Susanna Lira – Foto: Divulgação
Acostumada a retratar a vida de mulheres fortes, a cineasta Susanna Lira já ganhou prêmios com o documentário “Torre das Donzelas”, sobre os anos na prisão da ex-presidente Dilma Roussef, “Clara Estrela”, sobre a cantora Clara Nunes, e tantos outros. Agora ela trocou de time e entrou de vez para o mundo do futebol. Após estrear o documentário “Casão, Num Jogo sem Regras”, ela já se prepara para entrar em campo com outro sobre Adriano Imperador. “A série do Adriano, assim como a do Casagrande, vai trazer um acesso privilegiado ao mundo interior do personagem, da sua família e de amigos próximos”, diz.
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Essa intimidade com o mundo da bola é nova e começou quando a diretora teve a ideia de falar sobre a vida do ídolo do Corinthians. Os dois se encontraram e foi amor à primeira vista além da carta branca para colocar na tela todos os conflitos, amores e alegrias de Casagrande.
O que foi mais surpreendente para você na vida de Casagrande e o que mais te emocionou?
Casagrande é um personagem que é parte da história atual brasileira em vários cenários. É uma das figuras mais complexas da cultura e do esporte brasileiro. Além de ser um esportista, ele é amante da música e um homem extremamente politizado, em um meio que é pouco comum se ver tanta clareza relacionada a esse assunto. Essa característica multifacetada da sua personalidade, torna sua vida um laboratório de curiosidade para quem faz documentário. Casagrande é um homem que não tem medo de si mesmo. E isso é o que mais me emocionou trabalhando com ele. Com todos os problemas que enfrentou na vida, todos os julgamentos que enfrenta diariamente, e a força que tem para seguir vivendo é extremamente inspirador. Sua vida é emoção do início ao fim, pois é um homem movido a paixões.
Você sempre retratou histórias de mulheres fortes que inspiraram e inspiram gerações, por que essa mudança de rumo?
Eu adoro desafios e sigo buscando novas possibilidades de renovação do meu olhar para o meu trabalho e tudo que faço. Não quero que nada me restrinja, muito pelo contrário, quero buscar coisas que nunca fiz para exercitar minha musculatura criativa.
Sua sensibilidade feminina ajuda a entender a alma masculina?
Sem a menor dúvida. Tento sempre colocar lentes do que há de mais feminino em mim para retratar essas histórias.
Susanna Lira e Casagrande – Foto: Divulgação
Como foi ganhar a confiança de Casagrande para que ele abrisse sua vida para você?
Casagrande é um cara muito sensível e com uma grande intuição. Passei um email para ele propondo o documentário e ele quis encontrar pessoalmente. Convidei o roteirista Bruno Passeri para ir comigo e fomos lá explicar nossas intenções para ele. Acho que ele confiou de cara, foi um encontro onde ele percebeu que a gente queria fazer algo sério.
Você escolheu personalidades do mundo do futebol que se destacam pelas polêmicas, isso foi proposital? O que mais pesou nessa escolha?
Casagrande foi uma escolha, Adriano Imperador foi um convite. Em ambas as situações, eu aceitei e quis fazer pelo enorme desafio. Parecia que eu teria que escalar o Everest. São dos ícones do futebol brasileiro, com uma infinidade de fãs e também de haters. Duas figuras fascinantes por tudo que elas representam.
Você gosta de futebol? Como ficou seu lado torcedora ao entrevistar Casão?
Eu gosto de futebol e Casagrande sempre foi um ídolo. Confesso que tenho frio na barriga até hoje quando tenho que falar com ele sobre qualquer coisa. Mas fui a mais isenta possível para fazer a série.
Até que ponto o ídolo interfere com a sua ótica do personagem em si, do humano?
Foi muito surpreendente a forma como ele me deu liberdade total para tocar em assuntos espinhosos e expor situações que muita gente jamais se permitiria. Pela primeira vez na minha vida de documentarista (já são 15 longas) jamais estive diante de um biografado que não tinha ressalvas. Colaborou sempre com tudo que foi solicitado a ele e de forma alguma quis conduzir a narrativa de acordo com seu interesse. Acho que ele também quer se conhecer mais através dessa série, quer ver sua vida refletida por um outro olhar que não seja o dele próprio.
Você acha que a fama má administrada é destrutiva?
Totalmente. Sabemos que a saúde mental dos atletas é um tema negligenciado, mas que precisa ser visto com muito rigor. Dinheiro e fama trazem consigo um peso absurdo na vida desses caras que começam a ficar milionários muito cedo. Saber administrar isso é fundamental.
Como conseguiu abordar o mundo das drogas sem cair no estereótipo?
Não tive receio em abordar a história exatamente como aconteceu. Então, tem muita honestidade na maneira que contamos. A franqueza e transparência do Casagrande ajudou muito a não cairmos em armadilhas.
Seu próximo trabalho será um documentário sobre o Adriano. Você observou alguma semelhança entre as histórias e os comportamentos de Casagrande e Adriano, na forma de eles lidarem com a vida e a fama?
Casagrande e Adriano são dos ícones do futebol brasileiro e foram dois jovens que lidaram com a fama de uma forma tumultuada. Acho que é o único ponto de intercessão, no restante, são dois homens completamente diferentes. São trajetórias distintas em um meio onde há um nível de pressão e cobrança absurdo e ambos sofreram com isso.
O que podemos esperar desse trabalho com o Imperador?
A série do Adriano, assim como a do Casagrande, vai trazer um acesso privilegiado ao mundo interior do personagem, da sua família e de amigos próximos. É um mergulho profundo nas emoções desse atleta que passou e ainda passa por um turbilhão de questões que ele tenta superar todos os dias.