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Juliana Salgado: “Ainda existe preconceito quando a banda é só de meninas”

Foto: Divulgação

Rock é rock, não importa quem toca. Mas há algumas bandas que merecem ser destacadas. Hoje damos aqui uma entrevista com Juliana Salgado, baterista da banda de rock feminina Malvada, formada por ela, Angel Sberse (vocal), Bruna Tsuruda (guitarra) e Ma Langer (baixo).

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Foto: Divulgação

As meninas, que começaram a banda de forma despretensiosa e com encontros virtuais, por conta da pandemia, vão tocar no Rock in Rio no dia 3 de setembro, e prometem um show de quebrar tudo. Vai ter, inclusive, single novo que será lançado no festival, então é melhor ficar de olho, elas são uma promessa de boa música e muito, muito rock. Antes do Rock in Rio elas já têm confirmados mais de 20 shows e estão brilhando por onde passam.

Leia a seguir entrevista que RG fez com a baterista Juliana.

Como se formou a banda e como a música entra na sua vida?

Eu sou de Belém do Pará, cheguei em São Paulo em janeiro de 2020. Eu vim para cá apara estudar, especialização em educação musical e para alcançar outra patamar na minha carreira artística também. Eu fiz praticamente tudo em Belém, porque eu toco na noite desde os 15 anos, sempre com muito apoio da minha família. Eu tive muitas bandas, muitos trabalhos autorais, tive banda de noite, de cover, viajei muito, já toquei em orquestra, fiz turnê internacional. Eu sou formada em música e vim para São pealo para fazer pós em educação musical. Ou seja, fiz de tudo em Belém e vim para cá para alçar outros objetivos. Só que eu cheguei em janeiro, e em março teve a pandemia, só deu tempo de arrumar emprego, porque eu não conhecia ninguém, não saía, era totalmente out desta cidade. Em maio, uma amiga minha que é baterista também, a Nina Pará – nós nos conhecemos pelas redes sociais e acompanhávamos uma o trabalho da outra -, me indicou para a Malvada, a banda em que estou agora. A vaga seria dela, da Nina, mas ela estava cheia de compromissos e acabou me indicando e deu certo. A Malvada, naquele momento, precisava de alguém que estivesse com gás, porque sabemos que banda autoral independente não é uma coisa muito fácil de se levar em frente.

Começamos com nossos ensaios virtuais, composições também à distância, até que resolvemos gravar, e foi também com muitos cuidados, sem aglomeração, cada uma em um dia. Nossa vocalista [Angel], na época, estava no “The Voice” e, por conta do contrato com a Globo, ela não podia fazer muitas coisas, então foi um período meio que de espera, mesmo com a música pronta na manga. Em 2021 foi quando a gente realmente deu start no trabalho.

Em 2021 nosso produtor começou a agenda de shows para a gente, mas ainda estava meio tenso, não tinha vacina ainda. A gente tocava em alguns lugares com pouquíssima gente, todo mundo sentado, de máscara, recluso, estranho para um show de rock.

Compusemos as outras músicas do disco já nos encontrando presenciais, mas com todos os cuidados, sempre. Gravamos o disco em abril, lançamos em agosto, e recebemos a notícia que  íamos tocar no Rock in Rio em novembro, só que na época nós não podíamos contar para ninguém, nem para a família, não podia vazar a informação de jeito nenhum. Só pudemos contar a notícia no Dia Internacional da Mulher, dia 8 de março deste ano.

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E vocês estão com shows agendados?

Agora a nossa agenda está lotadíssima até outubro de 2022. Tocamos as músicas do álbum “A Noite Vai Ferver” e alguns covers para deixar o show mais dinâmico. Vamos tocar em vários lugares, em agosto fazemos um show com o Ira!, e já estamos compondo single novo também.

E como é esse single?

Não posso dizer muita coisa da música nova, mas estamos lançando com o produtor Giu Daga (indicado a vários Grammys), e será lançado no Rock in Rio.

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E por que bateria, o que te atraiu?

Olha, eu gostaria de ter essa resposta também, risos. Quando eu tinha oito anos comecei a me interessar por instrumentos musicais, pedi uma bateria para a minha mãe, mas acabei ganhando um violão. Fui fazer aulas e tal, adorei, mas eu queria uma bateria, aí ela me deu uma guitarra. Fui estudar guitarra também, aprendi, até que minha mãe me deu a bateria, mas disse que eu tinha que estudar, e foi o que fiz, tinha 11 anos.

E você sempre quis trabalhar com música?

Sempre. Sabe aquele momento que você começa a pensar “o que vou fazer da minha vida?”, as dúvidas que aparecem, então, eu nunca tive essas dúvidas, eu sempre quis trabalhar com música.

A banda de vocês é totalmente feminina, vocês ainda vêm algum tipo de preconceito sobre isso no mundo do rock?

Nós já passamos por algumas coisas, sim, e nós sabemos que nós mulheres sempre temos que provar o dobro. No início da banda nós passamos por umas paradas meio chatas. No começo, antes de termos qualquer lançamento, soltamos na internet apenas a notícia de que uma banda feminina de rock nascera. E antes de as pessoas ouvirem qualquer coisa foi uma chuva de ódio, questionando a forma como nos vestíamos, que no dia a dia não éramos o que estávamos mostrando, elas éramos muito ruins, tocávamos muito mal, coisas desse gênero, mas lembrando, sem que tenham escutado absolutamente nada. Mas não nos deixamos afetar, não. Outra coisa é quando estamos em um festival e tem cinco bandas de caras e a gente, o público fica um pouco desconfiado, mas, ao mesmo tempo, depois que tocamos eles nos abraçam. Mas claro, sempre há de cara uma certa desconfiança das pessoas para com uma banda de rock totalmente feminina, como se questionassem se sabemos o que estamos fazendo. Talvez eu sinta isso um pouco mais que as meninas, porque sou a baterista, e há esse estigma de que para ser baterista precisa ser forte, risos. São pouquíssimas bateristas, dá para contar nos dedos. Ainda existe preconceito quando a banda é só de meninas.

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E quais são os próximos projetos da Malvada?

O foco no momento é continuar trabalhando o nosso álbum, compor singles novos e fazer um show incrível no Rock in Rio. Queremos também gravar um clipe do single que vai ser lançado no Rock in Rio, para ser divulgado na data do nosso show, no dia 3 de setembro. A ideia é trabalhar, sabemos que banda tem que rodar, e se apresentar, e nós queremos gravar mais um álbum em 2023.

Você compõe também?

Sim, eu faço um pouco de tudo, porque na faculdade de música você passa por tudo, então toco guitarra, um pouco de baixo, teclado, canto e componho também. E ajudo muito nos arranjos, dou ideias de músicas novas. Eu, a Bruna e a Angel somos as pessoas que encabeçam as composições. Mas todas são muito o participativas, dão opinião e vamos fazendo.

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E com foram essas master classes sobre inicialização à música com demonstração de instrumentos no CEU Carrão e no CEU Taipas pela Samsung Mostra Blues & Rock?

Eu fui convidada pela Vanessa, uma das organizadoras, para fazer as master classes. Porque sou professora, baterista, tenho experiência há muitos anos, então acho que encaixou direitinho na proposta da mostra. Eu fiquei muito feliz porque já vi pessoas que eu admiro muito fazendo isso, como a Nina [Pará], por exemplo. Eu acabei indicando a Bruna, da banda, para fazer também, porque ela adora blues e manja muito, ia destruir, seria a pessoa perfeita, e deu super certo.

E era tudo gratuito?

Sim, é para a comunidade, para quem quiser entrar. E os teatro dos CEUs são incríveis, com uma estrutura impecável, acústica, iluminação. E a participação do público foi ótima. A ideia era passar um pouco do meu conhecimento musical, um pouco da minha experiência, e no final de tudo eu as chamava para tocar comigo, gente que nunca tinha visto uma bateria na sua frente. Foi incrível.

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