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“Yentl, a menina que queria estudar” tem apresentações gratuitas em São Paulo

“Yentl, a menina que queria estudar” – Foto: Rogerio Alves

Baseado no conto “Yentl, o menino da Yeshiva”, escrito pelo escritor polonês Isaac Bashevis Singer (1904 – 1991), Prêmio Nobel de 1978, a artista Dinah Feldman criou a contação de história para adultos Yentl, a menina que queria estudar”, que está em turnê com apresentações por todas as regiões de São Paulo. A obra conta com direção artística de Malú Bazán e direção musical de Lucas Coimbra, que também está em cena ao lado de Dinah e do músico Jefferson Bueno.

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Além do conto-base que inspirou a contação de história e o diálogo com a dramaturgia musical criada para a obra, Dinah une na narrativa textos e poemas de artistas como Renata Stein, Adélia Prado, Meyer Kutchinsky, Rachel Kauder Nalebuff, Barbara Black Koltuv, Fatema Mernissi e  Luiza Romão, buscando uma perspectiva contemporânea para a história de Yentl, mulher que finge ser um homem para realizar seu sonho de poder estudar.
 
“Yentl, a menina que queria estudar” dialoga com a pesquisa de Dinah sobre o universo feminino e o ciclo menstrual. Durante a pandemia, a artista realizou uma série de lives pelo Instagram nomeada Papo de Menarca, onde percebeu o grande interesse de mulheres de sua geração, mais próximas da menopausa, em falar a respeito de assuntos relacionados à menstruação.

Ao perceber a carência de acolhimento de muitas dessas mulheres para poder dialogar e refletir sobre assuntos tidos como tabu, como a própria menarca, papéis de gênero, feminilidade e sexualidade, a artista pensou em uma trilogia artística, que começa com essa contação de história. “Queria propor uma discussão sobre esse arquétipo da donzela guerreira, da mulher que se veste de homem para poder existir, já que sendo mulher, não era possível nada mais do que sobreviver”, conta Dinah, complementando que a ideia do projeto é dar voz às questões latentes na sociedade e aos tabus. “O objetivo é trazer temas contemporâneos para a reflexão a partir da criação dos processos artísticos em diversas linguagens”, conta. Futuramente, outras duas criações estão previstas: a performance “Vazantes” e o espetáculo “Joana, A Mulher que Vaza”.

Foto: Rogerio Alves

A artista também explica que inclui, no texto, questões extraídas de sua própria vivência. “Não é só a história do conto. É sobre como, em 2022, uma mulher judia enxerga essa narrativa e abre diálogos a respeito das situações ali expostas”.
 
A ideia de circular com a obra por todas as regiões de São Paulo é uma estratégia para que mais pessoas tenham acesso a discussões que, por serem consideradas tabus, muitas vezes são deixadas de lado. A diretora Malú Bazán explica que a obra também vai chegar em cada espaço com as adaptações necessárias para as apresentações. “Queremos nos instalar em cada praça criando um diálogo com o local, com a arquitetura e o público. Para isso, nossos recursos de luz, cenário e figurino são simples e muito adaptáveis”, conta.
 
A música de “Yentl, a menina que queria estudar”é uma mistura de referências entre os gêneros musicais klezmer, balcan e trilhas de cinema, propondo um diálogo entre o texto/narração, o acordeom e o clarinete.
 
A visualidade propõe um corpo-instalação onde figurino e espaço possam se converter em uma síntese visual e plástica que ajuda a contar a história e evidencia o conceito principal da obra. Para além da dualidade entre feminino visceral e o masculino concreto, o figurino e cenário são compostos por poucos elementos que anunciam uma desconstrução de gênero – nem homem, nem mulher, mas sim o que se deseja ser. O triângulo como símbolo traduz  a ideia das três possibilidades de performar gênero e está presente no espaço, nos casacos dos músicos e da intérprete. 
 
Roupas de alfaiataria desconstruídas em tons de cinza são atravessadas por elementos na cor vermelho sangue, evidenciando a conversa entre essa mulher que decide vestir roupas masculinas para quebrar padrões estabelecidos e estudar, indo contra seu contexto cultural.

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