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“O legado de Dominguinhos é um presente”, diz Liv Moraes

Liv Moraes – Foto: Reprodução/Instagram/@livmoraesoficial

Por Leo Oliwer

Mais de 800 Km no modo “repeat” do tema musical “Oceano”, de Djavan, no longo percurso da estrada, a música então recém-lançada soava como uma refinada poesia aos  ouvidos de Dominguinhos, que dirigia na companhia de Liv Moraes, sua filha e fiel parceira de trabalho. Essa e outras dezenas de histórias são lembradas com carinho por Liv, cantora e compositora, que herdou do pai os dotes artísticos e que ainda menina passava o dia escrevendo. Com oito anos possuía um caderno onde ali, de forma discreta, colocava suas poesias, até que certa vez a mãe de Liv avisou Dominguinhos sobre esse caderno, foi então que nasceram algumas composições.

Já são 21 anos de carreira, com uma vasta experiência em balé clássico e outros estilos de dança. Ela se define como tímida, mas essa definição se torna totalmente controversa a partir do momento em que a paulistana sobe aos palcos – com sotaque e sangue nordestino, uma mistura que a própria Liv  brinca e diz que é fruto da riqueza cultural que seu pai representa.

“Como cantora sempre tive o apoio do meu pai, mesmo ele apontando minha timidez, embora ele desejasse muito que eu terminasse o curso de psicologia, mas isso era uma preocupação dele com meu futuro”, relembra.

Quando o assunto é moda, ela se considera um pouco desapegada, mas afirma que gosta de brilho, aliás muito brilho. E não é para menos, filha de um dos maiores astros da nossa cultura popular, Liv carrega em seu DNA a força, o talento e a origem preciosa de Dominguinhos.

RG esteve em um dos shows de Liv em São Paulo, um tributo à genialidade de seu pai. “Estar novamente com o público é sensacional, no período de pandemia fizemos muitas lives, aprendi muita coisa, foram quase todas em prol de alguma instituição ou projeto social”.

Dominguinhos – Foto: Reprodução/Instagram/@livmoraesoficial

Com as festividades do mês de São João se aproximando, sua rotina de apresentações se torna intensa, os músicos originais da banda de seu pai estão ao seu lado, apresentando uma série de shows especiais com muitas das grandiosas obras deixadas pelo mestre Dominguinhos. Para essas apresentações, não há regras, tem de tudo um pouco, os artistas envolvidos nesse projeto foram além e montaram três repertórios diferentes, mas cabe aqui uma correção, podemos dizer sim que há uma regra, e ela é… ser feliz.

“Os músicos tocam naturalmente, fruto da experiência que adquiriram com meu pai, é como andar de bicicleta, não se esquece nunca. Meu pai não seguia repertório ou qualquer tipo de ensaio, muitas vezes ali mesmo no camarim, faltando 15 minutos para o show começar, era onde ele decidia o que iria apresentar, aprendemos tudo assim”, conta Liv.

Entre um espaço e outro conseguimos uma brecha na agenda da artista para conversar um pouco sobre tudo isso. Vale ressaltar que em nossa conversa Liv fez questão de levar junto um outro artista de peso, não é exagero dizer que Fabinho Zabumbão é hoje além de músico, um dos membros da banda que mais se tornou próximo, tanto de Dominguinhos quanto de Liv.

Fabinho conheceu a família de Dominguinhos em 1996, quando tocava em um restaurante. “Minha maior lembrança com Dominguinhos foi o incentivo que ele me deu. Quando fiz uma música em homenagem ao centenário de Luiz Gonzaga, tive a honra e a responsabilidade de poder mostrar a ele”, conta.

Durante o período de pandemia, tão difícil para todos nós, Fabinho criou o projeto “S.O.S músicos” com total apoio de Liv, para ajudar a categoria musical tanto afetada pela pandemia. Uma ação nobre e cheia de carinho. Ainda falando sobre boas lembranças e legado, o músico multi- instrumentista faz questão de enfatizar: “Ele dominava a banda inteira apenas com o olhar. Quando ele se posicionava para tocar sanfona no palco, era como se tivesse uma orquestra inteira no local, tamanha imponência musical”.

Liv e Fabinho formam hoje uma grande parceria pelos palcos Brasil afora: “Fazer todos esses shows é uma forma especial de levar o legado deixado por ele. Estamos todos aqui firmes e fortes nessa missão”, reforça a dupla. “O legado de Dominguinhos é um presente, ele levou muito amor por onde passou,” afirma Liv.

Liv Moraes e a banda – Foto: Reprodução/Instagram/@livmoraesoficial

A obra deixada pelo mestre é muita rica, extensa e cheia de peculiaridades incríveis. Liv nos adiantou também que existem músicas inéditas sim: “Temos pronto um álbum duplo com muita coisa nova, no momento certo tudo será mostrado com muito carinho ao público”, confirma a artista.

Liv gosta de relembrar que entendeu sobre quem era seu pai de maneira gradativa e natural, aos poucos a pequena foi entendendo a genialidade do homem admirado por onde quer que passava, ela esteve sempre ao lado dele desde muito pequena: “Era engraçado eu criança, sem entender o motivo de todo mundo abraçar ou falar com meu pai, era muito carinho que ele recebia”.

Perguntamos a ela o que a música significa em sua vida? Sem pensar duas vezes, a artista foi clara em sua resposta: “É um grito de libertação, e um modo lindo de se conectar com as pessoas”.

Liv e Fabinho confirmam também, com exclusividade, que existe um projeto de reunir itens e objetos pessoais de Dominguinhos para assim formarem uma exposição: “Vem aí, muito em breve uma exposição com figurinos, discos, prêmios enfim, tem muita coisa para organizar e levar essa experiência a diversos cantos do Brasil”.

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