Johnny Hooker – Foto: Carlos Salles
Inspirado no livro “Orgia – Diário de Túlio Carella”, no qual o dramaturgo e roteirista argentino narra suas aventuras sexuais na Recife de 1960, Johnny Hooker lança “Orgia”, seu novo disco. A obra de Hooker e de Carella se encontram não apenas no tema, mas no contexto, quase como se o tempo não tivesse passado, o país vive novamente um momento onde o fascismo se impõe, recorrendo ao pânico moral para se vender como solução aos problemas da nação.
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“Por que não escrever um disco que seja também o diário de um período em que o futuro está sequestrado, em que o corpo e o desejo se apresentam como uma forma poderosa de resistir?”, pensou o cantor ao idealizar o álbum.
“ØRGIA” é o terceiro disco de estúdio da carreira de Johnny Hooker e sucede os aclamados “Eu Vou Fazer uma Macumba pra Te Amarrar, Maldito!” e “Coração”. Assim como o livro homônimo de Carella, o álbum busca desenhar a narrativa de um tempo onde a perseguição das minorias tem um novo momento de frisson no país. Ao decorrer de 13 faixas, o artista apresenta a história em três atos e um epílogo, assim como em um livro.
Capa de “Orgia”, Jhonny Hooker – Foto: divulgação
O disco começa pelas faixas “Amante de Aluguel” e “Nos Braços de Um Estranho”, que têm o êxtase da noite e sua carnalidade pulsante. Seguido por “Cuba” e “Maré”, o álbum cria uma espécie de delírio tropical de fuga e, finalmente, chegando aos tempos apocalípticos que se desenham diante dos olhos, estão as faixas “Eu Te Desafio a Me Amar” e “Estandarte”. O epílogo conta com uma versão em espanhol da já clássica “Volta”, agora “Vuelve”, adaptada por Julia Konrad. Ele sugere o exílio conceitual do Brasil tanto para Carella, quanto para o próprio Hooker, embora seja impossível deixar para trás o sentimento de pertencimento, como ouvimos em um trecho da faixa de abertura: “Penso que no final, o Brasil é essa dor que vive em mim”.
O disco foi trabalhado durante quatro anos e é assinado por produtores como Arthur Marques, DJ Thai, Felipe Puperi, João Inácio da Silva, Barro e Guilherme Assis. Nas letras, se alternam composições do próprio Hooker e outras recebidas como presente, escritas especificamente para o disco, como “Maré”, de Juliano Holanda, em que o cantor divide os vocais com o capixaba Silva. Já “Nossa Senhora da Encruzilhada” foi escrita por Filipe Catto, que também assina a identidade visual do projeto junto com o fotógrafo Carlos Salles e o multiartista Alma Negrot. Completando o time, as faixas ‘’Larga Esse Boy’’ e “NHAC!” contam, respectivamente, com participações especiais de Jader e Chameleo. Thiago ABRA ficou responsável pela mixagem e a produção adicional e a masterização é de Filipe Tichauer.
O disco vem com um tom de despedida, que passeia por toda a heterogeneidade da obra de Hooker – do brega ao forró, do samba ao flamenco, do pop à experimentação. Uma verdadeira orgia de ritmos em busca do reencontro com o corpo e com a vontade de viver, como ouvimos na faixa de abertura; um relato de um tempo em que o futuro é uma imensa e irrevogável incógnita.