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Segundo álbum de Viegas, “Conexão”, chega com identidade mais bem definida

Viegas fala sobre carreira e último álbum – Foto: reprodução/@viegas

Sentado no ponto, Viegas esperava o ônibus para voltar para casa quando um grupo de meninos passou o encarando estranhamente. Pouco tempo depois, os mesmos meninos voltaram em rodinha e ele já começou a pensar nas possibilidades que tinha de fugir ou brigar, até que um deles disse: “Opa, licença, temos uma banda de reggae, vimos você com os dreads e queremos saber se você não topa fazer um teste para ser nosso vocalista”.

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A situação quase cômica aconteceu quando Viegas tinha por volta de 20 anos e hoje, aos 34, ele conta que foi aí que sua carreira na música realmente começou a tomar uma forma mais concreta. “Rolou uma sintonia muito boa e depois disso a banda se estendeu por mais uns seis anos. Mas chegou um momento em que ela acabou e eu ainda tinha muitas composições e muita vontade de continuar, então segui sozinho”, conta ele.

O trabalho solo começou em 2011, com um CD de duas faixas. A mesma música mixada de dois jeitos diferentes compunha o trabalho, e a forma de divulgação era raíz. “Eu saía pelas ruas de São Paulo vendendo esse CD a R$ 3,00, e foi o dinheiro que juntei com ele que me permitiu mixar meu outro EP, que já saiu maior, com 11 faixas”, lembra.

De lá para cá já foram alguns projetos independentes, álbuns e até um documentário, mas o reggae sempre foi o fio condutor por trás disso tudo. Mesmo com influências musicais que não passam tanto pelo gênero, como Planet Hemp, Nação Zumbi e O Rappa, Viegas conta que o que aprendeu com o reggae, e o que mais importa para ele até hoje, é a mensagem.

“Tanto que eu tento ao máximo alinhar o discurso com a prática, então eu sei que ter dread e ser rastafari são coisas diferentes. Na época da banda, ela começou chamando Forças de Jah, sendo que ninguém lá era rasta, aí depois a gente foi conversando e mudando de nome até chegar em Manifesto Coletivo, que aí já fazia mais sentido”, afirma. 

Mais tarde, fora do grupo, ele ainda estava muito inserido no meio de reggae, e foi quando começou a aprender sobre os riddims, melodias prontas que são recicladas em diferentes músicas. “Quando gravei meu primeiro EP, ele foi em cima de vários riddims, bases jamaicanas que eu peguei na internet, então cada vez mais eu fui conhecendo e me apaixonando pelo reggae”, destaca.

Cantor contou que não tem nenhum músico na família – Foto: Wolas Salviano

Hoje, Viegas conta que, embora ainda mantenha alguns aspectos do reggae, seu som mistura várias outras referências como Gilberto Gil e Jorge Ben Jor. “Eu sempre ouvi muita coisa diferente, tanto que meu primeiro álbum se chama ‘Alquimia Sonora’, porque ele acabou misturando muita coisa”, conta ele, sobre o disco que antecede seu lançamento mais recente, o “Conexão”.

Mais maduro, o músico percebe que seu último álbum já apresenta uma identidade bem definida, não só nas melodias mas também na composição. Se antes sua letra tinha um cunho mais social, é porque ele realmente estava inserido nesses movimentos e estudava para falar sobre isso. Agora, sua música vem quase como um desabafo de tudo que ele deixou de falar, mas que também vale a pena ser dito.

“Por exemplo, hoje eu me permito falar sobre o sorriso da minha filha, ou escrever sobre um dia de sol. Então acho que meu objetivo com a música agora é criar essa conexão com as coisas simples, quero que as pessoas deem play no meu som e se sintam bem, em paz”, destaca. E é daí que vem o nome do álbum, estar conectado com o mundo e as pessoas de uma forma mais tranquila.

Segundo ele, esse conceito do álbum já estava sendo construído há algum tempo, mas no fim, ele veio de forma mais natural, quase como um desabafo. “O ‘Conexão’ é simplesmente pegar o violão e deixar fluir tudo que vier de bom e de ruim, porque nem sempre a gente está motivacional, então é mostrar um pouco essa fragilidade que às vezes acontece mesmo”, reflete.

Foi também dessa forma natural que ele pensou nas participações para esse trabalho. “Cada participação que tem no álbum eu não chamei porque fulano está fazendo sucesso, chamei porque achei que combinava com a pessoa ali naquele momento”, diz ele, que colaborou com artistas como Maneva e Tati Portella nesse disco.

Outra participação importante de “Conexão” foi a de Isabeh, professor de canto de Viegas e vários outros artistas como Negra Li, Mano Brown e Thiaguinho, que gravou sua parte à distância e pelo celular. Para Viegas, a qualidade do som era importante, mas ainda que não tivesse os equipamentos mais aconselháveis, a participação do antigo professor acabou sendo uma das mais significativas e ainda rendeu uma história para o cantor que agora sempre faz questão de falar “sabia que ele gravou isso com o celular?”.

Com o álbum já disponível em todas as plataformas e sendo bem recebido pelo público, Viegas fala que o plano agora é fazer shows. Com saudade dos palcos, ele está ansioso para voltar, mas as apresentações ainda estão sendo pensadas, pois com um  álbum intitulado “Conexão”, ele também quer que a sua performance de conecte de alguma forma com as músicas, o lugar e o público. “O que que vai fazer você ir no show do Viegas e falar: ‘mano, o show do Viegas foi demais’? É isso que eu estou buscando e que eu quero propor para as pessoas”, conta ele, sobre o que o público pode esperar.

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