sobre eles. A informação que mais me chamou a atenção foi a de que eles são capazes de viver em duas dimensões. Sem falar que são um charme. Por exemplo: Tom Jobim, no horóscopo chinês, é Gato. Tô vibrando total na energia deles.

No novo espetáculo você faz versões “proibidonas” de hits da MPB e sucessos internacionais. Isso é uma espécie de grito contra a caretice? 

Sempre levei meu trabalho para um lado mais alternativo. Quando comecei a compor versōes era uma coisa para os amigos rirem em festas ou até mesmo em mesas de bar. Fui criado em um ambiente de artistas, meu pai trabalhava para o governo brasileiro, mas lá em casa, nos fins de semana, sempre rolavam saraus. Tinha de tudo: poesia, música, teatro. Fiz parte de uma turma que trouxe o rock de Brasília para cá. Então sempre circulei no meio da música. As primeiras versōes vieram quando eu estava tomando banho, no chuveiro, ainda adolescente.  Nos primeiros shows que fiz, “Uma Noite em Branco” e “As Bibas São de Júpiter”, criei a maioria do repertório. Agora no “Branco Gato”, eu tenho uma parceira criando junto comigo (a Ana Paula Camarinha, que também dirige o show). Mas eu deixo solto, o que faço é apenas entretenimento, não tenho a pretensão de dizer que faço um monólogo. É um bate-papo com o público, descontraído. E eu nunca fui careta. Isso já está intrínseco na minha personalidade.

Foto: Divulgação

Você acha que o politicamente correto cerceou o discurso das pessoas? Existe limite hoje para a piada? 

Fiz quatro temporadas do meu último show, de 2016 a 2018. Nunca ouvi ninguém dizer que meu show era imoral ou que alguém saiu constrangido. Eu sempre tive cuidado e bom senso com o público em todas as minhas apresentações. Tenho 52 anos de idade, peguei essa coisa do “politicamente correto” lá nos anos 1990. Aliás, a primeira pessoa que me falou sobre isso foi meu amigo Renato Russo. Meu limite é o meu limite. Nunca ninguém nas últimas três décadas reclamou do meu tipo de humor. Com o público mesmo só faço elogios. Todo mundo ama elogios. Quem não gosta de pelo menos saber que alguém te elogiou? (risos)

E a cena carioca pós-pandêmica, como está na sua visão?

O Rio de Janeiro, mesmo depois deste porradão que o mundo levou, não perdeu seu brilho. Estamos bem machucados ainda com tantas perdas. Eu chorei, ainda choro. Mas Deus me deu esta função na Terra: divertir o povo. Quando o Paulo (Gustavo) disse que “rir é um ato de resistência”, todos nós, mesmo com a dolorosa perda dele, entramos nessa e tivemos que continuar no nosso caminho. O Rio ainda é o maior polo gerador de cultura do País ao lado de São Paulo. Nada, nem esta tragédia, vai nos tirar isso. Temos que encarar a vida. Não tem jeito. Seguir o que os profissionais da saúde dizem e ir sempre em frente. Nos anos 80 e 90 existiam mais lugares onde artistas podiam se apresentar, casas de shows, teatros etc. Hoje em dia, é bem difícil achar um lugar para um artista que está começando a mostrar seu trabalho. A coisa está mais burocrática: tem que entrar em edital e tal, mas isso não me desanima. Tem gente investindo em diversão. E isso é muito importante.  Outro dia, eu fui num bar em Botafogo que tinha uma vibe tão Nova York, o máximo. Sem falar no povo de fora que ama esta cidade. Eu sou um brasiliense carioca da gema.

Você fez as versões “Sou Maconheira” e “Não Existe Ativa em SP”. Qual foi a inspiração para elas?

“Sou Maconheira”, versão de “Smooth Operator”, da Sade, foi escrita com a Ana Paula Camarinha. O processo de criação às vezes acontece da seguinte forma: a antena parabólica que tenho na cabeça me traz uma música, eu ligo para a Ana e, juntos, escrevemos a letra e fazemos a paródia. Pode ser ouvindo algo e, de repente, o refrão da música sai. É bem divertido, porque temos crises de riso neste processo, é claro. Quem for me ver, não vai se arrepender. Este show está mais jazzy, tenho dois músicos incríveis (Bruno Araújo e Nani Dias), e agora canto mais do que falo. Ou melhor canto mais do que mio (risos).

Club Manouche – Casa Camolese – Rua Jardim Botânico 983.
Quinta, 15 de julho, 21h.
R$ 100 (inteira)
R$ 50 (ingresso solidário)
90 min. 18 anos.

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