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Mel Lisboa: “Eu acho que essa questão dos 40 anos é um marco simbólico na sociedade”

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

Malvada e dissimulada. Assim é Regina, a vilã que Mel Lisboa, 40 anos, interpreta na trama das 19h da TV Globo, “Cara e Coragem”. A personagem já ganhou a atenção do público, o que mostra que Mel vem desempenhando seu papel com afinco. Não é fácil interpretar uma vilã, mas para a atriz é um método de aprendizado, tanto esse como outros personagens, e se diverte fazendo vilãs. “Eu estou muito feliz por tudo, com esse reencontro com a Rede Globo nesse momento, com esse produto, com as pessoas com quem estou trabalhando”, diz.

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Dividida entre Rio e São Paulo, onde mora com a família – marido e dois filhos -, Mel, além da novela, gravou dois longas-metragens que devem estrear ainda neste ano. Fora isso, ela está pressente na audiossérie do Spotify “Paciente 63”. A mulher é ligada no 220 e encara desafios com muita tranquilidade. Sobre a distância da família, diz que enfrenta numa boa, mas que percalços acontecem, como a saudade e a vontade de estar mais perto. “Há frustrações para ambos os lados, evidentemente, mas a gente vai contornando isso, eu acho que é o que a maioria das pessoas faz, a gente tenta fazer o melhor que a gente pode no trabalho, com os filhos, na vida.”

Depois de 15 anos afastada das novelas da TV Globo, Mel voltou com tudo e está feliz, satisfeita de estar de volta à casa para a qual já trabalhou antes. “É uma sensação maravilhosa de estar de volta”, diz.

Leia a seguir papo que RG teve com a atriz.

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

Como é voltar à TV Globo depois de 15 anos?

Eu estou muito feliz por tudo, com esse reencontro com a Rede Globo nesse momento, com esse produto, com as pessoas com quem estou trabalhando, a Claudia Souto, a Natália Grimberg, toda a equipe de direção, com esse elenco maravilhoso, e os meus parceiros com quem eu trabalho mais. São pessoas que eu gosto muito, tenho muita admiração, então estou muito contente, é uma sensação maravilhosa de estar de volta.

Como foi o convite para o papel?

O convite foi feito pela Claudia Souto e pela Natália Grimberg, a produtora de elenco Bruna Bueno entrou em contato comigo, porque depois da “Malhação” ter sido cancelada, o meu nome foi liberado, porque ele estava atrelado à “Malhação”, e elas estavam escalando a novela, então eles cogitaram meu nome pra fazer a Regina. A Bruna entrou em contato, falando da história, da personagem, e pediu para marcar uma reunião com a Natália e com o Adriano Melo. Na reunião eu fiquei sabendo que eles e a Claudia queriam que eu fizesse a vilã da novela, e eu fiquei supercontente com o convite, adorei a personagem, a história, o elenco escalado, e aceitei na hora.

Como você se preparou para a personagem?

A gente trabalhou o elenco inteiro com a Cris Moura, que é uma preparadora maravilhosa, e fizemos um trabalho em grupo dos núcleos, mas também um trabalho com o trio de vilões, eu, Ícaro [Silva] e Ricardo Pereira, para trabalhar a relação desses três, até que ponto a confiança deles vai, porque eles confiam sempre desconfiando um do outro, já todos sabem do que cada um é capaz de fazer.  Especificamente da Regina, eu trabalhei essa questão dela ser uma pessoa duas caras, que aparenta ser subserviente, calma e tranquila, quando por trás ela está ali fazendo muitos planos diabólicos para atingir os objetivos dela. Busquei referência de vilãs que têm a ver com a história dela, que é usar o Leonardo para atingir um objetivo de ambição e fortuna que ela tem, e pra isso uma referência clássica é a Lady Macbeth, da peça do Shakespeare, já que é ela quem estimula o Macbeth a fazer tudo que ele faz para conseguir se tornar rei, não importa os meios, “os fins justificam os meios”, nesse caso. E outra personagem icônica para mim é a Eve Harrington do filme “A Malvada”, personagem que chega sendo fã da atriz, querendo ser assistente e ajudar, quando na verdade ela quer derrubar aquela mulher e pegar o posto dela, então são referências que me ajudaram a construir a Regin

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

É sua primeira vilã?

Não exatamente, eu já fiz outras vilãs, porém a Regina é a primeira vilã que eu faço nos moldes clássicos, as outras vilãs que eu fiz em teledramaturgia eram personagens que flertavam com a vilania, mas eram personagens que em algum momento se redimiam, eram mais personagens de caráter duvidoso do que de fato vilãs nos moldes clássicos. Eu acho que a Regina está bem mais na vilania dos moldes clássicos, embora ela seja uma personagem mais contemporânea e tenha uma profundidade, camadas, uma tridimensionalidade, um passado que de certa forma explica os porquês dela ser assim, mas ela de fato é uma vilã como se espera que uma vilã de novela seja. 

É mais difícil fazer vilã?

Eu não diria que é mais difícil fazer vilã, eu acho que todas as personagens têm seu nível de dificuldade, eu acho que também depende muito do ator e da atriz que está fazendo, das circunstâncias, mas eu tendo a achar todas as personagens bastante desafiadoras, eu nunca acho um trabalho “fácil” de fazer, eu sempre percebo as dificuldades e os desafios que têm pela frente, ainda mais numa novela, que é obra aberta e você tem que estar preparada para qualquer mudança, qualquer eventualidade e vai fazendo sem saber exatamente como as coisas vão se desenrolar mais para frente. Eu sempre gosto de fazer vilã, porque eu acho divertido, esse lugar de ficar fazendo coisas e falando coisas meio absurdas, sabe? Então é um lugar em que eu me divirto.

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

Vê alguma chance de final feliz para Regina?

Bom, no momento não (risos), no momento do que eu tenho lido, tudo está se encaminhando para que ela tenha um desfecho que talvez ela tenha que pagar pelas coisas ruins que ela fez durante a trama, mas ainda tem muito chão, muita história para acontecer, é uma novela que tem muitos capítulos, então não sei,  pode ser que isso venha a acontecer sim. Essa é a grande questão da novela, por ser uma obra aberta, a gente não sabe o que vai acontecer, então a gente vai jogando com o que a gente tem, e deixando o caminho em aberto para que outras coisas possam acontecer 

Você esteve com peça em cartaz, “Misery”, vem audiossérie, “Paciente 63”, e dois longas. Onde arruma tanto tempo para produzir tantos trabalhos diferentes?

A gente vive num eterno malabares, eu costumo dizer, a gente está ali tentando dar conta de tudo, e tentando fazer o melhor que a gente pode. Existe uma questão da carreira que é uma estratégia entre as oportunidades que surgem, e aquilo que você de fato vai fazer, e aquilo que você opta por fazer, os nãos que você diz, mas quando surge uma oportunidade muito boa, e que eu acho que dá para conciliar, eu tento, nem sempre é possível, mas eu tento, por mais que isso vá demandar bastante do meu tempo e da minha energia, porque se eu achar que vale a pena, eu vou tentar sim. Nem sempre dá certo, e tem trabalhos também que você é obrigado a negar, porque não dá para fazer, por questões de tempo, por questões contratuais, mas é todo um jogo de quebra-cabeças, é um xadrez que a gente vai jogando, tentando encaixar as peças para que dê certo, para que a gente possa construir uma carreira sólida e bacana  

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

Conte sobre os longas.

Tanto “Atena” quanto “Foram os Sussurros que me Mataram”, foram longas que eu protagonizei e a gente rodou em 2021, foram longas que eu adorei fazer, são bem diferentes, os dois diretores, o Caco Souza e o Arthur Tuoto também são diretores que têm uma condução muito diferentes do set, então foram experiências muito enriquecedoras.

O “Atena” é um filme de gênero, é um thriller, que tem uma personagem alegórica. A protagonista, Atena, que eu faço, é uma justiceira, e traz a tona toda uma questão da violência contra a mulher, então por meio de uma personagem alegórica você traz à tona um assunto importante, e um assunto muito sério, em que a gente não está ali para julgar se as ações da Atena são a melhor coisa a se fazer ou não, mas sim que a gente possa pensar sobre isso que acontece, sobre essas violências que acontecem, e como isso impacta a vida de tanta gente, de tantas mulheres, por esse mundo a fora e no Brasil, principalmente.

E “Foram os Sussurros que me Mataram” é um longa que tem uma pegada experimental, é um filme que se passa todo dentro de um quarto de hotel, 100% feito em estúdio, e com apenas seis personagens, sendo que dois personagens são participações, tem uma cena, então é um filme que gira em torno de quatro personagens apenas, num ambiente bastante hermético, e com uma pegada nada realista, desde o texto, até o modo de interpretação, então foi uma experiência muito enriquecedora, e muito diferente de tudo que eu já fiz, o Arthur é um diretor bastante metódico, quando a gente começou a rodar, já tinha tudo sido ensaiado, o filme 100% ensaiado, com todas as posições de câmeras, então quando a gente começou a rodar era meio que cumprir aquilo que a gente já tinha combinado. Estou supercuriosa, e louca para ver os filmes prontos. Espero que eles sejam lançados em breve. Acredito que ainda este ano

Como lida com o malabarismo logístico de estar em cidades diferentes para seus trabalhos?

Acho que é o que todo mundo faz, a gente vive num eterno malabarismo, a gente tem trabalho, família, filhos… Eu estou trabalhando no Rio e moro em São Paulo. Eu converso muito com eles, e explico a minha situação, eu busco sempre mostrar pra eles que meu trabalho, além de ser preciso, por questões práticas, também é um trabalho que eu amo fazer, e que me sinto completa, e sem ele é como se não houvesse uma parte de mim, então eles entendem, eles sabem, e expressam a falta, mas ao mesmo tempo a gente vai conversando e se entendendo. Há frustrações para ambos os lados, evidentemente, mas a gente vai contornando isso, eu acho que é o que a maioria das pessoas faz, a gente tenta fazer o melhor que a gente pode no trabalho, com os filhos, na vida.

Quais são os próximos projetos?

Tenho “Paciente 63, que é uma áudiossérie pela Spotify, é um projeto muito bacana. E esse ano estreiam dois filmes que eu protagonizei, o Atena”, dirigido pelo Caco Souza, e  “Foram os Sussurros que me Mataram”, dirigido pelo Arthur Tuoto, que vão ser lançados, acredito, no segundo semestre.  Teve  também o audiolivro da autobiografia da Rita Lee, que eu fiz a narração. Eu interpretei a Rita Lee no teatro por três anos, a Rita queria lançar o audiolivro da biografia dela, e me convidou para fazer a narração, então foi uma honra muito grande. 

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

Como você se vê hoje aos 40 anos? E como você vê o processo de envelhecimento?

Eu acho que essa questão dos 40 anos é um marco simbólico na sociedade, é cultural, é como se ele representasse uma maturidade, o que para algumas pessoas pode ser preocupante, mas eu valorizo muito essa maturidade, eu valorizo muito a experiência, eu valorizo a sabedoria, a aquisição de conhecimento, de recursos técnicos da sua carreira, de ter mais ferramentas, de ter mais calma, de ter mais conhecimento de mundo, enfim, estar mais preparado, isso para mim é extremamente valoroso, então eu realmente me sinto muito bem com 40 anos. Acho que, para mim, é uma fase muito boa, porque já faz parte da minha personalidade valorizar esse tipo de experiência, de conhecimento, de maturidade, eu já tenho isso desde muito novinha, e agora que eu fiz 40 anos, me vendo nessa situação, eu acho muito bom.  Evidente que envelhecer tem muitos tabus, as pessoas têm dificuldade de aceitar, o outro até tem dificuldade de aceitar o seu envelhecimento, mas acho que faz parte da vida, e a gente tem que ir trabalhando e entendendo esses processos e esses momentos, e para mim é valorizando aquilo que eu acho que é importante.

Tem estudado?

Eu ainda não conclui [curso de letras], falta um ano, eu ia me formar este ano, mas por conta da novela eu tive que trancar, eu termino de gravar em dezembro, e pretendo retomar a faculdade, quero muito, vamos ver se eu consigo (risos), porque eu também preciso trabalhar, mas espero conseguir sim, porque gosto muito, e agora quero me formar. 

Como cuida da beleza e do corpo?

Eu vejo isso como uma coisa macro, eu penso em cuidar de mim de um modo geral, cuidar da minha cabeça, do meu psicológico, do meu emocional, do meu corpo físico para ele estar disposto, para ele estar saudável, e com isso você tem uma coisa mais integral, é isso que eu penso. Claro que existem cuidados, eu cuido passando produtos na pele, passo protetor solar, bebo bastante água, mas acho que essa questão de pensar de uma forma integral, em que tudo está conectado, para você estar bem de corpo e alma, se sentir bem, e estar bem, é isso que eu acho importante.

Foto: Priscila Nicheli / Styling: Samantha Szczerb / Beleza: Patrícia Nicheli

Como é a maternidade na sua vida?

A maternidade é um outro polo da minha vida, eu tenho alguns polos, entre os mais importantes estão a maternidade e o meu trabalho. E aí entra a questão de novo do malabares, que eu tenho dito, e também a questão desse quebra-cabeça, em que de vez em quando há frustrações, evidentemente,  tanto da minha parte quanto da deles, de querer estar mais perto, mas de estar trabalhando no Rio, por exemplo, então eu converso bastante com as crianças, e é isso. Como eu falei, é um outro polo, a minha vida gira também em torno da maternidade. Tenho dois filhos, o Bernardo tem 13 anos, a Clarice tem 10, e tudo que eu faço, eu penso neles o tempo inteiro, e tento ser a melhor mãe que eu posso ser. É claro que a gente não sabe nunca se a gente está fazendo o certo, a gente tenta, mas tenho certeza que isso não acontece só comigo. Mas é isso, é um pilar da minha vida, um pilar muito importante.

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