Foto: Guilherme Nabhan
Antes de se tornar o ícone musical que é hoje, Iza se dedicava à música no YouTube, fazendo covers em uma tentativa de criar portfólio para vender seus shows. Porém, nessa época, a cantora e compositora já estava há algum tempo sem ganhar dinheiro, e conversou com a mãe sobre deixar a música de lado para arrumar um emprego. Foi justamente nesse momento que ela mais precisou ter fé, tema que inspira e dá nome ao seu single mais recente, lançado na última sexta-feira.
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“Minha mãe trabalhava em três escolas, a gente já estava fazendo extra vendendo sanduíche e mesmo assim não estava sendo suficiente. Eu me sentia muito egoísta de tentar correr atrás de um sonho enquanto os boletos chegavam e minha mãe trabalhava para caramba”, lembra Iza.
Se temos o privilégio de apreciar o trabalho da cantora hoje, é porque ela sempre acreditou que seu momento ainda chegaria. Daí surge a inspiração para o single “Fé”, que vem menos no lugar da religiosidade e mais no de crer em algo que dê sentido para a vida. “Você pode acreditar em qualquer coisa, não precisa ser um mito, um santo, uma seita, uma crença, mas acreditar em alguma coisa”, afirma.
Foto: Guilherme Nabhan
Porém, ao longo do caminho, a cantora também foi percebendo que não basta só acreditar, nem depende apenas de você, é necessário ignorar muita gente ruim durante o processo. “Todo mundo conhece um filho da puta, alguém que atrasa, que é frustrado e acaba jogando isso na sua vida, todo mundo conhece alguém assim, em várias escalas”, diz ela, sobre o refrão da música.
Essa é a primeira vez que Iza faz uma música com um palavrão, mas no dia a dia diz que isso até faz parte de seu vocabulário, principalmente em situações mais viscerais. “Eu não economizo palavra quando estou assim, por isso resolvi fazer dessa forma. Sabendo também que quem tinha que entender ia entender”, conta ela, que também já sabia que teria que adaptar a música para alguns veículos como o rádio, por exemplo.
Essa ideia de enfrentamento ganha continuidade no clipe de “Fé”, feito com Felipe Sassi, que traz um grupo de 50 bailarinos formados em dança contemporânea. No vídeo, os dançarinos atuam como se fossem os empecilhos na vida da cantora, gritando, puxando e mexendo com ela de alguma forma. “No dia da gravação eu falei: me xinguem de tudo que já xingaram vocês. E era até engraçado porque quando terminava a cena eles vinham me pedir mil desculpas”, conta ela.
Foto: Guilherme Nabhan
Inclusive, uma das cenas mais impactantes do clipe é quando um dos bailarinos cospe na cara de Iza no meio dos xingamentos. “Eu queria realmente ser desrespeitada nesse sentido, criar um atrito e ilustrar isso”, explica ela, que pediu para o dançarino não beber água ou tentar fazer algo diferente, era para realmente cuspir em sua cara. Mais uma prova de como a artista se entrega em suas produções.
Apesar de já ter tido muitas experiências com “pessoas escrotas”, como diz, e falar na música sobre a necessidade de ter fé para enfrentá-las, Iza conta que a letra não foi feita para nenhum filha da puta específico. A intenção é que as pessoas se identifiquem com a mensagem e a apliquem na sua própria vida.
Com isso, o single também mostra seu caráter político e a artista deixa claro que o intuito é mostrar a necessidade de falar e não fingir que nada está acontecendo. “Música comunica, arte comunica, a gente não está aqui atoa, a gente está aqui para fazer parte da história também”, diz ela, pensando no ano de eleição e na importância do que a arte e os artistas têm para dizer agora.