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Julia Lund: “Ser atriz não é fácil, requer muito estudo, vocação e insistência”

Foto: Renato Pagliacci

Julia Lund, que atualmente está interpretando a delegada Marcela na novela “Cara e Coragem”, trama das 19h da TV Globo, sempre esteve em meio à arte desde pequena. Livros, cinema e teatro fazem parte da história dessa mulher que optou pelas artes dramáticas como profissão.

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Julia diz que ser atriz não é fácil, requer muito estudo, vocação e insistência. Nos seus 20 anos de carreira, passou por todos os campos (cinema, TV e teatro), mas é no teatro onde ela nasceu e consolidou sua carreira, tanto que possui uma companhia de teatro, a Polifônica, onde tem contato com novos talentos.

O teatro também foi pano de fundo para uma apresentação de um espetáculo dentro de casa com transmissão online em meio à pandemia.

Para fazer Marcela, Julia conta que teve que estudar muito sobre a profissão de delegado e revelou também compartilhar com a personagem muitos de seus ideais.

Para finalizar, ela contou sobre futuros projetos e novidades que rondam a sua carreira. Veja a seguir íntegra da entrevista concedida ao RG.

Julia, conta um pouquinho da sua história para a gente. Você sempre gostou de atuar? Como foi isso? Como você começou?

Desde pequena faço teatro. Sempre fui muito estimulada pelos meus pais e cercada de arte em casa, mesmo sendo a primeira artista da família. Tanto na casa da minha mãe, como na do meu pai, eu estava sempre em contato com livros, muitos filmes e música.

Ainda criança, eu ia ao teatro todos os fins de semana com meu pai, como ele era separado da minha mãe, era o nosso programa juntos. Então, foi um caminho muito natural eu virar atriz, o teatro já habitava a minha rotina e o meu imaginário. Quando estava terminando o colégio, fiz vestibular para Artes Dramáticas na Faculdade da Cidade. Passei e aí nunca mais parei. Já são 20 anos de carreira. Não é uma profissão fácil, requer muito estudo, vocação e insistência, mas não me imagino sendo outra coisa senão atriz. Sou totalmente voltada para o trabalho e para a minha carreira.

O que você gosta mais de fazer: cinema, TV ou teatro, e por quê? E tem algo que te marcou muito nesses 20 anos de atuação? Uma peça, uma novela … e por quê?

Eu sou filha do teatro. Foi ali que comecei e que sempre me mantive. Eu amo poder sentir o público perto de mim. Essa troca ao vivo no momento presente é muito preciosa. E é efêmero também, porque só viveu determinada experiência de uma peça, quem estava ali, naquele momento, naquela hora e lugar específicos. Mas tenho gostado cada vez mais de fazer TV, me sentindo mais à vontade com essa linguagem e aprendendo muito a cada trabalho que faço. E o cinema é uma paixão que venho flertando há um tempo. Sou completamente cinéfila, assisto a muitos filmes e agora estou desenvolvendo um projeto de um longa-metragem.

Todos os trabalhos que faço, me marcam de alguma forma, mas acho que a peça “Amor em Dois Atos” foi fundamental para. o meu desenvolvimento como atriz. Era um casal no fim de um relacionamento, a peça começava com o homem, feito pelo Otto Jr., em um monólogo de 35 minutos ininterruptos, dizendo o porquê ele não aguentava mais essa relação. A mulher, feita por mim, escutava calada essa enxurrada de palavras, para depois dar a reposta dela por mais 35 minutos e terminava a peça. Foi um grande desafio decorar quase 30 páginas de texto sem pausa e com uma intensidade emocional gigante. Eu e Otto Jr. Fomos indicados ao prêmio APTR como melhores atores por esse trabalho.

Foto: Renato Pagliacci

Conta como foi essa história de espetáculo dentro de casa com transmissão online que você e seu marido, Luiz Felipe Reis, fizeram durante a pandemia?

“Tudo que Brilha no Escuro” foi um solo audiovisual criado por mim e pelo Luiz Felipe durante a quarentena. Foi todo idealizado e realizado em casa, com uma dramaturgia composta por memórias minhas, textos do Luiz Felipe e outros livremente inspirados em obras do dramaturgo Pascal Rambert e do roteirista Jean-Claude Carrière.
Ao longo de 50 minutos, eu vivia uma mulher que, durante uma noite, visitava lembranças reais e inventadas marcadas pelo fim de um relacionamento, em um processo de “troca de pele”, de busca por reinvenção existencial.

O trabalho em si é, por um lado, um experimento que agrega aspectos audiovisuais ao teatro, e, por outro lado, uma experiência intimista, em que uma atriz compartilha com o público as suas memórias, vivências e a sua busca por reinventar sentidos para a vida e para o fazer artístico.

Criamos um trabalho que reafirma a vida. É uma busca por aquilo que nos faz continuar a viver e acreditar na capacidade transformadora da arte, do teatro e dos encontros, mesmo que virtuais. “Tudo que Brilha no Escuro” é essa tentativa, esse ato urgente de aproximação das pulsões de vida, de tudo aquilo que nos mantém de pé e agindo por um presente e um porvir mais respiráveis.

Foto: Renato Pagliacci

Em “Cara e Coragem” você interpreta a delegada Marcela, o que você e Marcela têm em comum?

Um senso de justiça e um olhar feminista para as questões. A Marcela é uma mulher forte, honesta, proativa e com uma força de ação muito grande. Ela não se acomoda e vai em busca do que ela acredita ser o certo. Eu me vejo assim também.

Adentrando ao assunto delegada. Para fazer o papel você teve que se aprofundar no tema? O que você acha da profissão?

Sim, claro. Estudei bastante esse universo policial, peguei muitas referências em filmes e séries. Também comecei a seguir algumas delegadas nas redes sociais e a observá-las. Pesquisei também como eram as provas do concurso para delegadas aqui no Rio de Janeiro e peguei o TAF (teste de aptidão física) para executar com auxílio do meu personal trainer. Mas sigo estudando e me aprofundando. Tenho um respeito profundo por essa profissão e acho que pode ser uma carreira muito bonita, ainda mais sendo exercida por mulheres.

Você e seu marido possuem uma cia. de teatro, a Polifônica. Conta um pouquinho para a gente como é essa experiência e também o trabalho com jovens talentos?

A Polifônica é nosso espaço de criação e investigação artística. Criamos esse núcleo em 2014, logo depois de nos conhecermos. Já realizamos quatro projetos e temos muitos outros pela frente. Na Polifônica, desenvolvo meus trabalhos mais pessoais, coisas que gostaria de fazer no campo das artes performativas. Desenvolvemos uma pesquisa de polifonia cênica, onde várias linguagens artísticas, como a música e o vídeo por exemplo, habitam o espaço da cena com total autonomia.

Sabemos que você não para e tem muitos projetos. Conta um pouquinho sobre a peça “AWEI” e o longa-metragem “Uma Duas”.

O “AWEI” é projeto que idealizamos em 2018 e que vamos estrear em 2023. A peça é um contraponto artístico à devastação ecológica e à política de destruição ambiental, étnica e social em curso no Brasil.

“Uma Duas” é um projeto de longa-metragem, em colaboração com a Clariô Filmes. Baseado no livro de mesmo nome da autora Eliane Brum, o filme conta a história de uma relação conturbada entre uma mãe e sua filha. Com a genialidade e profundidade da escrita da Eliane. Estamos na fase de captação do filme.

Foto: Renato Pagliacci

O que vem de bom aí no segundo semestre e que você ainda não contou para ninguém, mas pode nos contar?

Um projeto que estou amando e muito empolgada, uma série audiovisual para o streaming que desenvolvi com um grupo de dez amigas também atrizes. Criei esse grupo de pesquisa e estudos em 2021 e desde lá viemos lendo algumas coisas e desenvolvendo alguns projetos. Agora estamos na fase de vender nosso primeiro projeto para uma plataforma de streaming. Não posso contar a ideia nem o título da série, mas é algo inédito e feito 100% por mulheres.

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