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Mostra “Psicodemia”, de Antoine d’Agata, revela sensíveis retratos da pandemia

Foto: Magnum Photos

Um momento histórico. Uma das maiores crises sanitárias da humanidade. Um desafio à capacidade mundial de acolhimento. Um olhar sensível para os que precisam de atenção na tentativa de entender o que se passa. Assim pode ser anunciada a série fotográfica “Psicodemia”, produzida pelo artista e fotógrafo francês Antoine d’Agata, que pode ser vista de 3 de maio a 26 de junho na Galeria Lume e de 1º de maio a 1º de julho na Praça das Artes, em São Paulo.

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Em sua produção fotográfica, d’Agata costuma revelar um olhar visceral em relação às mais diversas situações humanas ao redor do globo. Em “Psicodemia”, o foco foi o dia a dia da pandemia de coronavírus e os desdobramentos entre os mais vulneráveis, particularmente os acamados e a população de rua, com fotografias feitas na França e no Brasil, nas cidades do Rio de Janeiro e em São Paulo.

 A ideia surgiu em 2020, logo no começo da pandemia, quando o fotógrafo começou a captar imagens em Paris, na intenção de observar as transformações da geografia social e urbana da cidade, como os espaços públicos cada vez mais desertos e desesperançosos. Na sequência, ele começou a visitar hospitais e centros de saúde, determinado a registrar como as pessoas estavam sendo afetadas e as consequências do estado de emergência.

Foto: Magnum Photos

Em 2021, esteve no Rio de Janeiro para registrar pacientes nas unidades de Covid-19 no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho e na Fiocruz. Em São Paulo, dedicou-se a registrar cenas de pessoas em situação de rua e a forma como a pandemia estava afetando essa população, captando de forma muito original e, até mesmo, cheia de ternura, momentos de extrema solidão.

Para o trabalho como um todo, d’Agata optou por usar uma câmera térmica, que o permite captar os contrastes entre as áreas de calor e frio em uma diversidade de tons que vão dos mais quentes, como o laranja e o vermelho, onde há calor e portanto vida, aos mais frios, como o azul e o violeta, onde não há ninguém ou quando a vida cessa. Fotografando pessoas em situação de cuidado ou mesmo abandono, é como se ele mapeasse algo em seu interior, sua insegurança, seus desconfortos, sua esperança e a vida ainda existente dentro de cada um, sem revelar as identidades dos fotografados, já que essa técnica mostra apenas suas silhuetas.

“Essa palavra, ‘psicodemia’, evoca, sugere, intriga, parece dizer algo enquanto tentamos encontrar seu sentido. O desafio da exposição e do livro homônimo que a acompanha é justamente o de interpretar, sem preconceitos nem certezas, o acontecimento que vivemos”, diz d’Agata.

 Realizada por Fábio Furtado, Roberta Saraiva Coutinho e Rodrigo Villela, a exposição conta com 40 imagens impressas em grande formato na área externa da Praça das Artes e outras 20 obras com impressão especial na galeria Lume, também em São Paulo, permitindo que o público aprecie pela primeira vez as imagens produzidas no Brasil, entre novembro de 2021 a fevereiro de 2022, além de algumas entre as mais icônicas feitas na França.

Foto: Magnum Photos

“Mais do que representar o horror da crise sanitária, acredito que o trabalho constante e obsessivo de d’Agata nesses dois anos e meio de pandemia nos devolve algo que ainda não conseguimos definir nem elaborar completamente. Luto, angústia, a necessidade do outro, carinho – a lista é imensa, como todos sabemos. É algo que nos transformou e cujas consequências ainda não conhecemos direito. E é um pouco dessa possibilidade de elaboração o que d’Agata também nos oferece. Talvez por isso, ao olhar para as imagens e pensar nesse trabalho, tenho sempre a vontade de dizer, ‘obrigado’”, afirma Furtado.

Para Andrea Caruso, diretora geral do Theatro Municipal, levar as obras para a Praça das Artes é de suma importância para expor ao público uma realidade diferente daquela que, possivelmente, eles viveram durante a pandemia do coronavírus. “Acredito que o trabalho feito pelo d’Agata demonstra, por meio da fotografia, justamente tudo aquilo que as pessoas estavam vivendo, todas as angústias e a superação do ser humano ao enfrentar diferentes tipos de situações”.

“É uma honra abrir as portas da Lume para uma exposição tão importante e impactante como a do Antoine d’Agata, com uma série de obras bem alinhada ao nosso propósito de dar destaque a inovações nas artes plásticas e fomentar reflexões sobre questões relevantes. ‘Psicodemia’ aborda com leveza e alta qualidade artística um tema muito atual, um sensível registro histórico deste momento em que vivemos”, declara Victoria Zuffo, diretora da Galeria Lume.

Foto: Magnum Photos

 O Parque Lage, no Rio de Janeiro, também contará com uma mostra com fotografias de d’Agata, com curadoria do próprio artista, que já está em cartaz. As experiências vividas pelo artista ao longo dos dois anos de pandemia também são contadas nos livros “Vírus” (2020) e “Psychodemie” (2022), este já com uma sessão dedicada às imagens produzidas no Brasil.

Galeria Lume – R. Gumercindo Saraiva, 54,  Jardim Europa, São Paulo.

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