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Bianca Bin e Fabrício Pietro protagonizam “Jardim de Inverno”, no Teatro Faap

Foto: Danilo Borges

Com direção de Marco Antônio Pâmio (vencedor de três Prêmios APCA) e adaptação dramatúrgica de Fabrício Pietro, “Jardim de Inverno”, do escritor americano Richard Yates (1926-1992), chega com nova temporada a partir do dia 17 de junho, sexta-feira, às 20h, no Teatro Faap.  As sessões acontecem de sexta e sábado, às 20h, e domingos, às 18h.

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O elenco é composto por Bianca Bin, Fabrício Pietro, Erica Montanheiro, Iuri Saraiva, Martha Meola, Ricardo Ripa, Luciano Schwab, Aline Jones, Fabiana Caruso e Lucas Amorim. A montagem estreou em 2019 e foi vencedora do Prêmio Bibi Ferreira (categorias Melhor Atriz e Ator Coadjuvante em Peça de Teatro, com Martha Meola e Iuri Saraiva) e do Prêmio APCA novamente com Iuri Saraiva na categoria de Melhor Ator.

A peça se passa em uma época pré-feminista e levanta questões como a liberdade, os padrões de vida impostos pela sociedade e a sensação de sufocamento na vida familiar. A obra foi adaptada para o cinema (em português com o título “Foi Apenas Um Sonho”), protagonizada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet.

A trama retrata a vida cotidiana de April Wheeler (Bianca Bin) e seu marido Frank (Fabrício Pietro), um casal de classe média aparentemente feliz, que mora com seus dois filhos em um idílico subúrbio de uma pequena cidade nos Estados Unidos, na década de 1950. A história revela momentos intensos da vida cotidiana deste casal que ao cumprir as convenções sociais impostas sufocam seus mais profundos anseios, envenenando sonhos e aspirações.  O espetáculo nos apresenta a progressiva frustração que acomete os dois, conforme assistem a suas vidas passar como um acúmulo de instantes sem sentido.

Foto: Danilo Borges

“A obra, mesmo tendo sido escrita no início da década de 1960 e contando a história de uma família americana suburbana dos anos 1950, carrega em seu cerne uma atemporalidade de proporções gigantescas, pois ela fundamentalmente nos fala de como nossos projetos de realização pessoal podem ser sufocados em nome da estabilidade social e financeira. Esse assunto não diz respeito a uma época específica, e sim à problemática humana mais profunda, independente de tempo ou lugar”, diz o diretor Pâmio.

April é uma mulher em dissonância com a condição de dona de casa. Ela elabora um plano romântico para se mudar com a família para Paris, onde será possível reavivar seu relacionamento com o marido, cumprindo seu profundo desejo de liberdade e dando a ele a chance de se “encontrar”.

Bianca Bin entra no elenco para viver a protagonista, papel que foi de Andréia Horta na primeira temporada. Sobre a personagem Bianca comenta: “Além do grande sentimento de não pertencimento, não me encaixando em alguns papéis sociais durante momentos da vida, me considero questionadora, corajosa e com um espírito revolucionário como da April. Estou fazendo um estudo minucioso do texto e da pesquisa já realizada para montar o espetáculo pela primeira vez, com referências do contexto histórico, do romance de Yates e uma entrevista com o próprio autor. E através das trocas nas relações com os demais personagens em cena. Eu acredito no processo colaborativo da criação coletiva com o elenco. Crio a April a partir da troca com cada um deles”. A atriz, que viveu várias protagonistas na televisão, comemora o fato de estrear nos palcos. “É um desejo antigo, que vai realizar só agora com a peça Jardim de Inverno. Estou ansiosa, muito feliz e grata pela oportunidade.”

Foto: Danilo Borges

Já Frank tem um emprego relativamente bem remunerado, mas muito tedioso, em Nova York. Inicialmente, ele fica entusiasmado com a ideia da esposa, mas, aos poucos, acontecimentos inesperados passam a alarmá-lo e a perspectiva de felicidade precisará ser negociada.

Para construir seu personagem, Pietro inspirou-se nos modelos de família tradicional ao seu redor. “Fui criado em uma sociedade na qual a figura masculina tem obrigação de ser forte, provedora, maliciosa, chefe da casa, e bem-sucedida. Ainda que eu tenha consciência destas questões e lute contra elas, sei que estão plantadas no meu DNA social”, acrescenta. “Vivemos num período de grande evocação social sobre as questões do feminino, na mídia, na cultura, portanto interpretar nos palcos qualquer figura masculina que esteja em embate com uma mulher em cena, exige cautela, para que a abordagem não caia em mera opinião panfletária. Vou sempre em busca do entendimento da condição humana na circunstância em que a personagem está inserida.”

O casal não sabe se abre mão de seus verdadeiros desejos ou enfrenta o peso do conformismo. Eles descarregam suas frustrações um no outro e raramente compreendem o ponto de vista do parceiro, refletindo a desilusão do sonho americano, o “american way of life”. Mas, diante dos olhares de seus vizinhos, eles representam os pilares de tudo o que há de bom; são pessoas charmosas, contagiantes, exemplares e especiais, o que afirma a maneira como se veem.

Essa dicotomia entre a realidade (para o casal) e a ficção (para os vizinhos) faz com que a história seja um inquietante retrato da busca desesperada por uma única chance na vida de se fazer o que se quer para que tudo valha a pena. “A própria dramaturgia nos conduz a isso, uma vez que enxergamos o casal na sua intimidade e no convívio com os outros personagens que os cercam no mundo exterior. Nosso elemento inspirador é o próprio teatro, na medida em que essa vida levada pelos dois é, de certa maneira, representada para os outros. Todos representam papéis sociais, mas o que eles vivem entre quatro paredes se distancia bastante do que deixam transparecer para o mundo. E, tanto quanto no teatro, esses papéis precisam ser extremamente bem representados”, explica Pâmio.

Foto: Danilo Borges

Tal como uma tragédia grega, a obra gira ao redor das falhas morais de suas personagens centrais ao discutir temas como a liberdade, o quanto as pessoas são capazes de se autossabotar para caber nas expectativas sociais, a distância entre a felicidade idealizada e a vida concreta, a busca por uma vida autêntica, os modelos irreais de felicidade impostos pela sociedade, como o homem lida com o sucesso da mulher, seu desejo de autoafirmação e o medo diante de certezas questionadas.

 

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